Os bancos centrais russo e chinês surpreenderam os mercados esta terça-feira com decisões opostas em reuniões não programadas de emergência, procurando minimizar as dificuldades em que ambas as economias se encontram. No caso chinês, o banco central cortou os juros de referência para operações de médio-prazo em 15 pontos base (p.b.) depois de nova leva de dados macro negativos; já a Rússia subiu taxas em 350 p.b. para tentar travar a queda abrupta do rublo face ao dólar.
Estas decisões colocam os juros de referência russos em 12%, enquanto na China a taxa de médio-prazo a um ano foi cortada de 2,65% para 2,5%. Este será também um sinal de que a autoridade monetária chinesa se preparará para novos cortes na taxa de referência, apontam os analistas.
Confrontados com uma crise clara de confiança, os oficiais chineses procuram estimular o consumo interno num país com níveis historicamente dos mais baixos no mundo de propensão para consumir, ou seja, a percentagem do rendimento disponível alocado ao consumo. Apesar da poupança elevada, o investimento no país é assente esmagadoramente em dívida, criando uma sobrecarga na segunda maior economia do mundo com que o Governo central pretende agora lidar, reduzindo a margem de manobra para voltar a apostar na receita que tanto sucesso trouxe no passado, de estímulos orçamentais em larga escala.
Este corte não será, por si só, suficiente para inverter a situação, concorda a generalidade dos analistas. O país encontra-se pressionado por vários problemas económicos, nomeadamente a quebra da procura global, que arrasta as exportações e a produção industrial, além de desemprego jovem em níveis recorde e uma população em claro envelhecimento.
Ainda assim, a maior preocupação é o mercado imobiliário, onde a possibilidade de falência da maior promotora privada é o mais recente capítulo de um longo historial de tensões e sinais de fraqueza. A análise da Gavekal Economics foca precisamente este ponto, lembrando as consequências que uma crise imobiliária pode ter no mercado laboral e no consumo, piorando ainda mais as perspetivas chinesas para este ano, quando Pequim aponta a 5% de crescimento.
Na Rússia o cenário é bastante distinto: depois de resistir ao rombo inicial causado pelas sanções internacionais, o rublo tem vindo a cair face ao dólar, negociando acima de 102 contra a divisa norte-americana apesar dos controlos de capital e do disparo nas receitas de exportações no último ano.
Na justificação da decisão, o banco central russo explicou que quer limitar as pressões de preços, reconhecendo que a tendência da inflação é ascendente. O indicador de preços registou uma variação homóloga de 4,3% em julho, com o core em 3,2%, ambos a subir em relação ao mês anterior.
Ambas as decisões foram tomadas em reuniões de emergência, mas havia já sinais de que as autoridades monetárias de ambos os países iriam adotar políticas desta natureza. Na Rússia, o principal conselheiro económico de Putin havia mesmo culpado publicamente o banco central pelos mínimos de 17 meses em que o rublo tem vindo a negociar, argumentando que a política acomodatícia estava a enfraquecer a divisa local.