Skip to main content

Savannah continua a trabalhar com britânicos e australianos para captar investidores

A empresa britânica de mineração garante ao JE que mantém aposta no projeto de lítio em Portugal após buscas.

A Savannah continua à procura de investidores para a mina de lítio em Boticas, distrito de Vila Real. A garantia foi dada ao JE pela empresa britânica depois das notícias que deram conta de buscas realizadas pelas autoridades no início de novembro.

"O projeto Lítio do Barroso está a avançar sem quaisquer limitações", garantiu fonte oficial ao JE.

Apesar de ter sido alvo de buscas (ler infra), nem a empresa nem os seus responsáveis foram constituídos arguidos, com a empresa liderada por Emanuel Proença a garantir cooperação com as autoridades.

A 6 de novembro, apenas um dia antes das buscas, a companhia britânica tinha anunciado a contratação do banco britânico Barclays e do banco de investimento australiano Barrenjoey Advisory para captar investidores para o projeto. Questionado sobre se estes parceiros continuam a bordo do projeto, fonte oficial da mineira garantiu que estas entidades "estão a desenvolver o seu trabalho normalmente".

No comunicado divulgado a 6 de novembro, a Savannah disse que, "dado o elevado número de respostas positivas recebidas de uma variedade de grupos, a Savannah nomeou o Barclays e a Barrenjoey como co-conselheiros financeiros para liderar a próxima fase do projeto”, tendo destacado a“significativa experiência” de ambas as empresas “em gerir transações no sector do lítio e na indústria mineira e de metais”. O processo passa agora pelo “engajamento com vários potenciais parceiros estratégicos com vontade de assistir ao futuro desenvolvimento do projeto” proporcionando “oportunidades adicionais” à Savannah ou “capacidades suplementares".

Na sessão antes das buscas, a empresa fechou a 3,2824 centavos de libra; na sessão de ontem, encerrou a valer 2,350 centavos de libra. No espaço de um ano, desvalorizou mais de 9%, valendo agora 43,33 milhões de libras.

O fundo Aethel Mining, que detém a mina de Moncorvo, é um dos interessados em comprar o projeto, conforme revelou em primeira mão o Jornal Económico a 23 de agosto. O fundo foi co-fundado pelo empresário português Ricardo Santos Silva.

A 13 de novembro, o ministro do Ambiente defendeu no Parlamento a legalidade das avaliações ambientais. “É importante distinguir entre o momento de investigação e as conclusões relativamente a um conjunto de matérias. O país tem leis que regulam a avaliação de impacto ambiental. No nosso entender, nas minas de lítio foram cumpridos todos os passos que a lei exige”, disse Duarte Cordeiro em audição na Assembleia da República.

“Devemos continuar a apoiar o investimento no lítio”, uma “cadeia de valor nacional, pode vir a representar nove mil milhões de euros de investimento", afirmou na altura, defendendo que não pode haver “um clima de suspeita e desconfiança relativamente a estas matérias”.

O ministro apontou que os dois projetos de lítio de Boticas e de Montalegre já têm parecer positivo da Avaliação de Impacte Ambiental (AIA), condicionados. O Governo demissionário tinha o objetivo de lançar o concurso de lítio no início de 2024, procedimento que previa somente a pesquisa de lítio em seis áreas já definidas, mas esta matéria está agora sob avaliação.

Caso Influencer: MP suspeita que Galamba e Matos Fernandes forçaram entrada da Galp na mina de lítio de Boticas

O Ministério Público suspeita que João Galamba e João Pedro Matos Fernandes agiram ilegalmente para forçar a entrada da Galp na sociedade dona do projeto da mina de lítio em Boticas, distrito de Vila Real, que pertence aos britânicos da Savannah.

“Suspeita-se que o Estado possa ter imposto, de forma indevida, através de uma ação concertada entre os suspeitos Matos Fernandes, então ministro do Ambiente, João Galamba, então secretário de Estado da Energia, e Rui Oliveira Neves, então diretor da Galp, a entrada da Galp na participação da “Savannah Lithium” e a parceria da Northvolt com a Galp”, pode-se ler nos autos de busca do Caso Influencer a que o JE teve acesso.

Em janeiro de 2021, as duas empresas assinaram um acordo de exclusividade, que previa que a Galp comprasse toda a produção da mina de lítio da Savannah. O acordo previa a entrada direta da Galp no projeto da mina com 10% do capital e um investimento de cinco milhões de euros. Mas seis meses depois, o acordo foi cancelado sem mais explicações.

O MP também escreveu neste documento que “igualmente se verificam suspeitas de ilegalidades relacionadas com a concessão da exploração de lítio na mina do Barroso”.

Questionada sobre estas suspeitas do Ministério Público, a Savannah não quis fazer comentários.

Mais de 300 milhões de receitas por ano

Para 2025, a empresa espera tomar a decisão final de investimento do projeto e arrancar com a construção. Já em 2026, deverá arrancar a produção com 191 quilotoneladas por ano de concentrado de espumodena (ktpa).

O projeto fica a 145km do porto de Leixões, por onde pode exportar produto; a 180km de Estarreja, onde a Bondalti pretende instalar uma refinaria de lítio; a 500km de Setúbal, onde a Galp e a Northvolt pretendem instalar a sua refinaria.

A Savannah espera gerar receitas anuais de 304 milhões de dólares (285 milhões de euros), com um EBITDA de 205 milhões de dólares (192 milhões de euros), gerando um cash flow de 124 milhões de dólares (182 milhões de euros).

Para a totalidade da vida da mina, a Savannah espera receitas de 4.151 milhões de dólares (3.890 milhões de euros), um EBITDA total de 2.793 milhões de dólares (2.617 milhões de euros), num cash flow total de 1.694 milhões de dólares (1.587 milhões de euros), levando ao pagamento de 924 milhões de dólares (866 milhões de euros) em impostos e royalties.

O projeto implica um investimento inicial de 280 milhões de dólares (262 milhões de euros), incluindo 40 milhões de dólares (37 milhões de euros) em medidas sociais para a comunidade. Já o encerramento da mina vai ter custos de 102 milhões de dólares (95 milhões de euros).

Por ano, a companhia prevê extrair 1,5 milhões de quilotoneladas de minério para produzir 190 quilotoneladas de concentrado de espumodena, 400 quilotoneladas de feldspato/quartzo, usados pelas indústria de cerâmica, mas com valor comercial mais baixo (53,5 dólares por tonelada).

Em termos de preços, espera que o concentrado de espumodena (6% Li2O) recue dos atuais 2.850 dólares/tonelada para uma média de 1.597 dólares/tonelada entre 2026-2039. Já o concentrado de espumodena (5% Li20) deverá atingir em média 1.464 dólares/tonelada em média durante o mesmo período.

Por ano, a empresa britânica espera produzir 1,5 milhões de toneladas de lítio, durante 14 anos. A mineração vai ser entregue a outra empresa, com a exploração a céu aberto a ter lugar somente durante o dia.

A empresa tem uma concessão de 30 anos. Olhando para o futuro, prevê que o concurso que o Governo prevê lançar para as concessões de pesquisa de lítio possa vir a “expandir as oportunidades de exploração”. No total, a empresa estima que as suas reservas atinjam as 28 milhões de toneladas, fazendo desta mina a maior da Europa em termos de espumodena.

Mercado em expansão

A Savannah prevê que a procura mundial por lítio para produzir baterias para carros elétricos vai disparar quatro vezes até 2030, com a procura na Europa a disparar 12 vezes até 2030 e 21 vezes até 2050. Atualmente, não existe produção de lítio na Europa para as baterias.

O défice global de lítio vai subir 2,5 vezes até ao final da década. Como resultado, os preços do lítio dispararam 10 vezes desde o segundo semestre de 2020 até ao final de 2022, atingindo máximos históricos.

“Os preços estabilizaram agora após uma correção no primeiro semestre de 2023, mas vão permanecer acima dos preços médios de longo prazo”, segundo a empresa.