Portugal entra nesta década com um ponto de viragem incontornável nos transportes e logística: o futuro do setor já não dependerá apenas de infraestruturas, tecnologia ou capacidade operacional, mas da forma como as empresas conseguem antecipar e responder às forças estruturais que estão a transformar toda a cadeia de valor europeia e a fazê-lo rapidamente.
O ritmo das mudanças — da descarbonização às novas exigências urbanas, da automação à pressão sobre o talento — está a redefinir prioridades e a criar um novo mapa competitivo para operadores, clientes e decisores públicos.
É neste contexto que algumas empresas começam a posicionar-se à frente do ciclo. O Grupo Paulo Duarte é uma delas. “A questão hoje não é saber se o setor vai mudar, é saber quem consegue acompanhar essa mudança”, sublinha Gustavo Paulo Duarte, CEO do grupo Paulo Duarte, ao Jornal Económico.
Considera que os próximos anos exigirão “uma capacidade de adaptação que o setor português nunca teve de demonstrar”. PauloDuarte reforça que o país está a entrar numa fase em que evoluir deixará de ser vantagem competitiva e passará a ser condição de sobrevivência: “Quem ficar na inércia perde o mercado.”
A inauguração da nova base operacional da empresa — que elimina um milhão de quilómetros por ano e reduz 800 toneladas de CO₂ — é um exemplo do tipo de decisões que as tendências emergentes estão a tornar inevitáveis. “Este investimento é a prova de que a eficiência e a sustentabilidade já não são objetivos paralelos. São a mesma coisa”, afirma. Para o gestor, as empresas que derem prioridade apenas ao custo imediato correm o risco de não resistir a um ambiente regulatório, tecnológico e logístico cada vez mais exigente.
Este movimento não acontece num vazio. Como lembra Hermano Rodrigues, principal da EY-Parthenon, “Portugal enfrenta múltiplos desafios logísticos, uns mais fundamentais e outros mais operacionais”, desde a interoperabilidade ferroviária até à integração tecnológica entre operadores. Mas é precisamente por existir este conjunto de fragilidades que se torna ainda mais urgente compreender as forças que já estão a remodelar o setor.
“Portugal enfrenta múltiplos desafios logísticos, uns mais fundamentais e outros mais operacionais”, que têm de ser abordados, diz Rodrigues.
“O futuro não se define reagindo ao que existe”, acrescenta Gustavo Paulo Duarte. “Define-se antecipando o que aí vem”, aponta.
As sete tendências que se identificam não são meras projeções — são pressões reais, mensuráveis e já visíveis no dia-a-dia das operações. Representam a intersecção entre o que a Europa exige, o que o mercado valoriza e o que os operadores mais avançados já começaram a executar. E irão determinar, de forma decisiva, quais as empresas que ganharão relevância na próxima década — e quais ficarão para trás.
1. Descarbonização: de objetivo europeu a pressão comercial
A descarbonização passou de tema regulatório a elemento central na competição entre operadores. Hoje, os grandes clientes exigem relatórios de emissões, planos de renovação de frota e metas claras de sustentabilidade. A dependência quase total da rodovia, como sublinha Hermano Rodrigues, “tem impactos evidentes em matéria de sustentabilidade e dificuldade de descarbonização dos transportes”.
A diferença entre ganhar e perder contratos vai depender cada vez mais do impacto ambiental — não apenas do preço.
Sete tendências que vão definir o futuro dos transportes e da logística
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São movimentos que vão marcar o setor dos transportes e logística. Cada um deles contitui também um desafio para as empresas, mas também para o Estado.