No cenário de estalar uma guerra entre o Irão e Israel quanto é que os preços do petróleo iriam subir? Esta é a grande pergunta que tem sido feita nas últimas semanas nos mercados internacionais.
“A grande pergunta é o que acontece agora? Isto é o início de uma guerra direta entre Israel e o Irão e seus aliados, ou o ataque do Irão foi uma retaliação calibrada e bem telegrada? As implicações para os mercados petrolíferos seriam muito significantes”, refere uma nota da Rystad Energy citando o seu vice-presidente Jorge Leon.
A resposta de Israel permanece incerta, mas no pior cenário, a sua retaliação pode, potencialmente, provocar um “conflito regional sem precedentes”, com os prémios de risco geopolítico a aumentar significativamente. Se os EUAvierem a endurecer as sanções contra o Irão e reforçar a sua aplicação, também pode vir a pesar nos preços.
O barril de Brent negociava nos 87 dólares na tarde de quinta-feira, contrastando com os 90 dólares antes do ataque do Irão. Tinha atingido os 92 dólares na semana passada com os mercados a esperar uma retaliação do Irão ao ataque de Israel contra o seu consulado.
Já a OPEP+ tem em vigor cortes voluntários de produção até ao final de junho e vai debruçar-se sobre a sua continuação no encontro de 2 de junho, podendo antecipar o encontro se a tensão escalar.
Ocartel conta com uma capacidade adicional de seis milhões de barris diários e pode acioná-la se necessário. A Rystad dá três razões para esse cenário: preços mais altos de petróleo vão levar a uma escalada da inflação, com os bancos centrais a manterem taxas de juro elevadas, provocando um crescimento global mais fraco; o mundo é diferente face a 1973, quando houve a crise do petróleo. As alianças políticas mudaram e a OPEPnão quer repetir erros que provoquem uma longa crise energética; a OPEP tem provado sistematicamente que não é uma entidade política e que o seu papel é somente coordenar as políticas petrolíferas dos seus membros.
Por seu turno, o Goldman Sachs aponta que o preço atual do petróleo já reflete um prémio de risco entre os 5-10 dólares referente aos riscos ao abastecimento. No seu cenário base (sem disrupções adicionais), prevê que a OPEP+ vá começar a aumentar gradualmente a produção no terceiro trimestre. Se houver disrupções, a Arábia Saudita e os outros sete principais produtores da OPEP+ vão acelerar a produção.
Já Henrique Tomé da XTB aponta que “apesar dos preços do petróleo estarem a subir há três meses consecutivos, começa-se a ver algum abrandamento da tendência de alta, o que poderá ser resultado das expectativas do mercado sobre o conflito no Médio Oriente. Os investidores poderão estar otimistas na medida em que não esperam um agravamento das tensões entre Israel e o Irão, embora exista o risco de o conflito escalar rapidamente”, disse ao JornalEconómico. “Por isso, o futuro é bastante incerto tendo em conta os riscos geopolíticos e todos os impasses que temos vindo a observar de ambas as partes”, acrescenta.
O Eurasia Group, por seu turno, reviu em alta a sua previsão de preço para o segundo trimestre. “Os preços podem facilmente atingir os 100 dólares/barril se as coisas no Médio Oriente piorarem”, disse ao “Financial Times” Henning Gloystein.
Os analistas do banco HSBC mantiveram a sua previsão nos 82,5 dólares, enquanto o JPMorgan Chase e a Société Générale apontam para os 90 dólares.
Mas há dois fatores geopolíticos a ter em conta. A China é uma grande cliente de petróleo iraniano. Qualquer disrupção do estreito de Ormuz (por onde passa 20% do petróleo mundial diariamente) afetaria os cofres do regime iraniano. E os Estados Unidos vão a eleições este ano, e se há algo que os eleitores detestam são preços elevados na bomba. “Vão fazer o que for necessário para impedir os preços da gasoline de subirem”, apontou Hunter Kornfiend, analista da Rapidan Energy.
A Rystad considera que há o risco de os preços do gás natural e do gás natural liquefeito superarem os 100 dólares/MMBtu se o estreito de Ormuz for afetado retirando do mercado mundial o gás do Qatar e dos Emirados Árabes Unidos. O mercado mundial de gás já se encontra sob aperto devido à invasão da Ucrânia pela Rússia.