Pode-se dizer que não falta açúcar nas contas da Mars, que depois de uma pandemia com efeitos negativos na faturação, inverteu a tendência de queda e no ano passado superou a gigante Coca-Cola, ao aumentar em 50% as vendas para aproximadamente 45 mil milhões de dólares (44,3 mil milhões de euros). A proprietária de marcas de chocolate, guloseimas e comida para animais espera que as receitas em Portugal superem até os níveis-pandemia – e tudo por causa dos amigos de quatro patas.
“O recorde foi também em Portugal. Em 2020 sofremos, caímos cerca de 10% em relação a 2019, e no ano passado recuperámos 70% dessa queda, subimos 7% e agora em 2022 vamos fechar o ano com mais 15%, o que faz com que tenhamos superado em 10% o ano de 2019, que tinha sido o melhor dos últimos dez”, revelou o diretor da Mars em Portugal, em entrevista exclusiva ao Jornal Económico (JE). João Sagreira reconhece que “alguns dos efeitos” da redução do poder de compra dos portugueses devido à inflação já se sentem, porém mantém as previsões otimistas. “Os resultados são animadores, porque é o melhor ano que tivemos”, destaca o porta-voz da dona da M&M’s, Maltesers e Snickers.
João Sagreira tornou-se, em abril de 2020, responsável da Mars em Portugal, um mercado que pertence à Mars Iberia - grupo com mais de 40 anos, mil colaboradores entre os dois países hermanos e cinco unidades de negócio (Mars Iberia; Royal Canin, Cafosa, Anicura, e fábrica da Mars Petcare). É neste último segmento que se inserem as insígnias Pedigree e Whiskas, que hoje representam “mais de metade do valor da Mars”, segundo o gestor português.
“Mesmo nos lares que já tinham animais, nota-se um aumento [de animais de estimação em casa]. A pandemia foi um acelerador da adoção, e com ela verificou-se um aumento direto do mercado, mas a Mars aposta nesta área há vários anos, porque temos grande consumo e clínicas veterinárias, num serviço além de produtos para alimentação. Acreditamos que vai continuar a crescer”, esclarece João Sagreira ao JE.
Numa conversa a partir da Indonésia, o empresário – conhecido adepto de viagens – fala das discrepâncias entre geografias no que diz respeito ao consumo de chocolates e produtos de bem-estar animal. “Apesar de haver diferenças entre mercados, de categorias para categorias, no retalho assistimos cada vez mais a tendências globais e deverá manter-se. Há mais homogeneidade na Europa do que antigamente. Os hábitos dos consumidores alinharam-se com a facilidade de comunicação”, começa por explicar.
Contudo, há exemplos que Portugal poderia apreender com os Estados Unidos ou o Reino Unido. “Temos uma quota de mercado de 70% na indústria dos cuidados orais para animais, com a Dentastix, mas é um segmento que ainda tem muito espaço para crescer em Portugal. Há ainda uma evolução de penetração”, exemplifica o market head.
No que toca à inovação, a multinacional da família Mars está focada em relançar as marcas de gelado a nível nacional, que vê como um dos próximos pilares de crescimento, e continuar a apostar na renovação e reinvenção dos produtos, à semelhança do que sucedeu recentemente com o lançamento das tabletes de chocolate M&M’s, o palco de estreia da empresa na categoria de tabletes de chocolate no ano em que a M&M’s assinalava o seu 80º aniversário.
A Investigação e Desenvolvimento (I&D) é uma área na qual a Mars emprega cerca de 4 mil colaboradores. Aliás, a empresa vai lançar em breve um novo centro de I&D global, adjacente ao Centro de Inovação Global que tem na Goose Island, em Chicago.