A Ucrânia pretende estabelecer uma zona tampão em Kursk, na Rússia, como já disse o presidente Volodymyr Zelensky, mas são muito contraditórias as notícias que os jornais vão emitindo sobre o que está a suceder no terreno. Em termos teóricos, uma zona tampão, sendo sempre uma área estabelecida entre duas forças opostas, pode ser desmilitarizada e fortemente controlada pelos dois blocos ou um território sob o comando de forças internacionais neutras, como as forças de paz da ONU.
Mas, para já, a opção ucraniana não parece ser nenhuma destas duas. Para os jornais ucranianos, as palavras de Zelensky devem ser interpretadas como o suposto objetivo de criar uma mudança estratégica da linha de frente, em vez de uma zona tampão no sentido tradicional. "Basicamente, está a ser criada uma situação para os ucranianos forçarem os russos a atacar em desvantagem no território russo", disse Phillips P. O'Brien, professor de Estudos Estratégicos da Universidade de St Andrews, na Escócia, citado pelo jornal “Kyiv Independent”.
Mas, como o jornal também indica, neste momento é impossível dizer-se exatamente onde estará a zona tampão, pois isso depende de onde as forças da Ucrânia avançam e que movimentos de reação (ou não) tomam as tropas russas. Kiev afirma ter na sua posse 1.150 km2 de território russo e 82 municípios, incluindo a cidade de Sudzha. Confirmado está o sucesso do ataque a uma terceira ponte sobre o rio Seim, no distrito de Glushkovsky, que fica na fronteira do Oblast de Sumy, na Ucrânia – o que dificultará os movimentos de defesa russos do Oblast de Kursk. A Ucrânia controla também a ferrovia que cruza a cidade de Sudzha, o que significa que as forças russas só podem mover-se por estrada, o que "as torna vulneráveis", segundo aquele especialista. "Além disso, o exército russo é lento e pesado, não coordena bem as ações e está alimentando as forças de forma desigual", acrescentou.
A incursão em Kursk também deve interromper alguns ataques russos na fronteira e aliviar parte da pressão dos civis que vivem no vizinho Oblast de Sumy, na Ucrânia. “O Oblast de Sumy foi alvo de mais de dois mil ataques usando vários sistemas de foguetes de lançamento, morteiros, drones, 255 bombas guiadas e mais de cem mísseis, lançados do Oblast de Kursk", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Heorhii Tykhyi, em declarações recentes.
Recorde-se que a Rússia já tentou fazer o mesmo em Kharkiv, mas sem sucesso que se conheça. Mesmo assim, do outro lado, a imprensa russa continua a relatar sucessos militares. A agência TASS afirma que as forças russas derrotaram um poderoso grupo de combate ucraniano. O Centro de Batalha da Rússia “esmagou um poderoso agrupamento do exército ucraniano e libertou Novgorodskoye, uma importante comunidade na aglomeração de Toretsk e um centro logístico vital na República Popular de Donetsk (DPR)”, informou o Ministério da Defesa da Rússia esta terça-feira.
Entretanto, o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, chegou esta terça-feira em visita oficial a Moscovo – para manter reuniões com o seu homólogo russo, Mikhail Mishustin, e com Vladimir Putin. Espera-se que as partes discutam as perspetivas de desenvolvimento das parcerias abrangentes que foram anteriormente decididas entre os presidentes dos dois países, incluindo energia e indústria automóvel. Como observou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, "sob a orientação estratégica dos dois presidentes, as relações China-Rússia superaram distúrbios externos e mantiveram um crescimento sólido e estável". Este mecanismo de reuniões bilaterais é importante para "promover a cooperação prática e os intercâmbios interpessoais e culturais de forma coordenada". Espera-se também que, após sua visita à Rússia, Li Qiang visite a Bielorrússia.