A semana em curso está a ser rica em eventos de política monetária, com o Banco de Inglaterra (BoE) a reunir esta quinta-feira no que se espera será uma reunião sem grandes novidades depois de a Reserva Federal também ter deixado tudo inalterado no dia anterior. O ciclo de aperto monetário nas principais economias ocidentais parece estar a acabar, dado o recuo da inflação, embora os responsáveis dos bancos centrais procurem deixar a porta aberta a novas subidas, até para esfriar projeções do mercado quanto a possíveis cortes nos juros.
Apesar de estar um passo atrás na luta contra a inflação quando comparando com os EUA ou a zona euro, o Reino Unido surpreendeu ao deixar tudo inalterado em setembro, fruto de uma decisão por apenas um voto de diferença. Entre os nove membros do comité de política monetária, cinco votaram a favor de se manter tudo na mesma, contrariando a expectativa de nova subida de 25 pontos base (p.b.).
Desde então, os dados macro não foram animadores, dando mais força à repetição da decisão de setembro. Os dados do PIB divulgados em julho foram revistos em baixa, as vendas a retalho estão em queda (algo particularmente preocupante à medida que se aproxima a época festiva) e os indicadores de confiança e atividade, nomeadamente os índices de gestores de compras (PMI), estão em terreno claramente de recessão.
Isso mesmo destaca a análise da Ebury. Tal como a maioria do mercado, a instituição não acredita em mexidas esta quinta-feira, argumentando que “seria difícil às pombas [membros mais conservadores] justificar uma mudança de postura a favor de uma subida” no atual contexto. Mais, um dos membros mais hawkish do BoE, Jon Cunliffe, deixou a autoridade monetária em setembro, pelo que a probabilidade de haver vozes dissonantes da maioria cai ainda mais.
Ainda assim, a inflação continua demasiado elevada, mantendo-se em 6,7% na leitura mais recente, ou seja, mais de três vezes acima do objetivo de médio prazo do banco, 2%. Na mesma linha, o indicador subjacente está em 6,1%, aumentando ainda mais o desconforto do BoE.
Como tal, o foco estará na comunicação do banco. À semelhança dos seus homólogos norte-americano e europeu, o governador do BoE tentará passar a mensagem de alerta e total dependência dos dados, frisando que a instituição estará pronta para agir caso seja necessário. No caso britânico, como sublinha a Ebury, a perceção do mercado quanto a possíveis cortes em breve é menos forte do que nos EUA e zona euro, embora esse seja um cenário que os membros do banco central quererão afastar, até pelos efeitos negativos que tem na cotação da libra.
No dia anterior, a Reserva Federal tinha agido em linha com o esperado e mantido tudo na mesma pela segunda reunião consecutiva, embora voltando a frisar a necessidade de monitorizar os efeitos cumulativos da subida dos juros. Com as taxas de referência em máximos de 22 anos, entre 5,25% e 5,5%, grande parte do caminho está já percorrido, embora o presidente Jerome Powell continue a frisar a necessidade de ver uma descida continuada do indicador de preços.
"A inflação continua bem acima do nosso objetivo de 2%", referiu o líder daquele organismo, na sequência da reunião sendo que ainda falta muito no que diz respeito ao "processo de trazer a inflação" até essa marca. Nesse sentido, a "procura" por profissionais, por parte das, "ainda excede o número de trabalhadores disponíveis", num sinal de que o sector empresarial dos EUA continua a resistir à política de subida dos juros.
Recorde-se que, na leitura mais recente, o índice de preços no consumidor registou uma variação homóloga de 3,7%, igual ao mês anterior e acima do mínimo deste ano de 3% registado em junho. O indicador de referência da Fed para a inflação, o índice de gastos pessoais de consumo (PCE, em inglês), manteve-se estável em 3,4% em setembro.