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Euronext apoia medidas de Maria Luís Albuquerque para impulsionar mercado de capitais

Grupo inaugurou novas instalações no Porto no mesmo dia em que a Comissária Europeia apresentou parte do plano União da Poupança e dos Investimentos. O CEO da Euronext, Stéphane Boujnah, está do lado da ex-ministra.

“Se querem que o Relatório Draghi seja cumprido, no mínimo é preciso que os incentivos à aplicação da poupança dos europeus nos instrumentos do Estado sejam os mesmo que aqueles que existem para os investimentos no mercado de capitais”. É desta forma que Stéphane Boujnah, CEO e Chairman da Euronext, se diz firme apoiante do esforço nesse sentido que está a ser conduzido pela portuguesa Maria Luís Albuquerque, Comissária Europeia para os Serviços Financeiros – que esta terça-feira apresentou a proposta da União Europeia para desenvolver essa vertente.

“Colocar dinheiro numa conta de investimento não deve ser mais difícil do que fazer um depósito numa conta poupança, e deve ser possível a partir de apenas dez euros”, disse a Comissária na conferência de imprensa em que apresentou iniciativas no âmbito da União da Poupança e dos Investimentos. A Comissão Europeia anunciou duas iniciativas para promover o sistema, criados no sentido de proporcionar benefícios tangíveis aos cidadãos da União. O pacote centra-se na melhoria da literacia financeira e num modelo para Contas de Poupança e Investimento (SIA), uma ferramenta que visa tornar o investimento mais simples e acessível a todos. Por trás destas opções está o facto de A Europa ter um elevado grau de poupança que, como diz Draghi, é sistematicamente canalizado para fora das suas fronteiras – em particular para os Estados Unidos - pelo simples facto de não haver na União ferramentas suficientemente aliciantes (ou seja, mais aliciantes que os depósitos a prazo e as emissões de obrigações soberanas) para induzir investimentos no mercado de capitais. Num cenário otimista, a Comissão diz que uma maior participação dos pequenos aforradores nos mercados de capitais possa acrescentar 1,2 mil milhões de euros no espaço de dez anos.

Para o CEO da Euronext - bolsa de valores europeia com sede nos Países Baixos e que opera os mercados em Amsterdão, Bruxelas, Lisboa, Dublin, Oslo e Paris – é necessário que os legisladores façam qualquer coisa para mudar o paradigma: “nos Estados Unidos, quem quer dinheiro para a velhice, compra ações; na Europa, espera que o sistema de pensões não desapareça”, disse. É neste contexto que a Euronext – que esta terça-feira inaugurou novas instalações na cidade do Porto num investimento imobiliário nunca antes lançado pelo grupo, mas cujo valor não é para tornar público – apoia as iniciativas de Maria Luís Albuquerque. Iniciativas que, disse, “são muito importantes para o aumento da integração dos mercados” ao nível da União Europeia.

Mas, salientou ainda, “parte da solução está nos Estados-membros”, que terão de fazer a sua parte”, retirando impedimentos regulatórios e promovendo a perceção de que o mercado de capitais é uma alternativa cada vez mais essencial para a poupança dos particulares e, do outro lado, para o financiamento das empresas – e, por sua via, da economia. O trabalho a fazer é ciclópico: como recordou o ministro da Economia e da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, também presente na inauguração, “nos Estados Unidos, 70% do financiamento das empresas dá-se por via do mercado de capitais; na Europa, 70% do financiamento das empresas é dívida bancária”.

Stéphane Boujnah, disse ainda que “Portugal integra a ambição europeia da Euronext desde 2002. Hoje, continuamos a ser a principal pool de liquidez para empresas portuguesas cotadas e celebramos este ano os 25 anos da Euronext. No Porto, desenvolvemos um centro de competências pós-negociação com a Euronext Securities, que integra uma plataforma comum a quatro países, oferecendo serviços mais eficientes”. “Temos beneficiado da elevada qualidade dos talentos portugueses e da energia da comunidade empresarial e académica, desenvolvendo uma confiança crescente no progresso social e económico do país”, referiu ainda, para salientar o papel central em todo o processo de vinda da Eurnext para Portugal desempenhado por Manuel Ferreira da Silva – ex-administrador do BPI e que acaba de ser eleito presidente do Conselho de Administração da Fundação de Serralves.

O CEO disse ainda que “desde 2017, adquirimos a Bolsa de Valores da Irlanda (2017), a Bolsa de Oslo (2019), a CSD da Dinamarca (2020) e o Grupo Bolsista de Itália (2021), entre outros desenvolvimentos. Em julho, a Euronext anunciou a intenção de expandir ainda mais o modelo federal do grupo para Atenas. A Euronext transformou-se na principal infraestrutura de mercado na Europa, formando a espinha dorsal de um mercado europeu mais consolidado e líquido. Finalmente, na semana passada, a 22 de setembro, passámos a integrar o Índice CAC 40, o principal índice francês”. O grupo tem 1.800 empresas cotadas e gere transações de 12 mil milhões de euros por dia.

Castro Almeida afirmou também - depois de elencar o que disse ser o excelente ambiente empresarial que o atual Governo soube construir – que “o grupo Euronext é, não só um meio privilegiado para que o universo empresarial português diversifique as suas fontes de financiamento, mas também um exemplo – e uma referência nacional – para a transformação empresarial baseada na inovação. O modelo da competitividade projetada pela inovação é o único que pode reter e atrair talento para Portugal. Este Centro Tecnológico e de Serviços da Euronext no Porto é um bom exemplo disso mesmo”.

Já Isabel Ucha, CEO Euronext Lisbon disse ainda no âmbito da inauguração do novo edifício – que se chama Farmácia, dado ali ter funcionado a Faculdade de Farmácia até ao ano de 1975, quando foi destruída por um incêndio – que está em contacto com o Governo, como esteve com o anterior, para promover todo e qualquer esforço que contribua para o aumento dos investimentos dos portugueses em veículo criados para o mercado de capitais. “Este investimento do grupo Euronext em Portugal e nos seus talentos, é apenas mais um dos benefícios de estarmos integrados neste grupo, líder na Europa. A integração da Bolsa Portuguesa no Grupo Euronext, há cerca de 20 anos, foi uma decisão estratégica para o mercado português. Ela constituiu, em paralelo com a adoção da moeda única, um fator decisivo para a internacionalização do mercado de capitais nacional, de atração de investimento estrangeiro e de consolidação do projeto europeu”.

A inauguração teve também o benefício de chamar a atenção de alguns candidatos à presidência da autarquia do Porto. Pelo menos o candidato do PSD, Pedro Duarte, e o independente Filipe Araújo, que chegou a ser tido como uma espécie de herdeiro de Rui Moreira.