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Respostas Rápidas. Petróleo de xisto: os EUA vão continuar a financiar a Rússia?

As empresas norte-americanas produtoras do chamado petróleo de xisto estão a produzir mais usando menos plataformas. Os lucros estão a aumentar e ninguém estará interessado em abrir mão deles. Boas notícias para a Rússia. Se Trump vencer.

Qual é o quadro empresarial das empresas produtoras?

Segundo a agência Reuters, os resultados do segundo trimestre das empresas produtoras de petróleo de xisto – que colocam os Estados Unidos como o maior produtor do mundo – mostram ganhos inesperados no volume de petróleo retirado das jazidas. Maiores eficiências operacionais na principal área de xisto dos Estados Unidos estão a retirar mais petróleo com menores gastos, de acordo com os últimos números da produção, o que aumentará a oferta do mercado global de petróleo, já que a OPEP também planeia acabar com os cortes de produção no final do ano. Segundo a mesma fonte, os produtores estão a estender os poços para até cinco quilómetros, furando mais com uma única plataforma de perfuração. Estes ganhos levaram vários grandes produtores a aumentar as suas metas de produção para o ano. "O mercado acabará com excesso de oferta no quarto trimestre", disse Walt Chancellor, especialista na área da energia da empresa financeira Macquarie Group, citado pela Reuters. A Macquarie antecipa que a produção dos Estados Unidos crescerá cerca de 500 mil barris por dia (bpd) até o final deste ano em relação ao final do ano passado, superando as estimativas do governo, que pediam um aumento de cerca de 300 mil bpd. "Para a OPEP, o que isto significa é que não são capazes de executar o plano atual de acabar com os cortes de produção", disse Chancellor.

 

Qual será o balanço do mercado?

Se os Estados Unidos continuarem a aumentar a produção de petróleo – que é inteiramente consumido no mercado interno – a procura externa tenderá a diminuir. O resultado é claro: se ao aumento da produção dos EUA se juntar o fim dos cortes da produção da OPEP, os mercados internacionais serão inundados de petróleo e o preço tenderá a baixar. Ora, isso não é bom para ninguém: nem para os produtores caseiros, nem para os membros da OPEP.

 

Se ganhar as eleições, que fará Donald Trump?

Convém recordar que, quando chegou à Casa Branca, Donald Trump assinou, em abril de 2017, um decreto a autorizar a redução das restrições à extração de petróleo nos oceanos Ártico e Atlântico, que fora interditada pelo seu antecessor Barack Obama. Ou seja, se regressar à Casa Branca, o mais provável é que Donald Trump não queira assinar qualquer decreto que faça regressar qualquer limitação – não mexendo assim com os lucros das empresas produtoras. Se isso acontecer, será mais uma razão para a OPEP manter os cortes e sustentar os preços internacionais em alta.

 

E se for Kamala Harris a ganhar?

Não há previsões sobre esta matéria, mas é sabido que a ala esquerda dos democratas (de que a atual candidata à presidência faz parte) não gosta da desregulação da prospeção do petróleo (tal como Obama não gostava). Mesmo assim, a incógnita manter-se-á até à eventual vitória de Kamala – ou até a candidata falar sobre o assunto.

 

O que é que isto tudo tem a ver com a Rússia?

Tem tudo a ver. A venda de petróleo russo aos países que não cumprem as sanções decretadas pelos Estados Unidos (e pela União Europeia, mas não pela ONU) – nomeadamente à China mas não só – continua a ser uma das principais, se não a principal, fonte de financiamento do esforço de guerra a que a invasão da Ucrânia obriga. Aliás, e a acreditar em várias fontes, enquanto o preço do petróleo não descer de forma abrupta, o financiamento da guerra não vai sofrer nenhum grande percalço.

 

Podia ser de outra forma?

Podia. Mas por diversas razões, isso não está a acontecer. E podia acontecer, porque já foi feito antes. Em 1985, o então presidente norte-americano Ronald Reagan conseguiu convencer os principais produtores da OPEP (Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes Unidos e Qatar) a inundarem os mercados internacionais com um enorme aumento da produção. No último trimestre de 1985, o preço do Brent era de 30 dólares o barril, mas depois desta movimentação ‘artificial’, passou aos 12 dólares em julho de 1986 – um ‘desconto’ de 60% que tinha um único fim: acabar com uma das maiores fontes de financiamento da União Soviética, na altura liderada por Mikhail Gorbatchov. Nos anos de 1983-84, a URSS exportava cinco milhões de bpd – vindo a aumentar no ano seguinte até assegurarem metade do volume de exportações da federação. A manobra de Reagan acabou com essa enorme fonte de rendimento, até porque, segundo os técnicos, a prospeção russa é das mais caras do mundo. E acabou também – ou ajudou a acabar – com a própria URSS.

 

Há condições para os EUA voltarem a fazer o mesmo?

Nem de perto. Desde logo porque a Arábia Saudita – que Joe Biden se recusou a convidar para a cimeira das democracias que organizou em dezembro de 2021 – já não é a mesma Arábia Saudita de 1985: as relações com os Estados Unidos são agora muito mais ‘frias’. E depois há a Palestina.

 

O que é que isto tudo tem a ver com a Palestina?

Tem tudo a ver. As petromonarquias árabes estão do outro lado da barricada no que tem a ver com Israel. Os Estados Unidos continuam a apoiar incondicionalmente – apesar de algumas declarações mais sancionatórias da Casa Branca – o Estado hebraico, que por outro lado reúne a oposição cada vez mais firme de todo o Islão (e não apenas do Islão árabe). Ou seja: os sauditas não estarão com certeza interessados em fazer um favor aos Estados Unidos e com ele contribuir para a o fim do regime de Vladimir Putin.