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Cinema Monumental pode acolher investimento de sete milhões na educação

Pedro Santa Clara revela ao JE que quer abrir em 2024 um centro de tecnologias criativas TUMO em Lisboa e que a Merlin Properties, um dos mecenas, oferece o cinema Monumental, fechado há cinco anos, para instalação da escola. Porém a última palavra cabe ao ministro da Cultura, que terá de autorizar a desafetação do espaço com estatuto de sala de espetáculos.

Sem inquilino desde 2019, quando Paul Branco e a Medeia Filmes fecharam as portas por falta de viabilidade económica, o cinema Monumental, em Lisboa, poderá em breve sair da degradação em que se encontra, para acolher o segundo centro de tecnologias criativas TUMO do país. Pedro Santa Clara, que trouxe o projeto para Portugal, revela ao Jornal Económico que quer abrir na capital em 2024, justamente um ano depois de o ter feito em Coimbra. 

O investimento previsto, adianta, está em linha com o realizado na cidade dos estudantes: sete milhões de euros, contabilizando o edificado, os equipamentos e os quatro primeiros anos da operação, totalmente financiados por empresas e fundações. Em Coimbra, o centro de tecnologias está instalado num edifício cedido pela Altice Portugal.

 “Contamos com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa e com, pelo menos, já, três mecenas”, revela ao Jornal Económico o professor universitário de Finanças, que está a revolucionar o sistema de ensino e formação introduzindo em Portugal projetos inovadores, como a 42 Lisboa, escola digital de vanguarda, ou a 42 Porto, totalmente custeados por privados e com a mira apontada à inclusão e à formação de talento nas tecnologias digitais

No grupo dos mecenas confirmados para Lisboa figura a Merlin Properties. A empresa espanhola, dona do edifício modernista na Rotunda do Saldanha recentemente requalificado, propõe-se contribuir em espécie, disponibilizando o antigo espaço do cinema Monumental para acolher o centro TUMO, durante os primeiros oito anos de vida. 

Pedro Santa Clara agradece duplamente. O espaço, tal como a localização, junto à saída do Metro e servida pela Carris, são ótimos, salienta, além de que, numa cidade exposta à especulação imobiliária com preços muito pressionados, encontrar um espaço com as características exigidas por uma escola ameaçava tornar-se um pesadelo. “Precisamos de uma área, apesar de tudo, relativamente grande, que tenha um pé-direito alto, num edifício com alguma graça e, sobretudo, que tenha uma acessibilidade muito boa, dado que vamos ter, no mínimo, 1.500 alunos a irem lá duas vezes por semana, miúdos dos 12 aos 18 anos”, explica Pedro Santa Clara ao JE. 

Embora a importância pública do projeto seja irrefutável - uma escola gratuita e inclusiva -, existe a necessidade de autorização de desafetação do espaço por parte do Ministério da Cultura, uma vez que o seu uso está condicionado a sala de espetáculos. A Merlin Properties submeteu já o pedido, cabendo agora a última palavra ao ministro Pedro Adão e Silva.

“Temos a expectativa de que o ministro da Cultura reconheça o papel importante que esta escola pode ter no desenvolvimento de talentos que, entre outras coisas, vão beneficiar exatamente o cinema em Portugal”, justifica Pedro Santa Clara. 

O TUMO é um projeto educativo gratuito e complementar ao ensino formal e visa capacitar os jovens para tirarem partido dos desafios e oportunidades da sociedade do futuro. “No TUMO - explica Pedro Santa Clara - os alunos vão estar a aprender de uma forma muito inovadora áreas na fronteira entre a tecnologia e a criatividade, o que inclui especificamente fotografia, cinema, animação e música, que são fundamentais para o cinema”.

Fundado em 2011 na capital da Arménia, Erevan, o TUMO Center for Creative Technologies começou a expandir-se em 2018, tendo aberto portas na Alemanha, Suíça e França. Na cidade norte-americana de Los Angeles abrirá no próximo ano um mega TUMO para 15 mil alunos, em North Hollywood, onde se localizam os estúdios de cinema para os quais vai formar talento - essa é a aposta do estado da Califórnia que financia o projeto. Em Paris, a escola de tecnologia também foi financiado pela cidade e funciona no Forum des Images, instituição cultural dedicada ao cinema e a todas as formas de imagem. 

O primeiro TUMO em Portugal e na Península Ibérica abriu no passado 28 de setembro na cidade de Coimbra no edifício Correios, Telégrafos e Telefones, cedido pela Altice Portugal, que foi reabilitado e  equipado com tecnologia de ponta. Um milhar de jovens aderiu ao projeto.

 

O que se aprende e como se aprende no TUMO

Os centros TUMO podem ser frequentado por jovens dos 12 aos 18 anos. O programa funciona com sessões presenciais de duas horas, duas vezes por semana, abrangendo oito áreas de competências: Fotografia, Animação, Desenvolvimento de Jogos, Programação, Música, Design Gráfico, Cinema e Robótica.

A primeira fase é de exploração das várias áreas, após o que cada estudante escolhe as áreas que mais gosta e dá início ao seu percurso de aprendizagem, que é feito presencialmente no centro, ao seu próprio ritmo e colaborativamente com os colegas. O plano passa por várias etapas à medida que vai completando um conjunto de atividades modulares com níveis crescentes de dificuldade. Cada aluno é acompanhado ao longo de todo o seu percurso pela equipa educacional, que presta apoio constante e assegura o desenvolvimento de cada aluno e do seu potencial único.

Ao longo das várias etapas são realizados workshops práticos liderados por especialistas em cada área, e, no final, são organizados laboratórios avançados, multidisciplinares, com especialistas convidados que vão trabalhar com os alunos em projetos do mundo real. No final do percurso, cada jovem terá um portfólio com os trabalhos realizados, um registo individual das suas aprendizagens e realizações. E um trunfo mais para lutarem pela sua integração no mercado de trabalho com competências pedidas pelas empresas.