Foi uma vitória em toda a linha para a Alemanha e a Itália que obrigaram a Comissão Europeia a ceder nas suas metas para os motores a combustão a partir de 2035.
França e Espanha bem que defendiam que o fim de carros térmicos devia manter-se, mas a Comissão de Ursula von der Leyen cedeu à pressão de Berlim e Roma, mas também dos maiores fabricantes europeus.
O próprio chanceler alemão tinha defendido o fim da meta. "A realidade é que vão haver milhões de carros térmicos em todo o mundo em 2035, 2040 e 2050", segundo Friedrich Merz.
O também alemão líder do Partido Popular Europeu Manfred Weber também considerava que a decisão de banir os térmicos era um "sério erro de política industrial".
Já Madrid e Paris defendiam que o futuro da indústria europeia seria "elétrico" e que a meta "não deve ser questionada".
A legislação datada de 2023 ditava que a partir de 2035 as vendas de carros e de carrinhas na UE teriam de ser livres de emissões.
Já a Associação Europeia de Construtores Automóveis (ACEA) congratulou-se com a decisão. "A proposta reconhece a necessidade de mais flexibilidade e neutralidade tecnológica para fazer da transição verde um sucesso. É uma grande mudança comparada com a lei atual", disse o diretor-geral da ACEA Sigrid de Vries.
No entanto, considera que o "diabo está nos detalhes. Vamos agora estudar o pacote e trabalhar com os co-legisladores para reforçar fortemente as propostas onde for necessário".
A associação pediu mais "medidas decisivas para facilitar a transição", incluindo um alívio nas metas para ligeiros e carrinhos até 2030.
O que muda agora? A partir dessa data, os fabricantes precisam de reduzir em 90% as emissões dos novos veículos, com os restantes 10% a serem compensados através de biocombustíveis ou combustíveis sintéticos, ou através do uso de aço de baixo carbono nos veículos produzido na UE, segundo a proposta anunciada pela Comissão Europeia na terça-feira.
Desta forma, os veículos híbridos plug-in, híbridos elétricos, EREV (motor 100% elétrico alimentado por um pequeno motor a gasolina) ou veículos a combustão interna "ainda vão desempenhar um papel além de 2035", em conjunto com os 100% elétricos e veículos a hidrogénio.
Os fabricantes de automóveis vão também ter direito a 'super-créditos' para os pequenos carros elétricos, mais baratos, produzidos na UE. "Isto vai incentivar a chegada ao mercado de mais carros elétricos pequenos".
O pacote automóvel, no lado da oferta, revê assim as regras de CO2 para ligeiros e carrinhas; do lado da procura, propõe uma iniciativa para descarbonizar frotas de empresas com metas nacionais para veículos carbono zero ou baixas emissões.
"Inovação. Mobilidade limpa. Competitividade. Este ano, estas foram as nossas maiores prioridades nos nossos diálogos intensos com o setor automóvel, sociedade civil e partes interessadas E hoje, estamos a resolver todas. À medida que a tecnologia transforma rapidamente a mobilidade e a geopolítica altera a competição global, a Europa continua na frente da transição limpa global", disse hoje a presidente Ursula von der Leyen.
Qualquer alteração terá de ser apoiada pelos países da UE e pelo Parlamento Europeu antes de ser aprovada.
À medida que as marcas chinesas de carros elétricos apertaram o cerco à indústria automóvel europeia, marcas como a Volkswagen e a Stellantis tentaram aliviar as metas.
A revolução elétrica tem sido dominada por marcas exteriores à UE, como a americana Tesla ou a chinesa BYD.
As marcas europeias tentam arrepiar caminho, mas a procura não está lá ainda. Preços mais caros, falta de autonomia, rede de carregamentos insuficiente, todos estes fatores pesam na hora de comprar um veículo elétricos.
A pressão europeia sobre os carros chineses, com a imposição de tarifas, só vieram complicar num momento em que as marcas chinesas oferecem preços competitivos: Bruxelas quer apostar na mobilidade elétrica, mas impede os europeus de terem acesso a modelos mais competitivos? A bota não batia com a perdigota.