A Repsol está atenta às oportunidades nas energias renováveis em Portugal. A energética espanhola garante que tem em vista o leilão eólico offshore que deverá ser lançado no final deste ano e a energia solar fotovoltaica.
Em entrevista ao Jornal Económico, o chairman da empresa - o mais longevo da indústria petrolífera, há 19 anos no cargo - faz um ponto de situação do investimento da empresa em Portugal.
A jóia da coroa é o projeto Alba, um investimento de 657 milhões de euros no seu Complexo Industrial de Sines, o maior investimento industrial nos últimos 10 anos em Portugal. A empresa espanhola vai construir duas novas fábricas em Sines para produzir materiais poliméricos (plásticos) de alto valor acrescentado, 100% recicláveis para as indústrias automóvel, farmacêutica, agroalimentar e outras. As duas fábricas vão produzir polietileno linear e polipropileno e deverão entrar em operação em 2025.
A Repsol tem também a segunda maior rede de postos de combustível em Portugal (481), apenas superada pela Galp com 728. Já a BP surge na terceira posição, com 473 postos, num total de 3.216 existentes no país, segundo os dados da Apetro.
Na conversa que teve lugar na semana passada, à margem do Fórum Luso-Espanhol, em Lisboa, defendeu que Portugal e Espanha têm de estar mais unidos nos temas energéticos.
A Repsol tem um grande complexo em Sines. Está a fazer um grande investimento para o desenvolvimento deste complexo. O que esperam nos próximos anos de Sines e do seu contributo para o grupo Repsol?
O complexo químico de Sines é muito desenvolvido, onde são desenvolvidos produtos de alto nível. O que queremos? O sector químico vai ser muito importante na transição energética, basicamente tudo o que seja produzir produtos com menor peso significa maior eficiência energética. Sines vai cumprir o seu papel na cadeia de produção de plásticos, que são necessários para, entre outros, a indústria automóvel. Temos vindo a apostar em Sines nos últimos três/quatro anos. Acreditamos no sector químico e acreditamos em Sines.
Acreditamos em Sines
Este é um projeto para a Repsol manter-se em Sines durante muito anos?
Sim. O projeto anterior era mais pequeno, menos sofisticado, e com a atualização dá-se uma dimensão internacional e muito complementar com os outros projetos petroquímicos que a Repsol tem. E tem uma vantagem de estar muito integrado com a refinaria da Galp. É um projeto ganhador. A química também é um sector ganhador, com oscilações, com momentos mais sensíveis quando a economia não está tão bem e com momentos bons quando a economia tem capacidade de crescimento. Seja como for, o novo complexo de Sines destina-se à nova economia.
O novo complexo de Sines destina-se à nova economia
A Repsol está a investir no hidrogénio verde em Espanha. Há algo planeado para Portugal?
Ainda não. O hidrogénio verde é um projeto que está a nascer, as expectativas são enormes, mas, na realidade, são curtas. Teoricamente, é preciso desenvolver primeiro a tecnologia dos eletrolisadores, há que desenvolver energias renováveis em quantidades importantes, há que ter acesso a água para o processo de produção do hidrogénio, e há que pensar onde situar os eletrolisadores para que o consumo esteja próxima da produção. Senão, é preciso pensar em como transportar o hidrogénio com as diferentes formas como se pode fazer: amônia, metanol. Mas tudo está numa fase, a nível mundial, muito incipiente, há projetos para ver se se pode escalar, mas é evidente que o hidrogénio verde veio para ficar. Mas é uma realidade para os próximos 10 anos.
Hidrogénio verde é uma realidade para os próximos 10 anos
Portugal tem duas grandes frentes de renováveis agora: eólica offshore e energia solar. Repsol está interessada?
Sim. estamos interessados no desenvolvimento da energia renovável no geral. Portugal como Espanha, e a parte próxima, Extremadura, são grandes possibilitadores da produção solar. Estamos a estudar todas as oportunidades, mas obviamente que tem de fazer sentido económico. É este o cenário, também em Portugal. Também estamos presentes na eólica offshore.
Estamos a estudar todas as oportunidades, mas obviamente que têm de fazer sentido económico
A Repsol tem a segunda maior cadeia de postos de combustível em Portugal, querem crescer?
Portugal e Espanha têm de ser iguais, em termos de quota de mercado, de introdução de energias renováveis nos seus clientes, em termos de biocombustíveis/combustíveis sintéticos, queremos crescer, sem dúvida. Há uma fronteira, mas este é um mercado único. O nosso objetivo é crescimento, uma empresa tem de continuar sempre a crescer. Sines é um exemplo, a expansão que estamos a fazer; a comercialização de eletricidade é outro exemplo; os biocombustíveis é outro exemplo. Oportunidades há muitas.
O nosso objetivo é o crescimento, uma empresa tem de continuar sempre a crescer
É importante Portugal e Espanha estarem juntos no processo de transição energética?
Este encontro [Fórum Luso-Espanhol para a Descarbonização] pretende sensibilizar para a importância de Portugal e Espanha estarem juntos para terem um papel de protagonistas na Europa. Temos uma desvantagem: estamos no sul ocidental da Europa e separados por uma montanha, os Pirinéus, e por França, que é um país complexo e que tem todo o seu direito a ter as suas próprias estratégias energéticas. E por uma política europeia que fracassou na criação do mercado único de energia, não é verdade que haja um mercado, cada país tem o seu próprio singularidades. Quando estás no centro da Europa, preocupas-te menos com isto, mas quando estás separado por um muro enorme, os Pirinéus, isolado, convertido numa ilha, tens de procurar fazer a tua própria expansão para te tornares competitivo, não só para benefício da Península Ibérica, mas para o bem da Europa. É isto que a Europa tem de entender. E obviamente unir forças para fazer muito mais. Quando os líderes de Portugal e Espanha discutiram com o presidente francês a possibilidade de criar um gasoduto para levar o hidrogénio da Ibéria para a Europa, esta era uma discussão conjunta. É verdade que Portugal e Espanha tem muito mais força discutindo em conjunto.
Portugal e Espanha tem muito mais força discutindo em conjunto