Corria o ano de 2011 quando uma história sobre um turista finlândes surgiu na imprensa nacional numa altura em que avizinhava-se a intervenção da troika no país. Em abril desse ano, o então líder do PSD contava uma história sobre uma visita sua à Madeira.
"A verdade é que o senhor levantou-se no fim, antes de se ir embora, passou na nossa mesa e, com um ar superior e de quem não tinha feito uma má refeição, virou-se para nós, assim com o dedo, e disse: ‘Eu espero bem que a refeição que os senhores estão fazer eu não tenha de pagar quando chegar à Finlândia'”, disse Pedro Passos Coelho na altura, a poucos meses de tornar-se primeiro-ministro. A história revelava a relutância que existia em vários países do norte da Europa em aceitarem o resgate de Portugal e o impacto nas suas contas nacionais.
Passados 12 anos, Portugal tem vindo a reduzir a dívida pública, mas o país ainda tem um longo caminho a percorrer para atingir um rácio de dívida sobre o PIB ao nível dos nórdicos.
“A redução da dívida pública vai deixar para trás a Grécia, Itália, Espanha, França e Bélgica. A Finlândia é o país seguinte”, disse o ministro das Finanças na quarta-feira em referência à meta da dívida sobre o PIB ficar abaixo de 100% no final de 2024, segundo a proposta do OE para o próximo ano.
Olhando para a Finlândia, o país deverá fechar 2023 com o rácio de dívida sobre o PIB de 73,6%, com Portugal a fechar o ano nos 108,6%, isto segundo a previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Mas o Governo português tem uma previsão mais otimista, estimando agora que o país atinja os 106,1% no final deste ano, previsão mais recente, pois no OE para este ano previa um valor superior (quase 111%).
Para 2024, o Governo estima um valor mais baixo: ficar abaixo dos 100%, regressando a níveis de 2009, nos 98,9%. Na Finlândia, o rácio deverá subir quase três pontos para os 76%, segundo a previsão da Comissão Europeia.
Mesmo assim, ainda há um longo abismo entre os dois países em termos de dívida sobre o PIB: 20 pontos.
Ainda recentemente, o Eurostat divulgou dados da dívida no segundo trimestre deste ano: Portugal recuou dos 122% em período homólogo para os 110%, com a Finlândia a subir dos 72,5% para os 74,6%.
O ranking europeu é liderado pela Grécia (160%), Itália (140%), França, Espanha e Portugal (cerca de 110%), com a média da zona euro nos 90% e a da União Europeia nos 80%.
Em termos absolutos, Portugal conta com uma dívida de 280 mil milhões de euros contra os 206 mil milhões da Finlândia, valores muito distantes dos 3 biliões de França, dos 2,8 biliões de Itália, dos 2,5 biliões da Alemanha ou dos 1,5 biliões de Espanha.
Para este ano, a economia finlandesa deverá recuar (-0,1%), com a portuguesa a crescer 2,3%. A taxa de inflação de Helsínquia situa-se nos 4,5% com a de Lisboa a atingir os 3,3%. O desemprego nacional ronda os 6,6%, com o da Finlândia nos 7,3%, segundo as previsões mais recentes do FMI para este ano.
De regresso a Medina, o ministro disse que Portugal vai ficar assim com o “custo de financiamento da república inferior a outros onze Estados-membros, incluindo economias com rating superior como a Espanha, Eslovénia e a França”, afirmou.
A trajetória de redução da dívida vai traduzir-se em “poupanças concretas para as famílias” e também “custos de financiamento mais baixos para as empresas”, segundo o seu discurso durante o congresso nacional da Ordem dos Economistas que decorreu na quarta-feira em Lisboa.