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CEO da Ryanair: "queremos crescer em Portugal, mas se aumentam custos vamos colocar os aviões onde obtivermos melhor retorno"

Eddie Wilson defende uma intervenção do Governo para impedir um aumento de 18% das taxas nos aeroportos nacionais. A companhia low cost irlandesa garante que está preparada para aumentar a sua operação no país, mas que o aumento dos custos é um fator de dissuasão.

O CEO da Ryanair criticou a proposta para aumentar as taxas aeroportuárias em Portugal em 18% no próximo ano.

A ANA - Aeroportos de Portugal, detida pelos franceses da Vinci, submeteu uma proposta ao regulador de aviação ANAC, que ainda terá de se pronunciar sobre o documento.

"Este verão correu muito bem, mas penso que o grande assunto em Portugal é o aumento das taxas aeroportuárias pela Vinci/ANA. Estamos a falar de aumentos de 18% em Lisboa, o aeroporto tem o mesmo tamanho do que o ano passado, porque é que precisam de um aumento de 18%?", começou por dizer Eddie Wilson ao JE.

"O Governo português precisa de fazer algo sobre os custos de acesso. Portugal é um país relativamente pequeno, precisa de ser competitivo e venderam os aeroportos a um grupo francês que está agora a maximizar os seus lucros monopolistas. Isto é uma peça vital de infraestrutura para benefício da economia portuguesa que precisa de ser competitiva: retirem os custos para que as companhias aéreas possam vir", acrescentou o responsável.

As declarações tiveram lugar à margem da conferência World Aviation Festival que teve lugar em Lisboa na semana passada.

Recordando a situação no ano passado, quando a ANAC travou os aumento de 11% das taxas, para valores mais baixos, o gestor irlandês destacou que "quando o Governo português interveio, recompensámos isso ao colocar mais aviões em Faro e no Porto. Os preços depois subiram nos Açores, a nossa base foi-se, e a Madeira está sob grande pressão de momento, somos os únicos que tem uma base na Madeira e isso está agora em risco por causa de uma decisão estúpida de aumentar preços".

Um aumento das taxas vai afetar o sector do turismo em Portugal? "Claro, porque as pessoas chegam cá de avião. Portugal tem sido um mercado de sucesso para nós, olhem como transformámos o Porto. Antigamente, a TAP não tinha aviões baseados lá e pusemos Porto no mapa como destino turístico o ano inteiro, turismo, conectividade para pequenas empresas, as pessoas agora podem ser nómadas digitais e viver no Porto, com preços acessíveis de habitação, não tem o mesmo clima que o Algarve, mas serve perfeitamente se vieres da Irlanda, e tens acesso a todas as capitais europeias com voos diários da Ryanair, que é a maior no Porto".

O CEO da companhia low cost garante que quer "continuar a crescer no país, mas se complicam e aumentam custos, então vamos colocar aviões onde obtivermos um melhor retorno".

"Não é a Ryanair a fazer algo de mau, é a infraestrutura a impedir o fluxo de pessoas a entrar para que os hotéis e o sector do turismo possam fazer investimentos de longo prazo porque as companhias aéreas vão estar aqui no longo prazo", acrescentou.

Em relação à situação na Madeira, deixou elogios à região autónoma. "A Madeira é um lugar único, apresenta-se de uma forma diferente das Canárias, como destino para o ano inteiro. Colocámos lá dois aviões de 200 milhões de euros, fomos a única companhia a fazê-lo, nem a TAP fez isso, e agora isso está em risco, porque alguém em Paris decide aumentar os preços para os aeroportos portugueses".

E criticou também a aplicação de taxas ambientais aos voos para as zonas periféricas da União Europeia, considerando que são uma injustiça para regiões como os Açores ou a Madeira.

Planos para novas rotas em Portugal? "Sim, mas queremos ter estabilidade de preços para poder planear onde vamos colocar aviões. Isto não é só a Ryanair a queixar-se dos preços, são decisões de investimento para nós. Outros aeroportos na Europa estão a tornar-se mais competitivos".

Questionado se a companhia já sensibilizou o Governo português para esta questão, o CEO respondeu que "existe um período de revisão, e o Governo já teve alguma influência no ano passado, mas isso não impediu a Vinci de voltar este ano e aumentar os lucros monopolistas".

Sobre o dossier de privatização da TAP, a Ryanair garante que está atenta para o "que vai acontecer às slots em Lisboa".

Eddie Wilson considera que a privatização é inevitável", e alertou para os riscos do vencedor do processo canalizar "todo o tráfego através dos seus hubs".

No entanto, defende que Lisboa deverá "continuar sempre a ser um hub para a América Latina dado o historial".

"Congratulamos a consolidação no mercado, mas estamos de olho nas slots em Lisboa, particularmente numa situação de privatização", acrescentou.

Sobre o novo aeroporto de Lisboa, deixou críticas à falta de decisão: "O problema em Lisboa é que estão para tomar uma decisão sobre o novo aeroporto há 25 anos. Precisam de um novo aeroporto em Lisboa para tirar todo o potencial. Montijo é óbvio, perto de Lisboa, tem ligações diretas por barco".

E avisou para os riscos de construir aeroportos longe de Lisboa. "Vemos noutros países, aeroportos muito distantes das cidades, não funciona, ninguém vai para um aeroporto a 100 kms de distância, e geralmente as pessoas que defendem isso não sabem nada de aeroportos ou de comportamento dos consumidores. Uma pessoa não quer acordar à meia noite para viajar às seis da manhã, não vai acontecer".

"Temos de nos sentar e dizer: como podemos trazer capacidade para Lisboa? Porque se não houver capacidade, os preços aumentam e isso é mau para os consumidores. Mais capacidade é a resposta. Quando estiver pronta, as pessoas vão dizer: ‘porque é que isto não estava pronto há 20 anos?’", rematou.