Seja qual for a avaliação política da nacionalização e – agora – do negócio de reprivatização da Efacec, a expectativa dentro de portas da empresa portuguesa é de grande otimismo. Para já, revelou ao JE uma fonte conhecedora do processo, a venda ao fundo industrial alemão Mutares terá como consequência imediata o desbloqueamento de uma alargada carteira de encomendas que está “prontinha a ser executada”.
A Efacec – que nunca teve um acionista com este perfil – tem vindo a perder dezenas de milhões de euros por ano em projetos não concretizados por a sua situação de dívida e tesouraria não lhe permitir fazer “Trade Finance”, ou seja não poder recorrer a instrumentos e produtos financeiro usados para facilitar operações e comércio internacionais. Instrumentos vitais para quem exporta.
E o que permite esse otimismo neste momento? Para começar, a grandeza da Mutares – um fundo industrial, não financeiro com um turnover anual de cerca de 6 mil milhões de euros – que tem participações em empresas de engenharia e tecnologia, como a espanhola Guascor Energy, que produz geradores, a austríaca Steyr Motors, mas também unidades da Arriva, no Norte da Europa.
Ou seja, não só a Mutares é vista como um “gigante” cotado na bolsa de Frankfurt, como tem um portfólio muito complementar com a própria atividade da Efacec, que não produz equipamentos de geração nem permutadores de calor, ou que pode aproveitar negócios dentro do “universo” Mutares.
No negócio feito entre a Mutares e o Governo, o Estado — que, tal como o JE noticiou oportunamente, injetou mais de 10 milhões por mês durante 20 meses, num total de 200 milhões de euros em suprimentos – vai assumir outros 166 milhões de euros adicionais. Já a Mutares entra com 15 milhões de euros em capital e outros 60 milhões emprestados.
Mas, graças as esse esforço que foi e será assumido pelos contribuintes, a Efacec fica agora com“um balanço sólido e praticamente sem dívida”, “uma condição que a empresa nunca teve”, sublinha a mesma fonte ao Jornal Económico.
Pelo que as dezenas de milhões de euros por ano que a empresa perdeu por não ter trade finance podem agora ser coisa do passado. Graças aos contratos “dentro de casa e prontos a avançar” – como por exemplo um projeto de várias dezenas de milhões com a RTE, uma espécie de REN francesa – e à possibilidade de concorrer a outros projetos até agora inalcançáveis, a expectativa dentro da Efacec é que “a empresa muito rapidamente vai chegar aos resultados operacionais positivos”.
Por outro lado, o contexto internacional é propício a um regresso da Efacec à operação plena. Os mercados em que a empresa portuguesa atua estão “ao rubro”, com a Europa – que não tem capacidade suficiente – em esforço para conseguir encontrar fornecedores europeus (ou pelo menos, alternativos aos fornecedores asiáticos).
Para este novo ciclo, a Efacec também já consolidou a sua nova administração. Ângelo Ramalho, CEO desde 2015, mantêm-se como administrador delegado, com Michael Barroso da Silva, Nuno Filipe Gonçalves da Silva, Fernando José Rabaça Vaz como vogais. Mas acima de todos ,como chairman, estará o alemão Christian Klingler, o diretor-geral da Mutares.
Segundo o jornal Eco, que avançou a composição da administração citando o portal de atos societários do Ministério da Justiça, Klinger está na Mutares “desde janeiro de 2017”, depois de “uma breve passagem, cerca de dois anos em cada um, pela Alvarez & Marsal e Eight Advisory”. No entanto, o gestor alemão fez “grande parte da sua carreira” na EY onde, segundo o Eco, “trabalhou em auditoria e depois em consultoria de transações”.