O Qatar – país que se tem distinguido, juntamente com o Egipto, como um dos mais empenhados em mediar um cessar-fogo para a Faixa de Gaza – confirmou que o Hamas respondeu positivamente à última proposta, que inclui uma trégua de 60 dias, mas Israel ainda não respondeu. O arrastar da situação – que não impediu a acalmia na frente militar – indica, segundo os analistas, que o governo de Benjamin Netanyahu pode não estar interessado em promover um cessar-fogo, numa altura em que havia decidido tomar pelas armas o controlo total do enclave. Nos bastidores, diz a imprensa israelita, os extremistas de direita e os religiosos ortodoxos continuarão as suas tradicionais campanhas de oposição a qualquer entendimento com o Hamas (ou com qualquer força ou representação palestiniana), o que só dificultará o desenvolvimento do processo.
De acordo com o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar, Majed al-Ansari, a proposta é "quase idêntica" à apresentada pelo enviado dos Estados Unidos para o Médio Oriente, Steve Witkoff, no final de maio. Ela inclui um cessar-fogo provisório de 60 dias, durante o qual ocorrerá uma troca de prisioneiros; as forças israelitas deverão ser reposicionadas em Gaza e a ajuda humanitária voltará a entrar no enclave, disse al-Ansari. Os detalhes exatos sobre o que diferencia esta proposta da versão anterior, que falhou, permanecem obscuros.
O governo israelita não respondeu oficialmente, mas os meios de comunicação israelitas, citando altos funcionários, sugerem que o governo está descontente com a troca limitada de prisioneiros e pode agora insistir na libertação de todos os 50 reféns israelitas como parte de qualquer acordo. De facto, os meios de comunicação israelitas noticiam que o governo insiste na libertação de todos os restantes 50 reféns como parte de qualquer acordo de cessar-fogo, o que parece sinalizar uma rejeição da mais recente proposta apresentada pelos mediadores, à qual o Hamas respondeu positivamente.
A emissora pública israelita Kan citou o gabinete do primeiro-ministro, enquanto a Israel National News e a agência de notícias AFP citaram um alto funcionário israelita a reafirmar a mesma posição.
O jornal Haaretz noticiou que o Coordenador de Israel para Reféns e Pessoas Desaparecidas, Gal Hirsch, dirigiu-se às famílias dos reféns mantidos em Gaza após a notícia da resposta do Hamas à proposta de cessar-fogo. "As discussões, os processos e as ações gerais relacionadas com os reféns e as pessoas desaparecidas a todos os níveis estão a decorrer 24 horas por dia e sob um total apagão mediático. Em geral, e especialmente numa altura como esta, é melhor que assim seja", disse. Aparentemente, esta é a resposta possível ao crescente mal-estar social que atravessa a sociedade israelita por não haver um fim ao drama dos reféns. Manifestações de repúdio pela ação do governo têm-se multiplicado em várias cidades israelitas – mas aparentemente sem grandes efeitos. Ainda este domingo, dezenas de milhares de manifestantes saíram às ruas de várias cidades de Israel para pedir ao governo um cessar-fogo em Gaza que garanta a libertação dos reféns, uma exigência rejeitada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. O Fórum das Famílias de Reféns, que convocou a jornada, estimou em cerca de 500 mil o número de participantes. Bloqueios de estradas em várias localidades, pneus em chamas e alguns confrontos com as forças de segurança marcaram o dia de mobilização.
“Aqueles que hoje pedem para pôr fim à guerra sem uma derrota do Hamas não apenas reforçam a posição do Hamas e afastam a libertação dos nossos reféns, mas também garantem que os horrores de 7 de outubro se repitam uma e outra vez, e tenhamos que lutar uma guerra sem fim”, afirmou Netanyahu numa reunião de gabinete. Ao mesmo tempo, o chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir, reunia-se com responsáveis militares para discutir o plano que prevê a tomada de controlo da Cidade de Gaza, com o objetivo declarado de derrotar o Hamas e libertar os reféns ainda cativos no enclave. Entre os 251 reféns capturados no ataque de 7 de outubro, 49 ainda estão cativos em Gaza, dos quais 27 teriam morrido, segundo o exército israelita.
Já esta terça-feira, as forças israelitas fizeram explodir casas no sul da Cidade de Gaza, enquanto grandes incêndios foram avistados no bairro de Tuffah, no leste da cidade, elevando o número de mortos desde o amanhecer para 40 e mostrando que o plano de anexação está em andamento.
Entretanto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Palestina apelou ao fim do que descreve como uma escalada de ataques de colonos na Cisjordânia. Em comunicado, o Ministério afirmou que encara "com a maior seriedade a escalada de violações, ataques e crimes cometidos por colonos contra cidadãos palestinianos, as suas terras e propriedades em toda a Cisjordânia ocupada".
O ministério acusou os colonos de agirem "sob a proteção das forças de ocupação" enquanto procuravam impor o controlo sobre as terras palestinianas "pela força das armas". Condenou o uso de tratores para abrir estradas para os colonatos na cidade de Deir Dibwan e nas áreas vizinhas, considerando-o "um ataque diário e contínuo aos cidadãos e às suas terras... com o objetivo de aprofundar e expandir os colonatos". "Todas as ações unilaterais da ocupação são ilegais e não conferem qualquer legitimidade ou direito, de acordo com o direito internacional e as resoluções das Nações Unidas", lembrou o Ministério. E pediu “medidas internacionais decisivas para proteger a oportunidade de implementar a solução de dois Estados e pôr fim aos crimes de genocídio, deslocação, fome e anexação”.