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China e Japão voltam a colidir na questão de Taiwan

O Japão costuma ser contido sobre a questão de Taiwan, mas a nova primeira-ministra quis abrir hostilidades. Pequim, talvez colhido de surpresa, foi particularmente duro na resposta e não deixa esmorecer a tensão.

Inesperadamente, a nova primeira-ministra do Japão, Sanae Takaichi, também líder do Partido Liberal Democrata, produziu declarações sobre Taiwan que tiveram como resultado envolver o país num contencioso com a China – que veio acrescentar um novo foco de tensão a uma região que não é conhecida pela cortesia entre as nações envolvidas. Takaichi desencadeou um incidente diplomático com Pequim ao afirmar no parlamento nipónico que um ataque chinês a Taiwan poderia constituir uma “situação de ameaça à sobrevivência” e desencadear uma resposta militar de Tóquio. Uma parte dos analistas foi surpreendida pelas declarações. Em primeiro lugar, porque, em termos geográficos, Taiwan não acrescenta nada à China no que diz respeito à sua proximidade ao arquipélago do Japão; e depois porque Tóquio tem preferido há décadas manter-se afastado do combate verbal que China e Estados Unidos travam – com a ‘intromissão’ sazonal da Nova Zelândia ou da Austrália – com epicentro em Taiwan. Neste contexto, alguma imprensa norte-americana explica as palavras de Takaichi como um alinhamento explícito com os Estados Unidos, numa fase em que o Japão, tal como muitas outras nações, se vê obrigado a misturar política nas negociações comerciais sobre as tarifas aduaneiras impostas pela administração Trump.
Em resposta às palavras da primeira-ministra, o regime de Pequim foi especialmente duro, o que de algum modo também surpreendeu os analistas. A China ameaçou que qualquer iniciativa militar japonesa redundaria numa derrota “arrasadora”. Mas Pequim não está isento de culpas na criação de situações potenciais de atrito com Tóquio. O governo chinês decidiu há semanas designar 25 de outubro como o dia de comemoração da libertação de Taiwan da ocupação japonesa há 80 anos e realizou eventos de grande envergadura nos meses anteriores para marcar o 80º aniversário da vitória da China contra a agressão japonesa na Segunda Guerra Mundial, de que constou um grande desfile militar a 3 de setembro último.
Tóquio apressou-se a convocar o embaixador chinês no Japão para protestar contra uma publicação online de um alto diplomata de Pequim, o cônsul-geral da China em Osaka, sobre Takaichi. O Ministério dos Negócios Estrangeiros japonês convocou o embaixador chinês para lhe transmitir que as declarações foram “extremamente inadequadas”. Xue Jian, o cônsul, arrisca ser expulso do Japão – mas Tóquio limitou-se, até agora, a pedir a Pequim que “tome as medidas apropriadas”, sem as especificar.

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