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Do brasão nacional para as águas profundas de São Tomé

Viabilidade comercial avaliada pela Shell com novo furo Falcão-1. Resultados conhecidos primeiro trimestre de 2026.

A Shell deu início à campanha de perfuração do bloco 10 da Zona Económica Exclusiva (ZEE) de São Tomé e Príncipe, abrindo um novo capítulo na jornada de procura pela viabilidade comercial da exploração petrolífera no país. Os trabalhos no poço de exploração em águas profundas Falcão-1, em curso desde o dia 15 de outubro com o navio Stena DrillMAX, da Stena Drilling, têm início três anos após a primeira perfuração. “Não se fez uma descoberta comercial (em quantidades rentáveis), mas provou-se que existe petróleo na bacia”, recorda Álvaro Silva, diretor executivo da Agência Nacional de Petróleo (ANP-STP), em declarações ao JE.
Foi em outubro de 2022 que a ANP anunciou, terminada a atividade de prospeção do poço Jaca-1 no bloco seis - chegou a 5638 metros TVD (True Vertical Depth) -, a “existência de um sistema petrolífero ativo”.
Nesta altura, diz Álvaro Silva, que assumiu funções em janeiro de 2023, “a expectativa é que se tenha a sorte geológica suficiente para se fazer uma descoberta com caráter comercial, sabendo que se está numa bacia onde há petróleo”. As operações de prospeção da Shell no bloco 10, um dos cinco em que petrolífera britânica está presente, deverão ser concluídos “entre meados e finais de dezembro”, com os resultados a serem conhecidos, previsivelmente, no primeiro trimestre do próximo ano. “De acordo com a lei, o consórcio formado pela Shell, Petrobras e ANP têm 45 dias após o término do trabalho para anunciar o resultado”, disse Álvaro Silva.
As expectativas de produção de petróleo por São Tomé e Príncipe, altamente dependente de combustíveis minerais do exterior, continuam a marcar o debate público.
Nos 160 mil quilómetros quadrados da ZEE são-tomense, cuja dimensão perfaz cerca de 160 vezes a superfície terrestre daquele país insular, operam várias multinacionais, entre as quais Shell, Galp, Petrobras, Sonangol e TotalEnergies, além da ANP.
No caso da Galp, a petrolífera portuguesa integrou São Tomé e Príncipe na sua agenda em 2015. Recentemente, adquiriu uma participação de 27,5% no Bloco 4 no âmbito de um acordo de farm-in com a KE STP Company B.V., uma filial da Shell, detendo participações em três blocos de exploração offshore na Bacia do Rio Muni.
As dúvidas em torno da viabilidade económica da atividade têm frustrado as expectativas de transformação da economia são-tomense por via do setor petrolífero. Questionado sobre os valores por detrás das operações de perfuração, Álvaro Silva, nos quadros da ANP desde 2015, aponta para um intervalo de 80 a 130 milhões para um furo naquela zona. Em 2015, um relatório da Iniciativa para a Transparência das Indústrias Extrativas (EITI), à qual o país tinha aderido dois anos antes, concluiu que “quinze anos de exploração petrolífera resultaram em mais custos do que receitas”. Dez anos depois, as aspirações mantêm-se, e o furo Falcão, um dos protagonistas do Brasão de Armas de São Tomé e Príncipe, dá corpo a essas mesmas aspirações do país. O país retomou, há poucos meses, as atividades de implementação da EITI este ano.

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