Menos de quatro anos depois de abrir o escritório em Portugal, a tecnológica norte-americana Salesforce prepara-se para mudar de morada em Lisboa para “um espaço maior” numa “localização melhor”. O plano é fazer as mudanças das Torres de Lisboa, na zona de Benfica, para a Avenida da República, no Saldanha, e continuar a recrutar.
A informação foi avançada, ao Jornal Económico (JE), pelo responsável da Salesforce nos mercados do sul da Europa, Médio Oriente e África, à margem do evento anual “World Tour Lisboa”, que se realizou na quarta-feira no CCB – Centro Cultural de Belém. “Pessoalmente, algo que me surpreendeu desde que assumi esta pasta e comecei a receber clientes aqui é que as empresas em Portugal são bastante inovadoras”, admitiu Marco Hernansanz.
“Talvez não sejam muito ricas, mas estão realmente dispostas a implementar novidades de tecnologia. Por exemplo, vimos aqui o business case da Ascendi. É uma grande empresa em Portugal, mas não é uma grande empresa no contexto europeu, como uma Siemens. Mas eles são bastante inovadores. Adotaram as nossas soluções multicloud e estão efetivamente dispostos a conversar sobre dados e Inteligência Artificial (IA)”, exemplificou.
A Ascendi foi uma das mais de 10 histórias de clientes nacionais que foram partilhadas neste encontro no CCB, a par com a da Altice Portugal, Alliance Healthcare, Brisa, BPI, Galp, Perfumes e Companhia, Sport Lisboa e Benfica, Unbabel, Smile Up, Sporting Clube de Braga, Secil ou Sumol+Compal. Por exemplo, a Perfumes e Companhia conseguiu mais 23% de aberturas de email de campanhas de marketing desde que assinou contrato. Já a Smile Up, que está em processo de venda, viu os prospetos subirem 30% após instalar esta tecnologia.
Questionado sobre as startups e pequenas empresas, enquanto investidor em capital de risco, Marco Hernansanz disse que acredita que todos os nativos digitais e empreendedores do mundo beneficiarão da IA, porque os custos de criação e expansão de uma empresa estão a aumentar. “Talvez haja um futuro em que uma empresa com apenas um trabalhador físico possa gerar 100 milhões de receitas porque terá toda esta assistência dos dados e da IA. E numa indústria, se quiseres iniciar um novo modelo de negócios, precisarás de capital”, argumentou.
Talvez haja um futuro em que uma empresa com apenas um trabalhador físico possa gerar 100 milhões de receitas porque terá toda esta assistência dos dados e da IA
Marco Hernansanz deixou ainda um alerta para uma Europa fragmentada, que se mantém atrás das maiores economias do mundo - Estados Unidos (EUA) e China - no desenvolvimento da IA, apesar de ter sido pioneira em termos de legislação. “Onde a EMEA corre o risco de ficar para trás é na complexidade da regulamentação. Quando se trata de regulação, o desafio que agora temos é estarmos mais fragmentados. Os EUA e a China funcionam como um grande país, mas na Europa quando se fala em IA é preciso reunir muita gente para chegar a um acordo”, lamenta o vice-presidente executivo e CEO na Europa do Sul, Médio Oriente e África da Salesforce.
Marco Hernansanz aproveitou a viagem a Lisboa para explicar ao JE a estrutura da Salesforce na Europa. Inicialmente, o mapa da organização estava segmentado em grandes empresas, middle-market e por aí adiante até se perceber que a diversidade requeria uma divisão por clusters de países que estejam num estágio semelhante de maturidade e evolução. É por esse motivo que Portugal está no mesmo núcleo de Espanha ou Itália em vez do Reino Unido; França; DACH – Alemanha, Áustria e Suíça ou Europa do Norte. Até porque se corria o risco de que o houvesse um “sobrepeso” do mercado francês, por significar 70% do negócio europeu, e assim a Salesforce consegue garantir que pode “financiar e concentrar-se em desbloquear o crescimento que vemos no sul”.
O JE sabe que a empresa especializada em CRM (Customer Relationship Management) tem cerca de 50 pessoas em Portugal. Quanto ao ecossistema Salesforce, no último ano, cresceu 77% em número total de profissionais certificados para mais de 1.700 pessoas, de acordo com os dados disponíveis até 31 de janeiro de 2024. No entanto, não foi possível obter mais detalhes da operação no mercado português por questões de confidencialidade do grupo.
Quanto ao Médio Oriente, os olhos estão agora postos no Dubai, onde a Salesforce irá abrir um escritório em setembro.