O Banco Central Europeu (BCE) deverá adiar novo corte das taxas de juros, mantendo-as intactas por mais umas semanas até à reunião de 12 de setembro.
Os mercados consideram muito improvável que hoje tenha lugar um corte. Mas há uma probabilidade de 80% de um segundo corte vir a ter lugar daqui a quase dois meses, com os mercados a darem como praticamente certo um terceiro corte em janeiro.
Apesar das preocupações demonstradas por vários membros do BCE, incluindo o economista-chefe Philip Lane, sobre a inflação pegajosa, o certo é que um novo corte deverá chegar dentro de semanas.
Até setembro, há mais do que tempo para o BCE ter mais dados sobre a inflação e com novas previsões em cima da mesa.
A inflação na zona euro ficou em 2,5% em junho, conforme era esperado, com a taxa homóloga a descer de 2,6% em maio para 2,5% em junho. Há um ano, a inflação homóloga atingia os 5,5%. Já o indicador core, que elimina as categorias mais voláteis como a energia e alimentação, manteve-se em linha com maio: 2,9%.
Por outro lado, o BCE também vai ter mais informação sobre as intenções da Reserva Federal norte-americana, sendo provável um corte também em setembro, com o arrefecimento da inflação.
Paris também se discute em Frankfurt
Outro dos temas da reunião em Frankfurt desta quinta-feira é a situação francesa. Paris está a ser escrutinada nos mercados perante preocupações sobre o seu défice orçamental e pelo facto de ter um Parlamento sem uma maioria absoluta, o que dificulta a governação. Ao mesmo tempo, ainda não foi nomeado um primeiro-ministro e não há governo empossado.
Na próxima semana, os ministros das Finanças da zona euro vão reunir-se em Bruxelas onde este tema também será discutido.
Investidores atentos
Este encontro "vai ser observado atentamente pelos investidores para afinarem as suas expetativas sobre o timing da próxima redução de taxas, apesar de ser quase certo de que as taxas ficarão inalteradas. Lagarde deverá dar pistas sobre um corte em setembro, sem se comprometer muito", disse David Powell, economista da "Bloomberg Economics".
Já os analistas do ING, apontam que as "comunicações do BCE indicam que as taxas vão muito provavelmente ficar intactas neste encontro, e no nosso cenário excluímos um corte surpresa. Alguns membros têm apoiado mais dois cortes este ano, e considerando os desenvolvimentos mais recentes e os riscos reputacionais de uma viragem para o modo falcão após um corte, um tom cauteloso e uma falta de forward guidance parece a escolha mais razoável (e provável) para o banco central este mês", segundo os analistas do banco neerlandês.
Por sua vez, o Goldman Sachs também espera que as taxas permaneçam inalteradas nesta reunião. Prevendo algum impacto na inflação decorrente das férias europeias de verão, os analistas do banco acreditam que o conselho do BCE volte a cortar os juros em setembro.
No entanto, esperam comentários de Christine Lagarde sobre a atividade económica, inflação e o outlook das políticas do BCE: "Esperamos que o Conselho reafirme a sua "abordagem dependente de dados e encontro-a-encontro" sem pré-compromissos".
O GS aponta que o crescimento "deverá ter ficado aquém do previsto em junho pelo BCE para o segundo trimestre, esperamos algum progresso sequencial no crescimento de salários, e vemos um apoio alargado a outro corte para ajustar o nível de restrições em resposta ao progressão da inflação cumulativa até agora".
O hiato de oito semanas de verão vai ser o mais longo desde a pandemia em 2020.
Já o BNP Paribas espera dois cortes em setembro e dezembro, para a taxa de depósitos atingir os 2,5% em 2025.
Por sua vez, os italianos do UniCredit acreditam que a inflação pegajosa, crescimento de salários e mercado laboral resiliente deverão manter as taxas restritivas por algum tempo: mais dois cortes em 2024, com quatro cortes em 2025, segundo a "Euronews".
Já os neerlandeses do ABN Amro apontam que Christine Lagarde deverá "deixar a porta aberta para um corte em setembro, mas com uma sinalização mais suave face ao que antecedeu o corte de junho", esperando também um corte em setembro desde que não haja surpresas nos dados da inflação e dos salários.