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Seis milhões de euros depois, Sock Afairs faz teste com loja própria

Tudo começou com um crowdfunding que correu mal e com uma abordagem a lojas físicas que correu pior. As redes sociais salvaram uma boa ideia: as meias da marca calçam os pés de pessoas em 97 países diferentes. E a experiência continua.

Criada em 2018, a Sock Affairs foi lançada por dois amigos que decidiram optar por largar os seus empregos corporativos para começar uma nova aventura: criar meias inspiradas em três paixões - arte (meias das maiores obras-primas), música (meias das bandas mais icónicas do mundo) e carros clássicos (meias de veículos que ficaram para a história).

Cinco anos depois, já venderam mais de dois milhões de meias, ou um milhão de pares, em princípio, para 97 países, que por elas pagaram seis milhões de euros. Toda a produção é desenvolvida no norte de Portugal e, como disse ao JE um dos seus fundadores, Gonçalo Henriques, chegou a hora de a marca se lançar num outro patamar: uma loja própria, que será um teste-piloto para o que vier a seguir.

“Vamos fazer um primeiro teste com uma loja própria. No ano passado fizemos um teste com uma pop-up no El Corte Inglés, que correu muito bem” – e o passo seguinte é uma loja no Cascais Shopping, “Um quiosque, vamos chamar-lhe assim”. A altura escolhida é evidentemente o Natal e o risco associado é o da saída da zona de conforto da empresa: o projeto é de raiz digital.

“Temos feito investimentos em feiras” e as peças estão em pontos de venda em diversas localizações (físicas), mas o segredo do negócio está na ‘nuvem’. Tudo começou “com um crowdfunding que não correu bem” para mais tarde “percebermos que havia mercado para este tipo de produto fora de Portugal. A faze seguinte passou por convencer lojas físicas a aceitarem vender as meias. Segundo insucesso. “Quando já estávamos quase a desistir, gastámos mil euros em campanhas” nas redes sociais. E funcionou.

Como o digital chega ‘onde um homem quiser’, os principais mercados da Sock Afairs são os Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha – com o primeiro a constituir o topo das prioridades. Isto apesar de os norte-americanos preferirem produção própria. Ora, na área dos têxteis, produção própria vai rareando, e o ‘made in Portugal’ já vai abrindo algumas portas. “Sem dúvida que o ‘made in Portugal’ funciona: tínhamos a frase na parte de trás das etiquetas das meias e rapidamente percebemos que era um fator importante”; resultado: a frase passou para a frente das etiquetas. No meio, uma surpresa: a frase tornou-se importante no período da Covid-19, numa altura em que os norte-americanos tinham algum receio do que vinha da Ásia: afinal, o então presidente, Donald Trump, chamava-lhe o “vírus chinês”. Para todos os efeitos, “o ‘made in Portugal passou a ser um excelente cartão de visita em termos de qualidade”, disse Gonçalo Henriques.

A empresa chegou a fazer alguns testes na diversificação de produto – na roupa interior, como seria lógico – “mas temos tanto a explorar nas meias que pelo menos até ao final de 2024 não vamos inventar mais”, disse o co-fundador. Até porque “vendemos sobretudo para países desenvolvidos”, ou seja, onde os consumidores não têm de fazer grandes exercícios orçamentais para comprarem umas meias apenas porque sim! Entre os 97 países que já compram meias da Sock Affairs estão, para além dos já referidos, “de França para norte, Austrália, Japão” – “é mais fácil dizer onde é que não estamos”, referiu Gonçalo Henriques, o que é comprovadamente verdadeiro face à lista de países que fazem parte das Nações Unidas. Coreia do Sul está na calha “e fechámos agora um contrato com Israel que está a correr bastante bem”, explicou. O peso de Portugal na faturação também tem equivalências diplomáticas: vale 1%.

Com o par de meias a valer 12 euros para os desenhos da empresa ou 14 euros quando os motivos obrigam ao pagamento de direitos, a empresa tem nove colaboradores, dos quais cinco são designers.