O HSBC, o maior banco da Europa em valor de ativos, decidiu avançar com uma reestruturação, numa altura em que tenta cortar custos perante um cenário de descida dos juros que impacta diretamente a margem do setor financeiro. A redução da estrutura não deverá, contudo, ficar por aqui. O mercado acredita que a instituição financeira liderada por Georges Elhedery vai ter de continuar a ‘apertar o cinto’ para responder à inversão da política monetária.
No âmbito desta reestruturação, anunciada esta terça-feira, o britânico HSBC vai fundir os seus negócios de banca comercial e de investimento, tendo também implementado uma nova estrutura de liderança. Isto pode “libertar todo o nosso potencial e impulsionar o sucesso para o futuro”, disse o presidente executivo do banco numa nota enviada aos colaboradores, citado pela “Reuters”. Neste âmbito, o responsável decidiu nomear Pam Kaur, então responsável pelo compliance e risco do banco, como administradora financeira. É a primeira mulher a ocupar este cargo na instituição financeira.
“A nova estrutura resultará numa organização mais simples, dinâmica e ágil, à medida que nos concentramos na execução das nossas prioridades estratégicas, que permanecem inalteradas. Ao fazer estas mudanças, podemos concentrar-nos melhor no reforço da liderança e da quota de mercado nas empresas que têm clara vantagem competitiva e maiores oportunidades de crescimento”, afirmou Georges Elhedery, num processo que divide o grupo em quatro linhas de negócio: Reino Unido, Hong Kong, banca empresarial e de investimento e gestão de fortunas.
Este passo é dado depois de o HSBC, que tem cerca de 214 mil colaboradores a nível global, ter tentado eliminar a sobreposição de cargos e mudado o seu foco para a Ásia, com o objetivo de cortar custos e impulsionar as receitas perante a descida das taxas de juro. O Banco Central Europeu (BCE), liderado por Christine Lagarde, iniciou o corte de juros no verão e tem estado, desde então, a reduzir as taxas. O banco central cortou pela terceira vez na reunião realizada este mês, com a taxa a cair para 3,25%.
“O corte de custos é o principal motivo destas alterações, tornando-se mais eficiente através da simplificação da estrutura”, afirma Susannah Streeter, da Hargreaves Lansdown, à “Reuters”. Como parte desta reestruturação, o HSBC anunciou ainda que vai diminuir o número de administradores executivos, de 18 para 12 membros. Também o responsável pela operação na Europa, Colin Bell, que chegou a ser considerado um potencial candidato ao cargo de CEO do banco, vai sair, bem como o responsável pelo Médio Oriente, Stephen Moss.
Outros analistas acreditam, porém, que o HSBC não vai ficar por aqui. O anúncio feito esta terça-feira “não muda o panorama geral”, afirma Ben Toms, analista da RBC Capital Markets, salientando que a “verdadeira questão que o mercado quer ver respondida é, uma vez que o banco quer cortar custos para compensar a pressão nas receitas, que partes do grupo vão ser reduzidas no futuro e quanto é que esta reestruturação vai custar ao banco”.
Questionado sobre o assunto, o HSBC não quis detalhar qual é a estimativa para a poupança de custos com esta reestruturação ou indicar quantos postos de trabalho poderão ser afetados. O grupo poderá dar mais detalhes quando apresentar os resultados trimestrais a 29 de outubro, numa altura em que arranca a época de resultados na Europa.
O mercado espera que os bancos mantenham os níveis de rentabilidade, com a atividade na banca de investimento a compensar a quebra na margem do lado dos créditos às famílias e empresas. Mas, como escreveu a “Reuters” esta semana, os investidores querem mais. Além de estarem atentos à qualidade dos ativos, e se esta se mantém resiliente, querem perceber qual é a estratégia em cima da mesa, se haverá uma redução dos custos e ainda sinais sobre uma deterioração do desempenho naquele que é um cenário de crescimento económico global mais fraco.
“As estimativas apontam que até 600 mil milhões de euros em margem financeira podem estar em risco na primeira metade de 2025, caso o BCE corte as taxas de juro como esperado”, afirma Filippo Maria Alloatti, da Credit at Federated Hermes, notando que as “equipas de gestão estão proativamente a adotar medidas”. Por outro lado, os analistas da McKinsey afirmam que os responsáveis dos bancos precisam de acelerar para conseguirem distinguir-se dos seus pares e aumentar o apetite dos investidores.