Skip to main content

Economistas pedem a Montenegro mais crescimento e mais habitação

O primeiro-ministro chamou ontem 12 economistas para colher contributos para o futuro do país. Entre académicos e gestores que estiveram em São Bento para discutir macroeconomia, alguns conselhos foram unânimes: é preciso mais ambição no crescimento económico, resolver o problema da habitação com mais oferta, e, para não colocar em risco os equilíbrios orçamentais, urge uma reforma do Estado que trave o aumento da despesa.

Sob o mote "Projetar Portugal" para colher contributos para o futuro do país na área da macroeconomia, o primeiro-ministro reuniu-se ontem com 12 economistas para debater desafios e políticas para o futuro do país. E alguns conselhos foram unânimes ao sinalizar a Montenegro a necessidade de mais ambição no crescimento económico, o que implica contratar mais mão-de-obra, o que só se consegue com mais habitação. Reforma da Administração Pública, desburocratizando e privilegiando o mérito, e a necessidade de manter os equilíbrios macroeconómicos, quer orçamental quer ao nível da dívida pública, foram outros dos conselhos transversais entre académicos e gestores que estiveram em São Bento.

Entre os convidados estiveram o presidente executivo da CGD, Paulo Macedo, e os antigos presidentes do IGCP Cristina Casalinho e João Moreira Rato, bem como Ricardo Reis, atualmente docente na London School of Economics (LSE), e o presidente da Associação Portuguesa de Bancos, Vítor Bento. Com antigos e atuais responsáveis do sector financeiro ao lado de Montenegro, a necessidade de literacia financeira foi também tema de conversa, disse ao JE um dos participantes, salientando ainda a mensagem unânime da importância do aumento da produtividade

Apesar do debate envolver personalidades de vários quadrantes do panorama económico, houve um consenso alargado entre os especialistas convocados pelo primeiro-ministro sobre os problemas estruturais do país e sobre as políticas que ajudariam a inverter a situação, revelou ao JE um dos participantes.

“Há consenso sobre o que há a fazer: mais crescimento, melhorar a produtividade e fazer um upgrade no turismo, com mais valor acrescentado”, avançou ao JE o mesmo economista, dando conta de que não se falou concretamente sobre medidas do Orçamento do Estado, já entregue no Parlamento, ainda que alguns académicos e gestores tenham defendido a necessidade de “mais ambição na redução do IRC, que pode ser alcançada com a redução de muitos benefícios fiscais que existem atualmente e são ineficazes”.

Outro economista destaca a tónica no crescimento económico que foi dada pelos participantes no encontro, salientando que tal “implica contratar mais pessoas, em muitos sectores dependente de mão-de-obra imigrante. E só se consegue ter mais pessoas no país se se conseguir reter o talento e com mais habitação”.  O problema da habitação não passou assim ao lado dos economistas, que são unânimes em apontar a solução: “é preciso mais oferta”.  O Governo de Montenegro recordou que já reprogramou o PRR para construir mais casas. O objetivo e ultrapassar as 26 mil casas previstas inicialmente no âmbito do PRR e chegar às 58.993 habitações.

Também a retenção de talento jovem foi transversal a todos os participantes, tendo o Governo recordado que a descida dos juros pode ajudar nesse objetivo, além das medidas já existentes como o IRS Jovem, implementado ainda pelo anterior Executivo e que o atual pretende reforçar, e os mais recentes benefícios como a isenção de IMT e Selo na compra de casa pelos jovens até aos 35 anos.

Já outro economista deu conta que foram salientadas “as oportunidades de financiamento através do PRR e PT2030, bem como oportunidades geopolíticas decorrentes da desglobalização, nomeadamente ao nível da captação de investimento direto estrangeiro (IDE)”.

O mesmo participante fala também da necessidade de reorganização da Administração Pública. “É preciso uma reforma no sentido de privilegiar mais o mérito, compensando-o, sem perder de vista a necessidade de manterem-se os equilíbrios macroeconómicos”, diz este economista que esteve no encontro, que é o segundo encontro no âmbito da iniciativa “Projetar Portugal – Conversas em São Bento sobre o Futuro do País”. Há quinze dias, Montenegro reuniu-se com personalidades destacadas na área da Cultura.

Ainda sobre a reforma da Administração Pública, outro académico diz que foi sinalizada a necessidade de desburocratizar, para ter menos pessoas a fazer o mesmo trabalho, o que pode ser alcançado com mais digitalização.

No grupo dos 12 especialistas em macroeconomia que foram convidados, estiveram ainda Joana Silva, que é economista no Banco Mundial e professora da Universidade Católica, António Nogueira Leite, antigo secretário de Estado do Tesouro e Finanças, administrador da HipogesIberia e professor da Universidade Nova de Lisboa, João Jalles, do ISEG, Óscar Afonso, diretor da Faculdade de Economia do Porto, e Susana Peralta, da Nova SBE.

À lista somam-se ainda Pedro Brinca, investigador associado na Nova SBE, e Isabel Horta Correira, doutorada e licenciada em Economia pela Universidade Católica Portuguesa e antiga diretora do departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal.