A Ryanair apresentou duas queixas à Comissão Europeia contra a Easyjet, acusando-a de não usar os 18 slots no aeroporto de Lisboa que pertenciam à TAP. A companhia aérea irlandesa pediu a Bruxelas para passar estes slots da Easyjet para a Ryanair.
"São todos os novos slots", disse o presidente-executivo da Ryanair ao JE em referência às faixas horárias de que a TAP foi obrigada a desfazer-se com o plano de reestruturação para receber a ajuda de Estado.
"A Easyjet teve de comprometer-se perante a Direção-Geral da Concorrência [da Comissão Europeia] que usaria todos estes slots, mas não usaram nenhum no inverno. Fizemos a primeira queixa em outubro e depois em dezembro e ainda não disseram nada. Este é outro exemplo que a política anti-concorrência de Margrethe Vestager falhou completamente", afirmou Michael O'Leary.
"Pedimos para tirarem os slots à Easyjet e para os entregarem à Ryanair porque não os estão a usar, quebrando o acordo e devem perdê-los. Nós vamos usar os slots no verão e no inverno", garantiu em conversa com o JE.
Questionada pela JE, a Easyjet disse que "não acredita" que haja "qualquer substância nesta queixa da Ryanair. A companhia continuou a utilizar os slots atribuídos e expandiu a sua presença em Lisboa para além da capacidade de reparação da TAP, baseando um avião extra neste aeroporto".
De regresso à conversa com Michael O'Leary, o gestor avisou que pode vir a retirar no final do verão o único avião da empresa que ainda continua sediado na Madeira, culpando os aumentos de taxas por parte da gestora de aeroportos ANA - Aeroportos de Portugal, detida pelos franceses da Vinci.
"A ANA tem vindo a aumentar os preços. Não há nenhuma razão para que as taxas aeroportuárias em Ponta Delgada, que está vazio, subam 9%; no Funchal, que não tem tido muito movimento, subam 6%. Temos este monopólio francês a subir as taxas só porque pode. Estão a fazer mais dinheiro das vendas duty free, mais dinheiro do estacionamento, mais dinheiro dos restaurantes, e ao mesmo tempo, pressionam as companhias aéreas e os passageiros", afirmou.
"A única forma de dar mais concorrência à ANA em Portugal é abrir o Montijo e deixar que seja operado por outra empresa que não seja a ANA", afirmou, sobre a solução aeroportuária para a região de Lisboa.
Na quarta-feira, o Tribunal Geral da União Europeia deu razão à Ryanair na sua queixa contra os Países Baixos pelo apoio de 3,5 mil milhões de euros à KLM em 2020, por considerar que está em causa um auxílio de Estado indevido. A companhia irlandesa pediu a Bruxelas para ordenar a Haia que peça o dinheiro de volta à transportadora aérea.
Depois de ter apresentado queixas semelhantes contra a TAP e a SATA, o gestor espera que a justiça europeia lhe dê razão. "Espero que sim, porque é o mesmo. Em todos os casos tem sido um falhanço da Direção-geral da Concorrência. Ninguém se opôs a que estas companhias aéreas recebessem auxílios estatais, mas existem regras para proteger a concorrência justa. A TAP teve três mil milhões de ajudas, deviam ter sido obrigados a entregar mais slots a concorrentes".
"A Air France - KLM obteve 13 mil milhões, sem restrições. Isto só prejudicou empresas como a Ryanair, não tivemos ajudas, também não queria. Mas se vão dar 13 mil milhões aos nossos concorrentes, deve haver algum tipo de regras", acrescentou.
Na conversa com o JE, Michael O'Leary também disse que a IAG, a dona da Iberia e da British Airways, seria a melhor escolha para a privatização da TAP.
"Olhando para qual poderá vir a ser o melhor dono da TAP, seria claramente a IAG. Sei que há questões políticas, os portugueses não querem ser dominados pelos espanhóis. Tivemos o mesmo na Irlanda quando a IAG comprou a Aer Lingus, mas fizeram um trabalho muito bom em aumentar o negócio transatlântico; tinham medo que perdesse para Londres, mas aumentaram o negócio em Dublin; penso que vão fazer o mesmo em Lisboa", começou por dizer.
"A TAP tem uma forte operação no Brasil, a IAG através da Iberia tem uma forte operação na América Latina/Caraíbas, não vão mover o hub para Madrid. Percebem o mercado, e vão fazer o mercado crescer de forma muito forte. A Lufthansa não tem nenhum compromisso com a América Latina, a Air France - KLM também não. O melhor dono de longo prazo vai ser a IAG, mas é uma decisão para o Governo português", acrescentou.
"A Lufthansa comprou a belga Sabena, os preços subiram; a Air France comprou a KLM, os preços subiram; as tarifas vão aumentar, a TAP perde dinheiro todos os anos, ou reduz os seus custos significativamente ou os preços vão subir, é importante que Portugal tenha uma empresa forte de bandeira, a TAP é essa empresa, mas os contribuintes portugueses não podem ser chamados a pagar quando há uma crise. Cada homem, mulher e criança de Portugal passou um cheque de 300 euros para manter a TAP viva durante a Covid", avisou.
Na conversa, o gestor deu o exemplo do aeroporto de Dublin que, com apenas uma pista (tal como Lisboa) recebe mais de 30 milhões de passageiros por ano, um valor que contrasta com os 20 milhões com o Humberto Delgado: "Lisboa tem estas condicionantes artificiais. Portela tem uma pista, dizem que os terminais estão cheios: então expandam-nos. Isto não faz sentido. É fácil meter mais passageiros na Portela durante o inverno e verão. Aproveitariamos para viajar mais para lá durante o inverno quando a Easyjet e a TAP têm a maioria dos seus aviões em terra. É uma restrição arbitrária. A ANA quer esta restrição para aumentar as taxas aeroportuárias. A ANA tem os direitos para o Montijo, mas não o abre. Tudo está feito para manter os custos elevados em Lisboa para proteger a TAP. Não é a melhor solução para consumidores ou turistas portugueses".
Na quarta-feira, a Ryanair anunciou, em conferência de imprensa em Lisboa, 14 novas rotas em Portugal para o verão este ano. São 170 rotas de Portugal num total de 28 aeronaves sediadas no país, com a empresa a dizer que isto representa um investimento de três mil milhões de dólares.
As rotas contemplam Espanha (Alicante, Ibiza e Madrid), Suécia (Estocolmo), Irlanda do Norte (Belfast), Hungria (Budapeste), Polónia (Cracóvia, Poznan), Inglaterra (Norwich), Marrocos (Marraquexe e Tanger), Itália (Roma e Pisa).
A companhia aérea irlandesa diz que a operação em Portugal implica um total de mil empregos de pilotos, tripulação de cabine e engenheiros.