O palhete é uma referência para quem aprecia o vinho português, tendo inclusivamente sido o motivo para uma das mais célebres ‘cenas’ do cinema português, interpretado pelo incontornável Vasco Santana. “Não é milagre, é palhete”, concluía o bem humorado ator no Pátio das Cantigas. É preciso aqui explicar que o palhete foi uma tendência muito em voga por todo o nosso país vitivinícola no século passado. No entanto, misturar vinho tinto com vinho branco - é isso que, em base, é o palhete - foi perdendo terreno para novas tendências e preferências.
Nos últimos anos, têm surgido alguns produtores, em diversas regiões, apostados em recuperar esta tradição, o que, se não é um milagre, lá está, só pode ser palhete... Vem isto a propósito da Quinta da Ramalhosa, pequeno produtor independente do Dão (Besteiros, Viseu), ter muito recentemente apresentado o seu Palhete 2019. O jovem produtor Micael Batista, aliado à experiência da enóloga Patrícia Santos, lançaram-se neste trilho, por terem a vontade de recriar os vinhos feitos pelo avô de Micael, no mesmo lagar de pedra que ainda hoje é utilizado.
“Este palhete é um vinho que, além de homenagear o avô Adriano, conta a história da vida e do vinho do Dão de outros tempos. Ali não se faziam brancos, e os tintos queriam-se prontos para beber cedo. Em março, com a chegada da primavera, começava-se a consumir o vinho novo, que estava já pronto a beber, sem taninos duros e com cores claras e apelativas. Eram os chamados ‘rosados do Dão’. Tal como agora, as uvas tintas e brancas eram pisadas no lagar, dando origem a um vinho aberto, leve e aromático, feito a partir do blend da vinha, com cerca de 15% de uva branca, o que equilibra a acidez, confere um paladar suave, e surpreende à mesa”, destaca uma nota da Quinta da Ramalhosa.