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A tarefa pesada para ativar o modo elétrico

A UE defende eletrificação dos pesados de mercadorias e maior aposta na ferrovia e nos canais navegáveis para longa distância. Camiões elétricos ainda são uma raridade em Portugal.

A União Europeia (UE) pretende atingir a neutralidade carbónica até 2050. A eletrificação de todos os meios de transporte, conjugada com a redução do número de veículos, é uma das formas de alcançar a meta. Se nos veículos de passageiros e nos ligeiros de mercadorias há cada vez menos emissões – basta pensar na forma como recebemos as encomendas em casa –, nos pesados de mercadorias ainda há um longo caminho pela frente: desde 2022 até outubro último, apenas foram matriculados 77 camiões elétricos em Portugal, segundo os dados da Associação Automóvel de Portugal (ACAP).
Os pesados de mercadorias continuarão a ser fundamentais para a logística, considerando que, dentro do contexto do transporte multimodal, vão ser responsáveis pelas deslocações nos primeiros e últimos quilómetros da viagem, percorrendo distâncias mais curtas do que atualmente. Como os camiões a bateria têm menos autonomia do que as versões a combustão, as deslocações ficam confinadas a menos quilómetros. No resto do percurso, comboios e embarcações serão responsáveis pelo transporte das mercadorias, através da rede ferroviária e dos canais navegáveis, como os rios.
A rede transeuropeia de transportes (TEN-T) foi atualizada em meados do último ano e contempla nove corredores. Portugal integra a rede através do corredor Atlântico, que inclui a Linha da Beira Alta, do Norte e as novas ligações ferroviárias entre Lisboa e Porto, entre Évora e Elvas, a terceira travessia sobre o Tejo e um novo acesso sobre carris à saída do Porto de Sines.
Os canais navegáveis, mesmo raros em Portugal, são um elemento fundamental para a logística europeia. Designados de “inland waterways”, podem ser usados para o transporte de dezenas ou centenas de contentores padronizados numa só viagem. O consumo energético por tonelada/quilómetro corresponde a 17% da opção rodoviária e a metade do gasto com a solução ferroviária, segundo dados da Comissão Europeia. O uso do comboio e das embarcações de mercadorias permite ainda reduzir o trânsito, sobretudo em áreas mais congestionadas, contribuindo para menor poluição sonora e atmosférica.
O futuro do transporte de mercadorias também terá a vertente militar. Por conta da Guerra na Ucrânia e da ameaça russa, a UE também quer impulsionar o transporte militar, para fazer chegar os equipamentos na linha de defesa de forma mais rápida. Um só comboio com 40 vagões pode substituir uma coluna militar de sete quilómetros, lembra a Rail Baltica, projeto para construção de uma nova linha ferroviária de cerca de 900 quilómetros entre Talin, capital da Estónia, e a fronteira da Lituânia com a Polónia, passando pela Letónia, que terá a primeira fase pronta no final de 2030.
Mais distante encontra-se a massificação da condução autónoma em camiões, comboios e mesmo embarcações. Algo que será transformador para a logística e que revolucionará as relações de trabalho.

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