Parece-lhe credível a teoria segundo a qual a crise iraniana tem apenas a ver com problemas económicos e sociais internos?
Os acontecimentos no Irão sugerem muito a interferência mais ou menos direta de atores externos no processo. Aliás, o porta-voz do AKP, Partido da Justiça e Desenvolvimento turco, veio dizer que identificam aquilo a que chamam poderes globais a interferir no Irão. O que o partido turco quer dizer é que os Estados Unidos têm interesse em causar alterações regionais de acordo com a sua própria visão. Há muitas opiniões que estão a colocar como força motriz das manifestações um apoio mais ou menos velado do estrangeiro, concretamente dos Estados Unidos, alinhados com a Arábia Saudita. Não se podem desconsiderar questões internas, há fatores que potenciam a estabilidade – o desemprego jovem, a corrupção, o aumento do financiamento aos clérigos e ao Islão – no entanto, na minha perspetiva, isso não é suficiente. Até porque com o primeiro-ministro anterior, Mahmoud Ahmadinejad, as coisas eram ainda piores. As manifestações até poderão ter tido origem nestas questões – principalmente económicas eventualmente religiosas – mas terão sido potenciadas por essas forças globais.
“UE guarda-se das responsabilidades com o Médio Oriente”
Para o especialista em Médio Oriente André Pereira Matos, ainda há uma possibilidade de a comunidade internacional convencer Trump a voltar atrás na questão do acordo nuclear. Pereira Matos é professor e investigador da Universidade Portucalense.
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