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80% dos PPR têm retorno inferior às comissões cobradas pelos gestores

A rentabilidade média anual dos Planos Poupança Reforma (PPR), na última década, foi de apenas 1,16%, mostra uma análise da Casa de Investimentos, revelando ainda que na grande maioria dos casos o retorno é inferior às comissões que são cobradas pelas entidades que gerem estes produtos de poupança.

A instabilidade vivida nos mercados financeiros em 2022 afetou não só as ações, que registaram quedas acentuadas, mas também as obrigações, naquele que era um cenário de subida das taxas de juro. Isto acabou por ter impacto na rentabilidade dos chamados Planos Poupança Reforma (PPR), tanto sob a forma de seguros como de fundos, com os últimos a registarem retornos negativos. Apesar de esta tendência já se ter invertido, a rentabilidade continua a ser baixa nestes produtos de poupança, com 80% dos PPR a apresentarem, na última década, um retorno inferior às comissões cobradas pelas entidades que os gerem.

Há dois anos, a rendibilidade média dos fundos PPR foi negativa em 11%, num período marcado pela guerra na Ucrânia, que veio intensificar a inflação, obrigando os bancos centrais nos EUA e na Europa a subir os juros para controlar os preços. Uma escalada das taxas que criou receios em torno de uma recessão económica, levando os mercados acionistas a registar quedas acentuadas. Enquanto o índice de referência europeu Stoxx 600 perdeu mais de 10%, o norte-americano caiu quase 20%.

Este cenário acabou por mudar, com os retornos a voltarem a terreno positivo. Entre o final de 2023 e os primeiros 10 meses deste ano, a rendibilidade média dos fundos PPR foi de 5,72%, de acordo com dados da Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios (APFIPP) disponibilizados ao Jornal Económico. Ainda assim, no conjunto dos últimos três anos, entre outubro de 2021 e outubro deste ano, a rendibilidade dos PPR é de apenas 0,27% e de pouco mais de 1% quando se analisam os últimos 10 anos, ficando na maioria dos casos abaixo das comissões que são cobradas pelos gestores.

“A rentabilidade média anual dos PPR na última década foi de apenas 1,16%”, baixando para 0,77% no caso dos PPR de capital garantido, de acordo com uma análise da Casa de Investimentos a esta indústria avaliada em mais de 22 mil milhões de euros. Para este estudo, considerou 2.683 transferências de PPR vindos de outras instituições financeiras entre janeiro de 2021 e setembro de 2024, tendo sido analisados mais de 140 produtos dos cerca de 160 que se encontram atualmente em comercialização.

Além disso, acrescenta a gestora, “80% dos PPR tiveram um retorno inferior às comissões cobradas pelas entidades que os gerem”, detalhando ainda que “770 destes PPR perderam dinheiro, ou seja, aquando da transferência, os clientes transferiram um valor inferior ao que investiram. Alguns destes estiveram investidos mais de duas décadas.” Emília Vieira, CEO da Casa de Investimentos, destaca que a “maior parte dos PPR estão investidos em ativos de taxa fixa, como obrigações ou papel comercial”, havendo vários estudos que demonstram que os “PPR tiveram rentabilidades muito baixas. A maior parte perdeu dinheiro para a inflação.”

Há fundos PPR que apresentam mesmo retornos negativos no conjunto dos últimos três anos. Os dados sobre as cinco piores rentabilidades, disponibilizados pela APFIPP, mostram que, entre as quebras mais acentuadas neste período, está o F.P. BBVA Estratégia Acumulação PPR - A, da BBVA Fundos, com um retorno negativo em 2,39%, seguido pelo F.I.M. GNB PPR/OICVM, da GNB - Gestão de Ativos (-2,34%), ambos na categoria de risco 4. Na categoria de risco abaixo, surgem o F.P. PPR Premium Aforro, gerido pela Futuro, empresa do Grupo Montepio, com um retorno negativo de 2,32%, assim como o F.I.M. BPI Reforma Investimento PPR/OICVM (-2,17%) e o F.I.M. Santander Poupança Prudente FPR (-2,01%).

“A fraca rentabilidade pode ser explicada por um cenário de taxas de juro baixas que limitou os retornos em ativos de taxa fixa”, mas também pelas “comissões demasiado elevadas cobradas pelas entidades gestoras destes produtos”, refere a responsável, concluindo que “é crucial que a escolha de investir num PPR seja informada e consciente”, pois, “se for bem investido, um PPR pode ser um excelente aliado da criação de riqueza a longo prazo”.

Os baixos retornos acabam por se refletir na procura por estes produtos de poupança. Os dados mais recentes disponibilizados pelo regulador dos seguros, a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões, revelam que o número total de subscrições de PPR recuou 4,8% em 2023, em comparação com o ano anterior. No ano passado, o volume total de prémios e contribuições para PPR também atingiu um mínimo histórico, de 1,7 mil milhões de euros, o que corresponde a uma descida de 18,8% face ao ano anterior.