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Banca aperta critérios de concessão de crédito ao imobiliário

Perante o abrandamento da procura por crédito para a compra de casa, a banca está a apertar os critérios de concessão às empresas de construção e atividades imobiliárias. O sector alerta que isto é um travão ao aumento da oferta de habitação a preços acessíveis.

As taxas de juro do Banco Central Europeu (BCE) passaram, num curto espaço de tempo, de zero para 4,5%, naquele que foi um choque para as famílias que têm crédito à habitação e que cria entraves a quem procura um empréstimo para comprar casa. Num contexto de abrandamento da economia e de quebra no mercado imobiliário, a banca vai adotar uma postura mais cautelosa, apertando os critérios de concessão de financiamento, nomeadamente para as empresas do sector da construção de edifícios e atividades imobiliárias.

O mais recente “Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito”, do Banco de Portugal, revela que os bancos nacionais vão adotar, pelo menos na primeira metade deste ano, “critérios de concessão de crédito ligeiramente mais restritivos para empresas do sector da construção de edifícios e atividades imobiliárias”, apontando em particular o ramo comercial. Esta postura é assumida numa altura em que se observa uma “ligeira diminuição da procura de empréstimos para a aquisição de habitação” por parte dos particulares e uma quebra de dois dígitos na venda de casas no ano passado. 

Este aperto já está a ser sentido pelo sector imobiliário. “Temos sentido uma maior dificuldade no acesso ao financiamento”, começa por dizer ao Jornal Económico Hugo Santos Ferreira, notando que a “questão do acesso ao financiamento tem sido essencial, nomeadamente para a construção de mais habitação em grande escala e de habitação a custos mais baixos”. 

O presidente da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII) salienta que a “maior dificuldade no acesso ao financiamento, fruto do aumento das taxas de juro, tem sido um dos problemas com que os promotores imobiliários têm vindo a lidar precisamente para construir casas a preços mais acessíveis. É um problema que toca a todos neste sector e, em especial na promoção imobiliária”, frisando que os critérios mais apertados estão a aplicar-se tanto ao segmento comercial como residencial. “Diria que é generalista em todos os aspetos”, refere.

Os dados mais recentes do regulador, divulgados no início do ano, mostram que a taxa de juro média dos novos empréstimos às empresas aumentou de 5,89% em outubro para 5,94% em novembro. Este aumento foi justificado pelos novos empréstimos acima de um milhão de euros, cuja taxa de juro média subiu de 5,64% para 5,78%.

Neste período, o montante de novos empréstimos concedidos pelos bancos às empresas foi de 1.701 milhões de euros, mais 157 milhões do que no mês anterior. Ainda assim, assinala o Banco de Portugal no mais recente “Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito”, registou-se uma “ligeira diminuição da procura [por crédito], por parte das pequenas e médias empresas (PME) e das grandes empresas, sobretudo por empréstimos de longo prazo”. 

Menos projetos reduzem procura por crédito

Esta tendência de menor procura por financiamento junto da banca deverá manter-se na primeira metade do ano. O sector financeiro prevê que haja uma “ligeira diminuição da procura de empréstimos por empresas das indústrias transformadoras, designadamente indústrias intensivas em energia, e do sector da construção de edifícios e atividades imobiliárias, tanto comercial como residencial”. 

Esta diminuição da procura acontece num contexto em que há menos projetos em carteira. “Temos sentido um abrandamento na construção de novos empreendimentos nos últimos anos. Aliás, temos vindo a alertar para isso mesmo. Todos os anos e todas as décadas estamos a construir cada vez menos”, nota o presidente da APPII.

De acordo com Hugo Santos Ferreira, “os projetos tornam-se cada vez menos viáveis em Portugal devido ao aumento dos custos de contexto e de construção e do aumento dos preços”, indo contra a necessidade de haver “mais oferta e resolver o problema do acesso à habitação”. 

Além disso, conclui, o “último ano foi bastante intenso em matéria de produção legislativa, e muita dela nefasta ao sector, o que naturalmente afastou muitos promotores e investidores de Portugal e tem levado muitos projetos a ficar em stand by, a maioria deles para habitação”.