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Inflação na zona euro em máximos de 30 anos

A nova variante da Covid-19 já começou a condicionar a economia europeia e poderá contribuir para uma inflação ainda mais persistente.

A última leitura da inflação na zona euro, referente ao mês de novembro, aponta para máximos de 1991, com este indicador a atingir os 4,9%, segundo a estimativa rápida do Eurostat conhecida esta semana. Apesar de Portugal se manter como uma das economias da moeda única onde a pressão nos preços é menos intensa, é expectável que a subida dos custos da energia acabe por se fazer sentir no país, enquanto as instituições europeias terão de monitorizar este fenómeno atentamente.

A abrupta interrupção da atividade económica implicou o adiamento de partes consideráveis dos consumos intermédios de vários sectores e do consumo final das famílias, o que se traduziu, aquando do levantamento das restrições pandémicas, num pico de procura para o qual os mercados não estavam preparados para responder. Este foi um dos principais motores da atual subida generalizada de preços nos países mais desenvolvidos, o que levou à avaliação inicial por parte dos bancos centrais de que o fenómeno seria transitório.

No entanto, e mesmo contabilizando os fortes efeitos base que agravaram este indicador, a elevada inflação mantém-se, mostrando mesmo uma tendência de subida que continua sem abrandar. Para Pedro Lino, economista e diretor executivo da DIF Broker, esta pressão não será temporária, dada a transformação que a economia global está a sofrer.

“Não acho que a inflação superior a 2% seja transitória. Devemos ter em atenção que estamos num processo transformativo da economia, o que é uma fonte de pressão sobre os preços, uma vez que envolve a adoção de novas tecnologias e hábitos para que o mundo se torne sustentável a longo prazo”, refere, lembrando que “a adoção dos critérios de ESG (ambientais, de sustentabilidade e governança) ou de sustentabilidade exige recursos, custos de adaptação ou de research que, no fim, acabam por ser repercutidos no consumidor”.

Assim, a previsão de Pedro Lino é que “a inflação diminua a partir do fim do primeiro trimestre de 2022”, identificando, até lá, um “efeito de contágio por toda a cadeia de produção do aumento dos custos de energia que assistimos ao longo de 2021” a que acrescem “os constrangimentos na produção de bens e o retrocesso no processo de globalização de bens”. Por outro lado, a subida recente de preços traduziu-se, para a generalidade da população, numa perda de poder de compra durante este ano, o que aumenta a expectativa por subidas remuneratórias que compensem este efeito. No entanto, a atual política passa por “uma tentativa de conter aumentos salariais, à custa da retórica e gestão” dessas mesmas expectativas, ainda que esta tenha “um limite, como vimos pelas palavras recentes de Jerome Powell, que retirou a palavra ‘temporária’ do seu discurso, quando falou de inflação”, denota o responsável da DIF Broker. Na sua mais recente intervenção sobre este fenómeno, MárioCenteno, o governador do Banco de Portugal voltou a considerar o aumento “temporário, associado à recuperação da crise económica”.

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