O presidente dos Estados Unidos descartou o envio de tropas norte-americanas para a Ucrânia, no âmbito das garantias de segurança de um futuro acordo de paz com Moscovo. Donald Trump clarificou assim um dos aspetos, entre vários, que ficaram pouco esclarecidos após as conversas com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, e mais tarde com os líderes de alguns Estados europeus que participaram num ‘almoço de esclarecimento’ na Casa Branca, esta segunda-feira.
Indiretamente, pelo menos a acreditar em alguns comentadores, está também respondida a questão sobre se a NATO acrescentaria ou não a Ucrânia ao perímetro dos países que podem contar com o acionamento do artigo 5º da aliança em caso de ataque. Parece ficar claro que, se os Estados Unidos não estão disponíveis para enviar tropas para a Ucrânia, não o farão em qualquer circunstância – isto é, o artigo 5º é para manter-se no quadro dos Estados-membros e não dos ‘Estados-amigos’.
Trump disse que vários países europeus já mostraram disponibilidade para enviar militares para a Ucrânia e que, como tal, “não será um problema” responder às garantias de segurança exigidas pelo homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky. Os EUA não se vão envolver de forma alguma na mobilização de forças para solo ucraniano – o que vai em sentido contrário ao que é pedido pelos países europeus, especialmente pelos países europeus vizinhos da Rússia. Mesmo assim, Trump repetiu estar "pronto a ajudar", nomeadamente através do envio de apoio aéreo. O presidente reiterou que “haverá algum tipo de segurança” para Kiev, “embora não no âmbito da NATO” e afirmou concordar com a presença de forças militares europeias no território ucraniano. Os ucranianos “não vão fazer parte da NATO, mas temos as nações europeias, e elas vão estar na linha da frente. E algumas delas, França e Alemanha, também o Reino Unido, querem ter tropas no terreno. Não creio que isso vá ser um problema, para ser sincero. Creio que Putin está cansado desta situação. Creio que todos estão cansados”, disse em entrevista à Fox News.
Quanto a uma potencial troca de territórios, Trump afirmou ainda à Fox News que “a Ucrânia vai recuperar a sua vida” assim que o conflito terminar e também “muito terreno”, mas sem dar mais pormenores. O chefe de Estado norte-americano chegou a admitir há poucos dias que Kiev teria de renunciar definitivamente à península da Crimeia, que foi anexada em 2014.
Um dos grandes objetivos estabelecidos por Trump é organizar uma nova cimeira com a presença de Zelensky e de Putin. Os dois não precisam de se tornar “nos melhores amigos”, mas vão ter de ceder em algumas das respetivas reivindicações, avisou. Trump defendeu a organização da reunião “o mais rápido possível” e garantiu ainda que um dos líderes europeus que esteve na Casa Branca na segunda-feira propôs dar “mais um ou dois meses” de prazo antes do encontro Zelensky-Putin, algo que classificou como contraproducente.
Do seu lado, Vladimir Putin propôs organizar um encontro bilateral com Zelensky em Moscovo, num telefonema com Donald Trump, indicaram fontes próximas citadas pela agência AFP. “Putin mencionou Moscovo” durante o telefonema de segunda-feira – tal como, aliás, já tinha dito no final da conferência de imprensa (ou algo semelhante) que manteve com Trump no final da cimeira do Alasca, na passada sexta-feira. O presidente ucraniano, que na altura se encontrava na Casa Branca com dirigentes europeus, “respondeu ‘não’”, segundo a mesma fonte. Mas, se Trump insistir, Zelensky não terá outro caminho que não seja apanhar um avião para a capital russa.
Se a vontade dos europeus fosse respeitada, a trilateral passaria a quadrilateral: o presidente do Conselho Europeu, António Costa, defendeu esta terça-feira que, além das conversações bilaterais e trilaterais entre líderes sobre a guerra na Ucrânia, devem ocorrer conversações quadrilaterais que incluam a União. Costa disse no final de um encontro com os países europeus que não tiveram a sorte de serem convidados para a Casa Branca que é importante "preparar as desejadas conversações bilaterais, trilaterais e quadrilaterais que possam ter lugar o mais depressa possível". O encontro online contou com o presidente francês, Emmanuel Macron, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e 30 países, maioritariamente europeus.
Para António Costa, existem três dimensões fundamentais, sendo a primeira preparar o 19.º pacote de sanções a Moscovo, a segunda passa por reforçar as capacidades militares da Ucrânia e a terceira prevê avançar com o processo de adesão de Kiev à União Europeia.
Em relação às garantias de segurança para a Ucrânia, Costa reforçou que a base das mesmas são as próprias Forças Armadas ucranianas e que a chamada ‘Coligação de Voluntários’ – liderada pela França e pelo Reino Unido – tem vindo a trabalhar no desenho dessas garantias.
Questionado sobre a possibilidade de serem enviadas tropas estrangeiras para a Ucrânia, o presidente do Conselho respondeu que convém ter uma noção clara de que "a ação da Europa e dos Estados Unidos será sempre uma ação de suporte e de apoio". "Creio que depois de três anos e meio de guerra, ninguém tem dúvidas sobre a capacidade das Forças Armadas ucranianas, mas também ninguém tem dúvidas de que o passado nos ensina que os compromissos sucessivamente assumidos pela Rússia foram sucessivamente violados pela Rússia e não podemos permitir que no futuro se repita o que aconteceu no passado", acrescentou.
Um dos participantes foi o primeiro-ministro português. Luís Montenegro defendeu a necessidade de chegar a um “roteiro comum” para uma paz “justa e duradoura” na Ucrânia e sublinhou o “apoio aos esforços de paz” do presidente dos Estados Unidos, segundo relata a agência Lusa. “Participei na videoconferência do Conselho Europeu sobre a situação na Ucrânia. Neste momento definidor, sublinho a importância da unidade transatlântica, o apoio aos esforços de paz do presidente Trump e a necessidade de definirmos um roteiro comum para uma paz justa e duradoura”, escreveu Luís Montenegro nas redes sociais.