O Banco Central Europeu (BCE) volta a reunir esta quinta-feira com o mercado a projetar que os juros permaneçam inalterados após dez subidas consecutivas. O aperto monetário mais agressivo da história da moeda única parece ter chegado ao fim, embora Christine Lagarde deve sinalizar a prontidão para agir caso os dados assim obriguem, num discurso que está a gerar alguma expectativa.
A decisão de setembro de voltar a subir os juros em 25 pontos base (p.b.) acabou por não ser propriamente uma surpresa, dado que o mercado se foi inclinando nas 48 horas antes do anúncio para novo aumento. A persistência da inflação entre 5,5% e 5,2% nos três meses de junho a agosto incomodou os decisores monetários, que se viram assim obrigados a voltar a subir taxas para tentar moderar esta pressão nos preços.
Assim, e apesar de alguma divisão no seio do comité de política monetária, o banco optou por colocar as taxas de referência entre 4% e 4,5%, sinalizando já que esta poderia ser a última subida.
A leitura de setembro já revelou nova desaceleração significativa, com o indicador homólogo a recuar 0,9 pontos percentuais (p.p.) para 4,3% e dando mais margem de manobra ao BCE para manter tudo inalterado em outubro, projeta a esmagadora maioria dos analistas. Um sinal disso é o inquérito feito pela Reuters a 80 economistas, em que todos antecipam uma pausa esta quinta-feira.
Isso mesmo frisa Felix Feather, analista de economia europeia da abrdn, que vê nova mexida nos juros como “improvável”. Assim, o foco passa para o discurso da presidente Christine Lagarde e para o “enquadramento” que será dado à decisão, que dará uma visão dos “riscos de curto-prazo” na avaliação da autoridade monetária.
O economista sénior da Generali Investments, Martin Wolburg, segue a mesma linha de pensamento. O mercado concentrar-se-á em sinais sobre “quando será altura de descer os juros”, argumentando que o BCE está “demasiado otimista quanto ao crescimento”, algo que “terá de ser reconhecido”.
“Por outro lado, a inflação continua claramente acima do objetivo, o crescimento salarial é forte e as mais recentes dores geopolíticas criam dificuldades à desinflação, com os preços da energia a voltar a subir”, escreve o analista, projetando que o discurso “’mais altas durante mais tempo’ se mantenha”.
O banco neerlandês ING argumenta que “esta é a altura certa para uma pausa”, justificando-se com os dados macro mais recentes. Não só a inflação dá novos sinais de abrandamento e a economia se mostra claramente frágil, mas os empréstimos dos bancos continuaram estagnados em setembro, “um sinal de que a política está a resultar”.
Já Franck Dixmier, diretor global de Investimentos em Obrigações da AllianzGI, concorda com a projeção de tudo inalterado na reunião de outubro, mas sublinha que “o BCE ainda não atingiu o nível final no seu ciclo de subidas dos juros”. Os principais motivos prendem-se com a dinâmica salarial aquecida, um novo choque inflacionário do petróleo e com a inflação subjacente ainda muito elevada (ficou em 4,5% na leitura homóloga de setembro).
“Esperamos que o banco central da zona euro adote uma posição neutral na quinta-feira, insistindo que será guiado mais do que nunca pelos dados macroeconómicos e pelos riscos associados”, lê-se na nota.