Foram cinco emissões portuguesas de dívida corporativa e soberana no espaço de 48 horas. Uma verdadeira avalanche. No total, foram colocados mais de 4,5 mil milhões de euros com diversas maturidades:Portugal (3.000 milhões), EDP (750 milhões), Fidelidade (500 milhões), Banco Montepio (250 milhões) e CUF (30 milhões).
A semana passada ficou marcada por ser a segunda semana do ano com mais emissões em mercado primário de dívida: 66 mil milhões emitidos, isto só nas operações em euros, superada apenas pela segunda semana de janeiro com 100 mil milhões. Isto inclui a Cellnex, BMW, Air France-KLM, Lufthansa, ou países como Espanha.
“Quem quer emitir, quererá emitir depois [da descida das taxas de juro], porque irá pagar menos”, afirma o consultor de investimentos Marco Silva.
No entanto, ressalva que o arranque no corte dos juros pelo Banco Central Europeu (BCE) em junho “já está incluído nas expetativas do mercado”.
“Os juros oferecidos já incluem um corte”, reforça.
O analista destaca que o “mais importante é a tendência, pois os juros colam-se às tendências: apesar de estarem agora nos 4%, não serão os 4% oferecidos se houver perspetivas de que o juro desça, e que daqui a dois ou três meses desça novamente. O mercado começa a ajustar e a oferecer menos. E o inverso também é verdade, assim que houver alguma indicação de que os juros podem não descer de novo ou virem a subir”.
Marco Silva sublinha que o “mais importante a ter em conta é que quem quis fazer investimentos em longo prazo em rendimento fixo, já passou o barco. E quem quer rever o seu credito a habitação ainda esta muito cedo para isso”.
“Estamos numa fase de inversão de sentimento e de fundamentos. Agora vai ser muito mais emissão a emissão, reunião a reunião e que os investidores vão agir. O tempo de marasmo acabou, de juros parados, agora terá haver mais flexibilidade”, concluiu.
Em termos de dívida corporativa foi a segunda semana com maior atividade na história da zona euro: 24 mil milhões em 33 operações, segundo Jesus Saez, líder da Natixis para a Ibéria, citado pelo “El Economista”.
Para o analista André Almeida, “este é um bom momento para emitir”, pois os “spreads de crédito, de maneira geral, têm-se reduzido na Europa, e Portugal não é exceção. Os custos de uma empresa a pagar acima de uma Euribor, são agora mais baixos do que há uns meses, o spread de crédito”.
O responsável pela sala de mercados do Banco Montepio destaca a janela de oportunidade que esta semana e a anterior representavam: “são duas semanas limpas sem grandes dados macroeconómicos. Na semana passada, a seguir à inflação dos EUA tivemos muitas emissões. Esta semana, por antecipação, pois amanhã [quinta-feira] há dados da atividade na Europa e EUA.
Depois, “em cima de bancos centrais não se emite. Nas primeiras semanas de junho vamos ter o banco central canadiano, o primeiro a tomar decisões entre os grandes bancos, BCE, Fed e na próxima semana há o Memorial Day nos Estados Unidos”.
“E após a apresentação dos resultados deste trimestre é sempre um momento em que se fazem muitas emissões, e na Europa e EUA, grande parte das empresas já divulgaram”, acrescentou.
“Estes dias foram uma janela muito importante. Houve emissões de países, emissões do sector financeiro, diferentes geografias, diferentes classes de risco e de dívida”, rematou André Almeida.