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Brindar a Espinosa em pleno vagar alentejano

Pelas bandas da Vidigueira, entre vinhas e oliveiras, há um segredo que talvez já não esteja assim tão bem guardado. E pelas melhores razões. Arte contemporânea, vinho e gastronomia seduzem pelo requinte e ousadia.

Não estamos em terras do quetzal. Essa ave trepadora da América Central, que morre quando privada de liberdade e por muitos considerada uma das mais belas do mundo pela exuberância das suas penas. O que aqui nos traz é outra “exuberância”, i.e., um centro de arte com propostas nada óbvias em Vila de Frades, a cerca de quatro quilómetros da pacata Vidigueira. E uma exposição que nos desafia a escutar o que vibra por baixo da superfície do visível. “Espinosa regressa à Vidigueira” pode ser vista até agosto de 2026, na Quinta do Quetzal, e parte da filosofia de um filho da terra.
Espinosa acreditava que as democracias falham quando o medo prevalece sobre a razão, quando a opinião pública é manipulada em vez de esclarecida. Para contrariar isso, ofereceu uma proposta discreta mas radical: que a liberdade duradoura não se constrói sobre a dominação ou o dogma, mas sim sobre a compreensão partilhada. Para termos um presente diferente do passado, insistia, é necessário estudar e compreender o passado. A pertinência do tema não podia ser maior para nos lembrar que o sentido crítico é um caminho a seguir. Em todos os tempos e, em particular, nos mais conturbados.
Que melhor ponto de partida para trazer Espinosa de volta à terra do seu pai? Miguel d’Espinosa, filho de um rico comerciante e natural da Vidigueira, onde a família viveu durante gerações antes de ser expulsa de Portugal pela intolerância religiosa. Instalou-se nos Países Baixos, em Amsterdão, cidade que viu nascer o filho, Bento Espinosa, ou Baruch Spinoza. Ojovem Bento estudou para ser rabi, mas acabou por abandonar a tradição religiosa familiar, seduzido pelas ideias de Descartes. É, por muitos, considerado o fundador do Iluminismo Radical, a corrente filosófica que lançou as bases das ideias modernas de democracia.
Mas o que tem isto a ver com a Quinta do Quetzal, criada há 20 anos por um casal de holandeses que se apaixonou pelo país e aceitou o repto de um amigo – holandês a viver na Vidigueira – para produzirem o seu próprio vinho nas suaves colinas da região? Outra paixão. Por arte contemporânea, que começaram a colecionar nos anos 90. E é aqui que entra em cena Aveline de Bruin, uma das filhas do casal, responsável pela organização da coleção de Bruin-Heijn, sediada nos Países Baixos, e pelo Centro de Arte Quetzal.

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