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Vista Alegre investe 50 milhões em descarbonização nos próximos três anos

Exportadora por natureza (vende 70% da sua produção lá para fora), tem parcerias com marcas que ajudam a manter a sua notoriedade, como as garrafas para os conhaques da Rémy Martin (que vão passar a ostentar a marca Vista Alegre) e também o fabrico de produtos para a Ikea. No ano em que celebra 200 anos, vai dar o salto rumo à sustentabilidade. Estados Unidos, Espanha e França são as filiais mais fortes.

O grupo Vista Alegre vai investir entre 50 milhões a 60 milhões de euros nos próximos três anos para descarbonizar a sua produção.

A fabricante de marcas como a Vista Alegre, Bordallo Pinheiro ou Casa Alegre emitiu recentemente 60 milhões de euros com vista a financiar a descarbonização das suas seis unidades de produção.

Em conversa com o Jornal Económico, o administrador Teodorico Pais revela que a maior parte do investimento em descarbonização vai ter lugar nos próximos três anos, com 23 milhões a terem lugar este ano. No total, serão investidos entre 50-60 milhões até ao final de 2026 no esforços de descarbonização, com o valor a ficar “mais próximo” dos 50 milhões.

A companhia de Ílhavo, distrito de Aveiro, celebra 200 anos em 2024 e a aposta na descarbonização marca a entrada na sua nova vida. A emissão de dívida foi a primeira junto de clientes de retalho: a procura da emissão superou a oferta em 1,33 vezes.

A dívida foi colocada junto de mais de 2.300 investidores. A taxa de juro nominal bruta atinge 5,30% ao ano. As obrigações têm uma maturidade de cinco anos, com o reembolso a ter lugar em maio de 2029.

“Esta emissão tem dois objetivos: pagar parte da subscrição anterior que tivemos em 2019, e também ajudar a um roadmap, que é bastante ambicioso e que tem a ver com a descarbonização e e a redução das emissões carbónicas. O road map vai desde a eletrificação, painéis fotovoltaicos, até à adaptabilidade dos nossos processos tecnológicos a fornos a combustão que incorporam hidrogénio, e também biocombustíveis. E todo o processo de melhorar a eficiência energética através de recuperação de parte das emissões que temos, nomeadamente nos fornos, nas zonas de arrefecimento. Recuperamos esse calor para partes do processo que hoje não são tão eficientes”, disse ao Jornal Económico Teodorico Pais, administrador da Vista Alegre.

“Seis unidades industriais requerem um Capex muito forte e esta emissão vem também apoiar este momento em que é necessário um maior investimento neste processo de transformativo até 2028. Este ano vamos investir 23 milhões no grupo, e grande parte tem a ver com um programa de descarbonização, de eficiência e de transição energética. O nosso compromisso com o clima obriga-nos efetivamente a esta atualização tecnológica e melhoria dos processos. O maior esforço do ponto de vista de exigência financeira é agora nestes dois anos e meio, para as seis unidades. Há muitas medidas em curso e todas elas visam efetivamente reduzir as emissões carbónica de origem fóssil para a atmosfera”, de acordo com o gestor.

“Como transformadores e como líderes daquilo que é um universo de prestígio e de luxo dentro de casa, queremos passar uma mensagem forte e de compromisso com os nossos clientes, que são todos e com a nossa sociedade. O ano passado fizemos uma remodelação, uma transformação de uma das nossas fábricas e investimos pouco mais de 15 milhões. E mesmo assim já foi um investimento acrescido em relação àquilo que são os nossos níveis de Capex habitual”, afirmou.
 
Em 2023, os lucros do grupo subiram 22%, para 6,8 milhões de euros, com o EBITDA a crescer 2,6%, para 28 milhões, atingindo um recorde. Já as vendas recuaram 9,6%, para 130 milhões de euros, pressionadas pela queda de 20% nas vendas do segmento de grés, o que mais pesa no negócio.
 
A companhia exportou mais de 69% da sua produção, com França, Espanha, Alemanha, Itália, Brasil e EUA entre os principais destinos.
 
A Vista Alegre tem um projeto no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)…

Somos líderes de um PRR que tem como pilar a transição energética e que envolve todas as empresas da cadeia de valor ligadas ao conhecimento, centros tecnológicos e subsectores da cerâmica: desde o pavimento, revestimento sanitários, louça de mesa, indústria de barro vermelho. Temos também a Crisal metida dentro do processo e a Atlantis também. É um processo diferenciador porque obriga a uma cooperação e uma partilha entre diferentes subsetores nunca antes atingida. O grande mérito do PRR é que é um consórcio que nos obriga a partilhar boas práticas entre diferentes indústrias, mas todos com um fim comum, com centros tecnológicos, universidades, institutos a contribuírem para este processo transformativo. Vamos ter decerto um sector mais pujante, uma cadeia de valor mais forte, que envolve também fornecedores, porque a dinâmica deste sector empresarial vai catapultar novos players a entrarem e a tornarem mais atrativa a globalização desta indústria.

Quais os maiores concorrentes de Portugal neste sector?
 
Hoje Portugal tem de facto alguns indicadores interessantes dentro do que é, por exemplo, a exportação de grés de mesa. Somos o segundo maior exportador de grés de mesa à escala global. Primeiro, a China e nós somos o segundo maior exportador. Há efetivamente um cluster muito interessante que se está a desenvolver à volta deste sector da mesa e do grés em particular. E o pavimento, revestimento e os sanitários, embora colocados noutro nível, quinto/sexto em termos de ranking, têm uma posição muito interessante à escala global. É um sector que tem de estar na vanguarda.
 
Quais são os mercados onde pretendem entrar ou que querem reforçar a vossa presença?
 
Temos cinco filiais. O Brasil é uma das nossas filiais importantes. Os Estados Unidos, Espanha, a França são as nossas filiais mais fortes. E o México também é uma filial, embora mais pequena. Tirando a Europa, o Brasil e os Estados Unidos são efetivamente os mercados onde canalizamos mais recursos e mais estratégias de distribuição e de presença de marca, sempre muito alavancado pela marca própria, pela geração de valor no design e a ligação com artistas com notoriedade local tem-nos dado um impulso muito forte. A Bordallo Pinheiro é uma marca também com posicionamento artístico muito elevado e com características únicas, no caso da Vista Alegre, percebe-se o valor e o potencial da marca.
 
Os mercados asiáticos são uma aposta?
 
Sabendo que não podemos ir a todo o lado, os mercados asiáticos são interessantes, são importantes para nós, mas ainda não são aqueles mercados estratégicos para onde canalizamos mais recursos. Portanto, temos ido consubstanciando a nossa estratégia de internacionalização com focos em alguns mercados, porque não podemos ir a todas e porque queremos preservar a identidade e valor das marcas.
 
Porque estar nos mercados e entregar a outros a distribuição e a comunicação e a forma como chegamos ao cliente final é como se costuma dizer na gíria: é entregar o ouro ao bandido e às vezes não há bandidos. Há pessoas que não canalizam a energia necessária para saber levar a bom porto esta questão da marca.
 
E é por isso é que nós temos sido cautelosos na forma como entrámos para termos mais robustez e mais confiança de que não há danos na nossa imagem nem estratégias de pricing que são danosas para o posicionamento que pretendemos dar. Isso demora mais tempo e nós temos vindo gradualmente a consubstanciar a nossa estratégia como passos seguros.
 
Tem sido essa a grande motivação, porque com esta estratégia temos conseguido ter crescimentos consolidados e a alterando
a agulha para uma maior afinação, para os mercados, para os mercados não são todos iguais.

Referiu os crescimentos da Vista Alegre e da Casa Alegre…

Em 2023, tivemos um forte crescimento da marca. As nossas marcas cresceram quase 10%. 
Tivemos uma operação mais eficiente, mais eficaz e muito auxiliada pela estabilização dos custos de energia e das matérias-primas. O mercado de hotelaria teve um papel muito importante. Temos uma rede de distribuição também muito especializada e comerciais especializados só para esta área, porque de facto tem algumas especificidades e formas logísticas de chegar ao cliente diferentes do que o mercado de retalho. Agora diversificamos bastante a nossa opção multicanal com o online também a ajudar a Casa Alegre, que também tem vindo gradualmente a subir.
 
A Bordallo Pinheiro também tem dado um forte contributo, embora seja uma empresa pequena, mas tem uma notoriedade muito grande e ajuda a alavancar outras vendas em alguns mercados. A própria Bordallo ajuda-nos a introduzir a Vista Alegre porque tem uma identidade única. Todo aquele naturalismo das peças e aquela vivência, aquela vivacidade de cores, ajuda a criar diferenciação. E atrás disto, entramos com outros produtos.
 
O cristal vive muito na ligação com marcas de bebidas espirituosas de luxo. Estamos a falar dos melhores conhaques, whiskeys, runs do mundo, e isso tem ajudado a disseminar a Vosta Alegre. Como a Rémy Martin, que é um parceiro importante. E já é co-branded. Vai passar a ver conhaque Louis XIII em garrafas da Vista Alegre. É um exemplo, mas sem esconder também a importância dos mercados do private label. Exemplo, a nossa relação com a IKEA é muito forte. Temos um contrato muito forte com eles na área do grés de mesa e tem nos ajudado também a consolidar estes números.
 
Temos uma atuação multicanal. Temos dinamizado muito através de ações de criação e de ligação ao design e a artistas contemporâneos para puxar para a Vista Alegre, para a marca premium e de luxo.
 
A Bordallo é uma love brand: está na moda e tem uma identidade muito forte e que nos permite também ter uma relação com muitos artistas que gostam muito da marca e do legado e cria aqui uma interação muito interessante e num universo de cultura.
 
E depois desenvolvemos a Casa Alegre para um daily use. É um produto que ainda precisa ser mais comunicado, mais trabalhado e isto é um processo que demora algum tempo. Aqui utilizamos muito as plataformas digitais e, portanto, estamos claramente a transformar o nosso negócio aqui do daily use mais a servir uma estratégia de negócio usando estratégias digitais.
 
Depois o canal online também tem ajudado. Começou mais forte no período do Covid-19 e tem conseguido alavancar também as vendas.

E o hotel wear tem uma dinâmica muito forte. 
O ano passado foi das que cresceu mais e ajudou também a compensar um pouco a parte do private label, porque o private label com os stocks elevados de todos os players dentro dessa área e a inflação elevada com menor poder de compra dos consumidores, fizeram uma gestão mais eficiente dos programas.
 
Como esperam que corra este ano?
 
Dentro das instabilidades que os mercados visivelmente nos trouxeram desde o ano passado e que este semestre ainda estamos a viver, esperamos no segundo semestre já ter uma perspetiva mais animadora do próprio consumo, porque com a esperada redução das taxas de juro e a estabilização da inflação vai espoletar um ciclo económico mais otimista e com maior investimento.