Os cidadãos com passaporte português vão beneficiar, a partir de meados de outubro, de isenção de visto unilateral até 15 dias. Em causa está uma política experimental de Pequim anunciada no dia 30 de setembro, que integra igualmente a Grécia, Chipre e Eslovénia numa lista de 18 países europeus. O escopo da isenção de visto, adotado para estimular o turismo internacional e o investimento estrangeiro, exclui os estrangeiros que se desloquem ao país na qualidade de jornalistas. Ao Jornal Económico (JE), o ministro da Economia, Pedro Reis, olha para o tão aguardado anúncio como um “instrumento muito importante para a cooperação económica”. Em abril, no Fórum Macau, o governante já havia assinalado a ambição de Portugal ser incluído no grupo. “Esta possibilidade é muito importante para as empresas e respetivas viagens de negócios, contribuindo para a internacionalização e o crescimento da nossa economia”, acrescentou. O secretário-geral da Câmara de Comércio luso-chinesa, Bernardo Mendia, classifica a medida como “muito positiva”. “Se vai ter um impacto direto, já tenho maiores dúvidas”, afirmou. O também membro fundador do think tank Amigos da Nova Rota da Seda recorda a morosidade do processo de obtenção de visto em termos de documentação, os custos associados e a necessidade de deslocação ao centro de vistos em Lisboa para finalização do pedido por parte dos empresários. “Naturalmente, isto é um grande incentivo para todos os empresários portugueses que pretendem fazer negócios com a China. De um dia para o outro, de facto, não terem necessidade de obter visto é muito bom”, acrescentou. Convidado a fazer uma leitura sobre a demora na inclusão de Portugal na lista, Bernardo Mendia foi perentório. “Não obtivemos antes este tipo de tratamento, que seria natural para um país com a relação que Portugal e a China têm, com mais de cinco séculos, provavelmente devido à limitação da operação de fornecedores 5G de origem chinesa. Não vejo outra razão”, explica em declarações ao JE. Em contraste, o embaixador português em Pequim, Paulo Nascimento, afirmou, em abril, “não entender” o critério que levou as autoridades chinesas a excluir Portugal. “Não acredito que haja aqui discriminação negativa, no sentido de dizer que a China está a fazer isso para sinalizar alguma coisa a Portugal, não acho que seja esse o caso”, defendeu. À margem do anúncio de 30 de abril, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, deixou um convite à reciprocidade. “Neste espírito, encorajamos os países em questão a oferecer mais medidas de facilitação de vistos aos cidadãos chineses”, disse Lin Jian. A política de isenção de vistos surge em resposta à queda de 80% do investimento direto estrangeiro no país no ano passado face a 2022 e à redução de 60% do número de visitantes no ano passado, em comparação com 2019, antes da pandemia. A abordagem de Pequim está a surtir efeitos, com o sector do turismo da China a recuperar significativamente no primeiro semestre de 2024. De acordo com dados oficiais, as viagens de entrada no país cresceram 152,7% ao ano, representando 14,64 milhões de viagens feitas por estrangeiros no primeiro semestre de 2024. Desse total, 8,54 milhões de viagens foram efetuadas por cidadãos que viajaram sem visto.
Isenção de vistos puxa pela cooperação económica com China
Economia : Numa demora associada à proibição do uso de equipamentos de 5G proveniente dos fornecedores chineses, Portugal passa a estar abrangido, por fim, pela política de isenção de vistos da China.
