Um autêntico take over. Em novembro de 2022, Portugal ocupou os ecrãs da Times Square em Nova Iorque com as paisagens portuguesas a ocuparem durante uma hora a emblemática praça da icónica cidade norte-americana. Na altura, o plano do Turismo de Portugal estava definido: promover o país no mercado norte-americano, numa ação com um alcance previsto de 500 milhões de pessoas em todo o mundo.
Quase três anos depois desta ação de marketing, e apesar da eficácia na promoção do destino, Lisboa (e o turismo português de uma forma geral) devem cancelar alguma campanha que esteja prevista para breve, seja na Times Square ou em qualquer outro ponto do globo, tendo em conta o acidente que envolveu o elevador da Glória e vitimou mortalmente 16 pessoas. O conselho é deixado por Daniel Sá, diretor-executivo do IPAM (escola de referência no marketing em Portugal) e especialista em marketing, em entrevista ao JE.
Em 2024, Lisboa recebeu 21 milhões de dormidas em estabelecimentos turísticos e receitas na ordem dos 2,1 mil milhões de euros, o que fez com que a capital se consolidasse como principal destino turístico do país, com um crescimento de 4% em relação a 2023. Já o país recebeu 29 milhões de turistas no mesmo período e de acordo com o INE, este número correspondeu a um aumento de 9,3% face a 2023.
Se é verdade que tem sido feito um esforço por parte do Turismo de Portugal para atingir estes números, Daniel Sá revela ao JE considera importante que haja serenidade por parte das equipas que trabalham as marcas turísticas mais valiosas: Portugal e Lisboa.
"Se faz sentido que as equipas responsáveis por comunicar Lisboa e Portugal reforcem a comunicação, promovam novas campanhas, redobrem esforços, aumentem investimento no imediato para reforçar que Lisboa é um ótimo destino e a apelar à vinda à capital? Diria que não faz sentido", começa por referir este especialista.
E porquê? "Porque se estaria a colocar Lisboa muito no radar. Enfatizar isso não tem sentido até porque o buzz que anda à volta da cidade não é positivo. Se estariam definidas campanhas, diria que ou se mantém a normalidade ou se cancela investimentos nesta área a curto prazo enquanto o tema está quente. Por exemplo, se há uma ação de marketing prevista para Times Square, é melhor não a fazer. Fora isso, é importante dar um ar de normalidade na cidade", garantiu.
Daniel Sá acredita que "acabou o tempo de antena da notícia a nível mundial, até porque vão surgir outras notícias no mundo que vão abafar o tema porque a globalidade tem destas coisas". Assim, o especialista deixa a dica: "Deve-se agir com autenticidade e transparência".
"Atração de turistas? Impacto será nulo"
O diretor-executivo do IPAM considera que as marcas Lisboa e Portugal são as mais impactadas com toda esta situação: "Estas duas marcas cruzam-se e misturam-se numa série de coisas mas as duas marcas têm atributos diferentes e diferentes especificidades. Apesar de tudo, e perante aquilo que aconteceu, o impacto é nas duas marcas, primeiro em Lisboa e depois em Portugal".
"Indiscutivelmente e por tudo o que vimos estes dias, porque a notícia dos acontecimentos deu a volta ao mundo, é impossível dizer que não há um impacto negativo nas duas marcas", defendeu Daniel Sá.
No entanto, naquela que é a lógica de atração de turistas, o especialista estima que este acidente "tenha um impacto reduzidíssimo ou perto do nulo". E justifica: "Trata-se de um acidente, de acordo com o que se sabe até agora. Seria diferente se estivéssemos perante um atentado terrorista, por exemplo e colocando as coisas num extremo. Nesse caso, poderíamos estar a falar de impactos de curto, médio e longo prazo. Por parte dos consumidores, um acidente é interpretado como aquilo que realmente é".
Assim, Daniel Sá não acredita que "canadianos, alemães, chineses, coreanos, entre outros turistas, deixem de considerar vindas a Lisboa e a Portugal porque há qualquer perceção de um estado total de insegurança. Considero que este é um efeito que vai terminar muito rápido, acreditando que vamos entrar na normalidade que sempre houve".
"Nada disto significa que o país é inseguro ou que Lisboa seja uma cidade com pouca segurança ou mesmo que Portugal seja subdesenvolvido ou que há um descuido total com este tipo de equipamentos. Infelizmente, acidentes com este tipo de equipamentos acontecem em muitos países desenvolvidos como Itália, Alemanha, Suíça", destaca.
Para o diretor-executivo do IPAM, o impacto deste acidente "foi muito explosivo e deu a volta ao mundo mas não me parece que cause danos significativos para as duas marcas turísticas, tanto Portugal como Lisboa".