A fábrica de cimento da Cimpor em Alhandra está a celebrar 130 anos e a modernizar-se para estar pronta para o próximo século - ou, pelo menos, para as próximas décadas de evolução. A cimenteira portuguesa assinou esta segunda-feira um contrato a dez anos (extensível) com a Vodafone Portugal para instalar uma rede privada de 5G “puro” nas várias unidades fabris.
A unidade de Alhandra, a fábrica de cimento mais antiga do mundo, é a primeira a ter uma MPN – Mobile Private Network de 5G StandAlone, mas seguir-se-ão as fábricas de Souselas e Loulé.
O presidente do conselho de administração da Cimpor caracterizou a multinacional portuguesa como uma “empresa com visão de futuro”, porque tem, “consistentemente”, adotado novas tecnologias ao longo dos anos. “A qualidade, para nós, sempre foi uma prioridade de forma a entregar aos nossos clientes um produto de confiança”, afirmou o chairman da Cimpor.
Este projeto vai ser expandido ao longo dos próximos meses anos, de forma a incluir outras componentes do negócio da Cimpor além do cimento. “É apenas o início”, garantiu Suat Çalbiyik, acrescentando que, apesar de operar em 14 países, Portugal sempre teve um papel importante na inovação e enalteceu o “potencial” da tecnologia 5G.
Num discurso de agradecimento à Cimpor pela “confiança” ao assinar este contrato com a Vodafone, o CEO da operadora de telecomunicações garantiu que as duas empresas vão continuar a desenvolver novos casos de uso (use cases). Os parceiros tecnológicos são a alemã SAP e a sueca Ericsson.
“É muito inovador especialmente numa indústria com mais de 100 anos. Dá-me realmente uma enorme satisfação testemunhar o resultado de tantas equipas de trabalho árduo em colaboração. Esta é realmente uma spring [mola impulsionadora] para fazer avançar a digitalização na indústria, uma vez que a adoção de redes 5G representa um novo capítulo. Muitas indústrias começaram mesmo a repensar a forma como operam”, comentou Luís Lopes, na cerimónia de assinatura do acordo, que se realizou esta manhã na sede da Cimpor, em Lisboa.
O diretor de Tecnologia da Cimpor apresentou as razões pelas quais a empresa sentiu necessidade de fazer este investimento, nomeadamente o facto de a indústria cimenteira não ser apenas intensiva em energia, mas também em dados e a recolha de dados disponíveis ser um desafio devido às condições físicas e operacionais.
Porém o Chief Technology Officer (CTO) considera que há “vários potenciais escondidos de eficiência, produtividade e sustentabilidade”, que têm requisitos de transmissão de dados a alta velocidade, sem cabos e de baixa latência (sensores sofisticados, computação de ponta, drones, streaming de vídeos em alta definição…).
Este avanço tecnológico permite obter revisões de qualidade do cimento fabricado com elevada precisão sem ser necessário esperar 28 dias, além de dar visibilidade total da planta, fazer previsões de processos e emissões ou manutenção ativa e prescritiva, de acordo com Berkan Fidan.
Para se ter uma noção mais precisa desta parceria, envolve cerca de 10 mil sensores em 19 fábricas em três continentes, 50 antenas, drones para medir níveis de stocks e câmaras térmicas com capacidade de monitorização em tempo real. A estratégia no longo prazo com a Vodafone passa ainda pela utilização de óculos inteligentes com funcionalidades de streaming em vídeo dentro das fábricas. O CTO reconheceu que, internamente, as fábricas têm alguns desafios de conectividade (Wi-Fi), daí ser preciso fazer um elevado investimento na rede móvel.