Além dos alemães da Lufthansa, o Governo já reuniu com o grupo dono da British Airways e Iberia (IAG) e da KLM-Air France, as outras companhias europeias que têm manifestado interesse em "olhar" para a privatização da TAP, sabe o JE. Reuniões ocorreram nos dois últimos meses, tendo já sido ouvidos mais de cinco interessados na companhia aérea nacional, ainda antes dos ministros das Finanças e das Infraestruturas terem recebido nesta segunda-feira, 2 de setembro, o CEO da companhia alemã que se reuniu com Joaquim Miranda Sarmento e Miguel Pinto Luz para sinalizar o real interesse na TAP e conhecer as intenções do acionista público.
Segundo a imprensa italiana, a Lufthansa estará interessada em adquirir uma participação de 19,9% na TAP, mas não sinalizou qualquer percentagem de capital que deseja adquirir na reunião com o Governo português, que se realizou segunda-feira, 2 de setembro, para dar conta do seu interesse na privatização da companhia aérea portuguesa, cujo modelo de alienação e percentagem de capital que será colocada à venda ainda não estão definidos.
O encontro com o CEO da Lufthansa, Carsten Spohr, que foi realizado a pedido dos alemães, representa assim o tiro de partida para a operação de privatização da TAP, que chegou a ser projetada para arrancar ainda este ano, eventualmente em setembro, mas, segundo apurou o Jornal Económico (JE), o processo está muito atrasado e só deverá arrancar em 2025. Isto porque, segundo fontes governamentais, com a entrega do Orçamento do Estado em outubro e todo o processo negocial e da sua aprovação, o foco do Executivo estará centrado neste dossier durante o terceiro trimestre do ano.
A proposta, no âmbito da futura privatização da TAP, deve materializar-se “não antes do primeiro trimestre de 2025”, segundo o jornal italiano Corriere della Sera, confirmando uma notícia avançada esta sexta-feira pelo Jornal Económico. O Corriere della Sera avançou neste domingo o interesse da companhia de aviação alemã em adquirir 19,9% da TAP, numa primeira fase, e da reunião entre os ministros das Finanças e das Infraestruturas e o presidente executivo.
Carsten Spohr quis conhecer as intenções do acionista público e sinalizar o seu interesse na companhia portuguesa, por uma fatia de capital que, de acordo com o jornal italiano, poderá valer entre 180 e 200 milhões de euros e se fixa abaixo dos 20% para evitar a exigência de aprovação pela Comissão Europeia e avaliação da operação pela Direção Geral da Concorrência (DG Comp).
Sobre o encontro com o Executivo, os gabinetes de Miranda Sarmento e Miguel Pinto Luz rejeitaram fazer qualquer comentário. Mas o JE sabe que a fasquia de 19,9% do capital da TAP não foi referida na reunião, não tendo sido mencionada qualquer percentagem do capital por parte do CEO da Lufthansa, mas reforçado o seu interesse na transportadora aérea portuguesa para crescer no hemisfério sul (nas rotas para a América Latina e África e nas ligações para o Mediterrâneo). Com a Lufthansa não ficou agendada nova reunião.
Recorde-se que a Lufthansa fechou no dia 3 de julho um acordo para comprar 41% da ITA (antiga Alitalia), depois da autorização da Comissão Europeia, com remédios impostos para garantir a concorrência. A IAG, por outro lado, abandonou sua tentativa de adquirir a Air Europa devido à oposição dos reguladores. E na semana passada, a Air France-KLM concluiu a compra de uma participação na aérea Scandinavian Airlines, multinacional da Noruega, Suécia e Dinamarca.
Os três grandes grupos de aviação europeus – Air France-KLM, o grupo hispano-britânico IAG e a alemã Lufthansa – têm manifestado interesse na privatização, cujos vetores de decisão vão incidir na manutenção do hub em Lisboa e o encaixe financeiro, de acordo com os objetivos sinalizados para a venda da TAP por Miranda Sarmento em recente entrevista ao ‘Público’ e Rádio Renascença. Dos três grupos de aviação que já mostraram interesse na TAP, o IAG é o único que tem suscitado reservas ao Executivo face ao peso da Iberia na América do Sul e a proximidade do aeroporto de Madrid que são vistos como uma ameaça. Mas o grupo com sede em Londres já sinalizou estar disponível para assegurar a manutenção do hub e da conetividade da TAP.
Também o grupo aéreo Air France-KLM garantiu em abril que continua “muito interessado” na possibilidade de compra da TAP, no âmbito do projeto de reprivatização da companhia portuguesa, cujo processo foi aberto pelo anterior e acabou por ser suspenso após a demissão do primeiro-ministro, António Costa, e a convocação de eleições antecipadas para 10 de março, que deu a vitória à Aliança Democrática (PSD/CDS-PP e PPM).
No Programa de Governo, entregue na Assembleia da República, o executivo de Luís Montenegro comprometeu-se a “lançar o processo de privatização do capital social da TAP”, sem avançar mais detalhes, estando ainda por definir o seu modelo: o lançamento de um concurso público internacional e a venda direta com um procedimento competitivo. Esta última modalidade foi a opção do anterior Governo no processo lançado no ano passado coma venda de pelos menos 51%, mas a escolha mais provável do novo Executivo para retomar a privatização da companhia deverá ser o concurso público internacional, como já avançou o JE.
O primeiro passo na empresa que agora pertence diretamente ao Estado, uma vez que a Parpública detém apenas uma participação de 1%, é escolher os assessores financeiros e jurídicos. Da lista é quase certo que constará o Caixa BI, banco de investimento da Caixa Geral de Depósitos. Mas incluirá assessores financeiros internacionais, até porque esta é uma operação que deverá ser apresentada a companhias aéreas internacionais, apesar de poder haver um consórcio português a formar-se para participar na privatização da TAP, que será naturalmente minoritário.
Em maio, em entrevista ao jornal “Financial Times”, o presidente da TAP defendeu que o Estado deverá permanecer no capital da empresa na futura privatização e que gostaria de ver o negócio concluído até final de 2025. Luís Rodrigues revelou ainda que a operação deveria incluir investidores de outros sectores para mitigar as eventuais preocupações concorrenciais da Comissão Europeia, como aconteceu com a compra da ITA pela Lufthansa.
A percentagem a vender poderá ser inferior a 50%, para obter o acordo do principal partido da oposição, o PS, mas não está fechada a possibilidade de privatização de uma posição maioritária.
No segundo trimestre do corrente ano, a TAP alcançou lucros superiores a 72 milhões de euros, o que anulou os prejuízos registados nos primeiros três meses, permitindo-lhe terminar o semestre com lucros de 400 mil euros.