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“Queremos ser o número um mundial de vigilância marítima até 2024”

A Tekever vende tecnologia de drones portuguesa, pensada e desenvolvida dentro de portas. Quer liderar o mercado mundial em três anos. Mas nesta área não fatura um único euro em Portugal.

É a empresa número um da europa em vigilância marítima com drones. Quer ser a líder mundial nesta área no espaço de três anos e ainda esta semana assinou mais um contrato multimilionário com a Agência Europeia de Segurança Marítima (EMSA). A Tekever tem capital português e tecnologia desenvolvida por engenheiros portugueses, mas na área que representa 80% das suas receitas, a dos drones, não fatura um único euro em território nacional.
“A nossa faturação na área dos drones ou do espaço em Portugal é zero. É zero este ano, foi zero no ano passado, foi zero no ano anterior”, diz ao Jornal Económico Ricardo Mendes, CEO da Tekever.
“Não lhe vou dizer quais são as razões para isto. O que posso dizer é que em Portugal existem vários projetos piloto e várias tentativas de fazer sistemas de vigilância dos mais variados tipos, utilizando drones. Nós estamos disponíveis para ajudar. Nós fazemos isto para os países mais avançados da Europa nesta área e estamos aqui. Mas, de facto, não conseguimos ainda encontrar a conjugação de oportunidades que faça com que se montem projetos em que nós acreditemos”, refere.
Na Europa, os drones da Tekever já cumprem missões em países como Espanha, França, Itália – à boleia de um contrato com a Agência de Segurança Marítima Europeia – e no Reino Unido, onde por exemplo já fazem toda a vigilância do Canal da Mancha. Pelo menos são estas as localizações que a empresa pode divulgar.
“Nós somos o número um do ponto de vista do mercado na Europa. Em volume, número de horas, euros [faturados]. Escolha o indicador que quiser, somos o número um. Depois fora da Europa também temos outros projetos, país a país, alguns dos quais já se pode referir e outros que não podemos porque ainda estão sob sigilo”.
Essencialmente são áreas com uma enorme necessidade de vigilância marítima – onde existe muita pirataria, pesca ilegal, tráfico de pessoas, drogas ou armas ou porque morre muita gente no mar. “Estamos a falar de zonas como o Golfo da Guiné, do Corno de África e do estreito de Malaca. São as zonas mais quentes do mundo do ponto de vista desses problemas”.
A empresa regista resultados anuais na casa dos 20 milhões de euros, dos quais 75% – e este ano 80% – na área dos drones. E com a faturação a crescer 50% ao ano desde 2019.
“Já é um negócio bastante consolidado, mas que para nós está só na infância. O nosso objetivo é claríssimo: nós queremos ser o número 1 mundial nos próximos três anos na área de vigilância marítima. É absolutamente claro”, diz Ricardo Mendes. E isso passa por conquistar o mercado americano.
E, curiosamente, a Tekever quer conquistar o mercado americano usando as mesmas ideias com que “vende” o serviço a países com menos recursos. “As grandes potências mundiais a nível militar já têm há muito tempo as capacidades proporcionadas pelos nossos equipamentos. Mas para os países mais pequenos, na Europa ou fora, não é fácil obter as informações que a nossa tecnologia oferece sem ter áreas inteiras das suas forças armadas ligadas a isto”.
O que a Tekever está a fazer é oferecer esta capacidade como um serviço, chave na mão, em que os ativos são da empresa: tanto os drones como as equipas são da Tekever. “E aquilo que entregamos ao cliente final é a informação mais ou menos processada, de acordo com o que cliente quer”.
Mas os Estados Unidos são uma grande potência económica e militar, por que razão precisariam deste serviço? O que a empresa portuguesa está a fazer – em conjunto com parceiros legais – é encarar cada uma das múltiplas agências federais ou estatais norte-americanas como se fosse um pequeno país.
“Existe um mercado tremendo. Muitas agências destas – quer a nível estatal quer a nível federal – que também não têm o orçamento e a capacidade que têm as grandes agências militares – a US Navy, o US Army e a US Air Force – e têm problemas de natureza semelhante àquilo que têm os países europeus ou outros países no mundo: precisam de um serviço que seja simples de adotar, que lhes dê a eficiência que eles precisam”. E para amanhã, não para estar a desenvolver nos próximos dez anos.
Ricardo Mendes acredita que o futuro passa mesmo por aqui. “Cada vez mais a solução ‘as a service’ vai ser aquilo que o mercado procura. No mercado das grandes potências vai sempre haver o caso em que os militares vão querer ter o ativo para não terem de depender de uma empresa. Mas todas as outras entidades vão quer apenas o serviço”.

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