Os espetáculos em Lisboa e Braga esgotaram na estreia mundial de “Adilson”. As ovações fizeram-se ouvir alto e bom som. A corrente de emoções – tantas – ligou intérpretes e público. Tangíveis e incómodas, umas. Outras, muitas, transbordantes de solidariedade e a vibrar nas cordas vocais. O manifesto desta ópera é cristalino e corta como uma faca bem afiada. Sem margem para fugas para a frente. E bem. “Há obras que nascem para entreter. E há outras que nascem porque não havia mais como calar. A ópera ADILSON é um corpo insurgente. Não é espetáculo: é exorcismo. Não é só música: é mapa. Não é só texto: é tambor batido na carne”.
Dino D’Santiago assina o manifesto que nos dá pistas sobre o desafio que a BoCA - Bienal de Artes Contemporâneas lhe fez. Criar uma ópera que cruza a história, a cultura e a identidade multicultural portuguesa. O resultado é uma “ópera criola” em cinco atos, dirigida por Dino D’Santiago, a partir do texto original “Serviço Estrangeiro”, de Rui Catalão, com direção musical de Martim Sousa Tavares. Vários murros no estômago, mensagem acutilante, sempre longe da raiva e do ódio. Sempre perto do coração e da vontade de construir um mundo onde todas as pessoas são tratadas como iguais, nas suas diferenças. Não é ingenuidade. É mesmo o caminho que temos de trilhar.
Uma ópera criola feita de histórias em carne viva
Nome de ópera e de pessoa. Tem rosto, corpo, sentimentos. Não é ficção. É plural. São muitos os ‘Adilsons’. Muitas vezes invisíveis aos olhos de quem não quer ver. Esperam. Esbarram contra burocracias. Exasperam. Dino D’Santiago, convidado a criar uma ópera criola, põe em palco essas histórias em carne viva. Num trabalho de equipa notável, com as emoções à flor da pele.
