Que balanço faz da integração do escritório português na estrutura corporativa espanhola?
O balanço é, necessariamente, muito positivo. Em 2023, depois de um processo evolutivo e de amadurecimento, deixámos de ser uma sociedade independente que usava o nome da Broseta e passámos a ser um dos escritórios físicos da Broseta, incorporados na gestão de uma sociedade de advogados ibérica. Foi um passo muito importante que nos trouxe maior solidez e capacidade de resposta.
Que aspetos no mercado português exigiram adaptação face à dinâmica em Espanha?
Quando começámos esta jornada, em 2018, o que mais me marcou foi a realidade da dinâmica societária em Espanha, muito mais avançada e sofisticada, em termos empresariais, do que em Portugal. Subsiste, no nosso país, apesar da multidisciplinariedade, uma visão ainda muito estrita da profissão, pouco empresarial. O mercado em Espanha, numa perspetiva empresarial e de investimento, funciona melhor sobretudo para os clientes que têm uma resposta mais eficaz. Do ponto de vista da prática jurídica, diria que entrámos com o pé direito e que a aculturação, que foi progressiva, funcionou muito bem. Desde a primeira hora, os nossos advogados enturmaram, se assim posso dizer, muito bem com os colegas espanhóis.
A Broseta faz este ano 50 anos, tem já um longo caminho efetuado e uma presença firmada em Espanha, com processos testados e fiáveis e isso ajudou muito não só a começarmos a nossa colaboração, como facilitou uma integração plena.
Como se diferenciam no mercado português?
A diferenciação é mais na atitude do que nas competências. Na abordagem descomplicada, mas muito profissional, aos desafios que os clientes nos trazem, e a nossa proatividade em muitas vezes reenquadrar as suas questões. Trabalhamos muito numa lógica de assessoria, mais do que numa relação meramente transacional de prestação de serviços. Portugal tem excelentes sociedades de advogados, nacionais e internacionais, e no que toca a competências e capacidades a Broseta não fica atrás das sociedades de topo. É verdade que ainda nos falta ganhar em Portugal a notoriedade e a força de marca que temos em Espanha, mas também é verdade que não temos qualquer ansiedade nesse aspeto: a advocacia consolida-se dia a dia, passo a passo, solução a solução, vitória a vitória. O reconhecimento da marca é o produto desse processo que não se pode apressar. Importante é nunca perder de vista que o cliente é a nossa prioridade e que o “resto” acontece naturalmente.
Como gere a coordenação entre as equipas em Espanha e em Portugal, nomeadamente para operações transfronteiriças?
A gestão dessa coordenação é muito fácil, porque a integração é plena. Ou seja, não há o “nós” e o “eles”. As equipas interagem de forma fluída e muito natural e é com agrado que vejo as pessoas de Portugal a trabalharem quotidianamente com os seus colegas em Madrid, em Valência, em Barcelona e em Zurique, que são os locais onde a Broseta tem escritórios próprios. A integração, nesse aspeto, facilitou muito o trabalho entre todos.
Sabemos que o M&A é uma aposta. Como vê o pipeline em Portugal e que tipo de transações antevê?
Em Espanha a Broseta é muito forte em M&A e em Portugal temos vindo a assessorar um número crescente de operações de média dimensão. Não escondo que temos a ambição de crescer no domínio da prestação destes serviços, e é algo em que estamos a apostar. Portugal está no radar dos investidores. Tivemos há alguns meses o maior negócio europeu da banca em muitos anos e o nosso ecossistema de inovação está a ganhar atenção e relevo internacionalmente. O imobiliário continuará a ser prevalecente em número de operações, mas há oportunidades noutros setores, mais ligados à tecnologia, ao digital...
Que papel tem o escritório de Lisboa como porta de entrada para clientes internacionais?
Tem uma enorme importância à qual a dimensão ibérica acrescenta grande vantagem, porque é muito frequente os investidores apostarem em Portugal e Espanha como uma região.
Quais são as áreas de prática em que mais apostam?
A Broseta é uma sociedade full service e a nossa aposta é, sobretudo, de estamos ao lado dos clientes e tentarmos antecipar as áreas que necessitam.
Há uma área para a qual temos especial vocação e competências, a Defesa, e na qual estamos, na região ibérica, a investir crescentemente, bem como as áreas de Energia, Imobiliário e Economia Digital.
Têm objetivos para os mercados de língua portuguesa?
Temos tido muitas operações relacionadas com países de língua portuguesa, com particular destaque para Angola, onde temos uma parceria sólida e de longa data com a FPA Advogados. Mais recentemente assessorámos assuntos em Timor-Leste.
Tenho uma relação pessoal e profissional com os países da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa], tendo trabalhado desde há 25 anos para cá em todos sem exceção, o que me trouxe conhecimento bastante profundo das diferentes realidades. Na nossa equipa temos advogados seniores com muita experiência de trabalho com Angola, que assessoram numerosos assuntos envolvendo essa jurisdição, dentro do âmbito da referida parceria. Prestar serviços no âmbito da CPLP é um movimento natural.
Fizeram a reunião anual de sócios em Lisboa. Destaca algum resultado?
Foi a segunda reunião de sócios em Portugal. O facto de decorrerem no nosso país permite aos cerca de 40 sócios conhecerem de perto a nossa realidade o que é muito mais importante do que pode parecer. Um país materializa-se quando o visitamos ou cada vez que o visitamos. Destacaria, desta reunião, o compromisso de cross-selling entre Portugal e Espanha.