A consultora tecnológica brasileira FCamara está a negociar a aquisição de duas empresas na Europa, uma delas em Portugal. A empresa especializada em comércio eletrónico e cibersegurança tem um envelope de 25 milhões de euros para investir entre o primeiro e o segundo trimestres de 2024.
As conversações ainda decorrem, portanto a oferta não vinculativa para o primeiro processo de due dilligence deverá ser assinada na primeira ou na segunda semana de janeiro para que o anúncio da conclusão do negócio, se bem-sucedido, ocorra até março, avançou ao Jornal Económico (JE) o diretor geral da FCamara Europe.
“Temos um pipeline de quatro ou cinco empresas com as quais temos vindo a conversar e há duas bastante adiantadas. Ainda não posso falar de nomes nem sectores. Vou falar de estratégia: ir buscar empresas similares à FCamara para que possamos ter expansão de carteira e localidades (região)”, revelou Angelo Tonin.
“Estamos a tentar aumentar o portefólio para fortalecer o que fazemos no Brasil, como por exemplo a área de inovação, consultoria, Inteligência Artificial e cibersegurança. Precisamos desse know-how de serviço. Não queremos comprar empresas de produto, porque somos integradores de soluções e temos uma visão mais holística”, sublinhou.
Angelo Tonin diz que a empresa que lidera tem também uma função social de geração de novos negócios, até porque foi o berço de várias startups no Brasil, que se tornaram sociedades autónomas depois de serem apenas plataformas digitais para os seus clientes, como é o caso da OmniK, especializada em marketplaces.
Questionado sobre o panorama do mercado das Tecnologias da Informação (TI), o diretor da FCamara Europe crê que o investimento tecnológico vai continuar e que a pressão de recrutamento de profissionais de TI, que eram escassos, reduziu. “Estava insano e aquela pressão para aumentar salários não era sustentável. Notamos que está muito mais fácil encontrar profissionais”, afirma.
Ressalvando que acredita num modelo de serviços onde se mistura nearshore e offshore, Angelo Tonin elogia Portugal pela boa formação, abertura à imigração de profissionais qualificados e utilização “inteligente” de mecanismos para atração de investimento e talento nos últimos quatro ou cinco anos. “Para mim, fazer com que Portugal seja um hub de inovação é o guarda-chuva. O eco chega de forma bem forte ao Brasil e mesmo aos Estados Unidos, onde tenho contactos”, garante.
E a Web Summit Rio, é uma ameaça? “É um side business e não vai concorrer diretamente. Não é só uma questão de tecnologia, mas o facto de se interagir com pessoas de todo o mundo. Lá não existe esta pluralidade tecnológica. É mais um centro da América Latina e não tem tanta convergência global”, responde.
IPO nos próximos anos
A médio prazo, o plano da tecnológica brasileira é entrar em bolsa. O objetivo da FCamara é fazer um IPO (Oferta Pública Inicial) em Wall Street ou em Londres, embora não o veja como “um fim” do processo de crescimento. “Vemos o IPO como o acesso a capital para a fortalecer e acelerar crescimento. É a forma, teoricamente, mais adequada de captar recursos para crescer. É o próximo degrau para crescermos globalmente”, esclarece o responsável pelo negócio na Europa.
O timing é a principal dúvida, contudo Angelo Tonin diz que “se não for em dois ou três anos será em quatro ou cinco”, porque a economia é cíclica e, apesar do arrefecimento do mercado, há janelas de oportunidades que se voltarão a abrir mais cedo ou mais tarde.
No verão, a multinacional brasileira instalou um novo hub em Carnaxide, no complexo de escritórios World Trade Center Lisboa, e adquiriu duas empresas (Play Studio e SGA). No âmbito da entrada na zona da capital portuguesa, tornou-se membro do programa “Elite”, da World Trade Center Lisboa International Academy, para auxiliar empresas na internacionalização, sustentabilidade, empreendedorismo e acesso ao mercado de capitais.
“O investimento na Play [Studio] foi para criarmos estrutura de capacidade de gestão, identificação e gestão e formação de startups para inovação aberta. Se chegar aqui uma grande empresa europeia e disser que tem uma iniciativa, eu posso ir buscar startups que acelerem aquele investimento e integrá-las nos processos da empresa”, justificou Angelo Tonin.
Os mercados da Europa, Médio Oriente e África são o principal foco da operação na Europa (Lisboa, Leiria e Londres) emprega 70 pessoas em regime de trabalho híbrido. No entanto, estes profissionais estão a desenvolver projetos de digitalização para organizações em Portugal, nos Estados Unidos, no Reino Unido e nos Países Baixos. Globalmente, o grupo tem 1.300 colaboradores.