O número de declarações de falência de empresas da União Europeia (UE) disparou, entre abril e junho deste ano, para o nível mais elevado desde 2015 (ano em que o Eurostat deu início à recolha de dados), com uma subida de 8,4% relativamente ao trimestre anterior. Por outro lado, Portugal escapou a esta tendência, registando uma quebra de 2,8% no número de pedidos de empresas a pedir falência.
Trata-se do sexto aumento consecutivo, de acordo com o gabinete de estatísticas europeu, que dá conta de um aumento transversal a todos os sectores da economia no trimestre terminado em junho de 2023.
Por áreas de atividade, o alojamento e restauração registou a maior subida no número de pedidos, com 23,9%, seguido do sector dos transportes e armazenagem, cujos registos de pedidos de falência cresceram 15,2%. Por sua vez, o sector da educação, saúde e atividades sociais observou um aumento de 10,1% nos registos de falências.
"Verificou-se um aumento percentual expressivo. Contudo, resulta ainda de um movimento de regresso aos números de falências registadas no período pré- pandemia", explica Ricardo Carreira, economista, em declarações ao Jornal Económico.
Estabelecendo uma comparação com os números do quarto trimestre pré-pandémico de 2019, o número de declarações de falências no segundo trimestre de 2023 foi superior na maioria dos sectores da economia, com o alojamento e restauração a registar uma subida de 82,5% e os transportes e armazenagem um aumento de 56,7%; os sectores da indústria (-11,5%) e da construção (-2,7%) foram os únicos a registar uma tendência contrária em relação ao período pré-pandemia.
Segundo Ricardo Carreira, "os próximos trimestres serão importantes para perceber se este valor pode estar a ser impactado pela contração da atividade económica em alguns países da UE".
Apesar de ser "expectável o número de falências continuar uma trajetória crescente", o economista rejeita, ainda assim, grandes constrangimentos no mercado laboral.
"Não são esperados impactos significativos no mercado de trabalho a médio prazo, que continua com tendências positivas quer a nível do emprego como do crescimento dos salários", continuou o consultor de empresas, referindo-se à tendência de subida da taxa de emprego na zona euro, que registou um acréscimo de 1,5% no segundo trimestre deste ano face ao período homólogo de 2022, apesar de a um ritmo mais lento.
De acordo com o sistema de classificação padrão da indústria, o índice de falências da NACE mostra que Portugal é o quinto país com menos registos de pedidos de falência no segundo trimestre (41 pontos),
Questionado sobre a tendência de quebra verificada em Portugal no segundo trimestre, o economista aponta para a resiliência do tecido empresarial português.
"Desde 2016 que Portugal tem reduzido o número de falências e divergido da tendência de crescimento da UE, de forma mais relevante desde 2021. O tecido empresarial português apresenta-se mais resiliente, resultado do período de crescimento económico e, ao contrário de outros países da EU, os recentes desafios globais como a inflação, a disrupção das cadeias de abastecimento e a guerra na Ucrânia não resultaram num aumento do número de falências", explica Ricardo Carreira.
Por geografias, Malta (com zero), Chipre (20 pontos), Letónia (36,7 pontos), Roménia (39,4 pontos) e Portugal registaram o menor número de pedidos de falências. Em contraciclo, na lista de Estados-membros do bloco com o maior número de falências surgem Espanha (280,1 pontos), Eslováquia (274,8 pontos) e Hungria (246,8 pontos).
Sobre o registo de novas empresas na UE, o gabinete de estatísticas europeu dá conta de uma queda de 0,6% no segundo trimestre em relação ao anterior, quando o bloco registou um aumento de 2%. Segundo o Eurostat, desde 2023 que o número de registos de empresas tem sido superior ao observado entre 2015 e 2022.