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Inventor de guerras e obreiros do fim do apartheid entre as maiores perdas

Colin Powell (e o seu colega de administração Donald Rumsfeld) e Frederik Willem de Klerk (tal como Desmond Tutu) deixaram o mundo num ano tremendamente predador para antigos líderes políticos nas mais diversas geografias.

A morte assenhorou-se de muitos homens e mulheres de destaque ao longo de 2021. Colin Powell, desaparecido ao 18 de outubro depois de contrair Covid-19 e o ex-super-gestor Bernard Madoff, que morreu a 14 de abril, não passaram pela redenção. Powell não se viu livre de ter sido um dos inventores das armas químicas que foram o motivo da invasão do Iraque pelos Estados Unidos em 2003 e que afinal, como o próprio sabia, não existiam. Ironias destes destinos, uns meses antes, a 29 de junho, desaparecia Donald Rumsfeld (88 anos), ex-secretário da Defesa dos Estados Unidos, implicado na mesma trapalhada criada pela administração de George W. Bush.

Madoff, morto por causas naturais, caiu em desgraça depois de ter sido descoberta a dimensão do buraco financeiro envolvido no seu esquema de pirâmide: 65 mil milhões de dólares. O suicídio de um dos filhos deste príncipe dos ladrões como efeito colateral da humilhação familiar impediu qualquer redenção.

Príncipe na verdadeira acessão da palavra, consorte de Isabel II de Inglaterra e com sorte na vida, Filipe Mountbatten, desaparecido a 9 de abril por problemas cardíacos, aos 99 anos de idade, deixou fortes saudades aos britânicos em geral e a uma britânica em particular – a própria Isabel II.

O ano não foi bom para um número não despiciendo de políticos ou ex-políticos. A 14 de fevereiro desaparecia Carlos Menem (90 anos), ex-presidente da Argentina; a 19 do mês seguinte, desapareceu Walter Mondale (93 anos), ex-vice-presidente dos Estados Unidos; no dia seguinte, morreu Idriss Déby (68 anos), presidente em exercício do Chade, em circunstâncias quase ‘medievais’: foi ferido num tiroteio quando comandava uma operação do exército no combate a rebeldes da Frente pela Alternância e Concórdia no Chade e não resistiu.

De forma igualmente violenta, desaparecia, em 7 de junho, Jovenel Moïse (53 anos), presidente em exercício do Haiti, assassinado por mercenários que tomaram de assalto a sua residência a meio da noite. A 17 de setembro, morreu Abdelaziz Bouteflika (84 anos), ex-presidente da Argélia. Pouco depois, a 11 de novembro, os sul-africanos (espera-se que tanto os brancos como os negros) despediram-se chorosos de Frederik Willem de Klerk (85 anos), o ex-presidente que negociou com Nelson Mandela o fim do regime política segregacionista apartheid. Ligado ao mesmo processo, desaparecia a 26 deste mês (aos 90 anos) o bispo anglicano Desmond Tutu, inesquecível na sua dimensão.

Do lado dos empresários, o ano foi mais ‘calmo’. No primeiro mês de ano, a 11, desaparecia Sheldon Adelson (87 anos), magnata de Las Vegas; o seu corpo viajou dos Estados Unidos para Israel, onde foi sepultado. A 23 desse mês, morria Max Mosley (81 anos), um dos mais influentes empresários do estranho mundo da Fórmula 1 e no não menos estranho mundo das orgias. Estranho era também o mundo do britânico John McAfee (75 anos), empresário de software, que em 23 de junho se suicidou numa cadeia de Barcelona. A 31 de outubro desaparecia Bernard Tapie (78 anos), ex-dono da Adidas e do Olympique de Marselha, ex-ministro de Miterrand e especialista na recuperação de empresas falidas. Clive Sinclair (81 anos), empresário do sector informático e inventor do ZX Spectrum, morreu em 16 de setembro.

As letras e os espetáculos foram felizmente contribuintes menores. A 5 de fevereiro partiu Christopher Plummer (91 anos), eternizado por “Música noCoração”. Bem próximo dos portugueses, morreu a 12 de agosto o brasileiro Tarcísio Meira (85 anos). E que dizer de Jean-Paul Belmondo (88 anos), que desapareceu a 6 de setembro, um dos atores mais influentes de sempre e um ‘arranca corações’ dos tempos em que o mundo civilizado ainda não falava inglês?

Nas artes, registou-se a morte, a 26 de novembro, do compositor Stephen Sondheim (91 anos), e das escritoras Almudena Grandes (61 anos), no dia seguinte, espanhola, e, a 11 de dezembro, da norte-americana Anne Rice (80 anos), cujo título mais famoso é “Entrevista com o Vampiro”.

Outros nomes sonantes perderam a vida em 2021. O entrevistador norte-americano Larry King (87 anos), morreu a 23 de janeiro. A 28 de abril desapareceu o seu compatriota astronauta Michael Collins (90 anos). A 15 de agosto morria o ex-futebolista alemão Gerd Muller (75 anos). E, a 30 de outubro Basílio do Nascimento (71 anos), bispo de Díli.

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