A earnings season prossegue esta semana com a apresentação dos relatórios financeiros das maiores empresas de tecnologia do mundo: Amazon, Apple, Meta (Facebook) e Microsoft. A dona do iPhone e do MacBook é uma às quais os investidores estarão mais atentos, à medida que está a intensificar a diversificação da cadeia de abastecimento e a reduzir cada vez mais a dependência da China.
A Apple pretende mesmo que as baterias do próximo iPhone (16) sejam produzidas na Índia e, de acordo com o “Financial Times”, não só transmitiu aos fornecedores de componentes essa preferência como os incentivou – pelo menos, à Desay of China – a abrir mais fábricas em território indiano.
O analista Vítor Madeira diz, ao Jornal Económico (JE), que será positivo se conseguir manter o nível de qualidade e garantir uma redução dos custos. “Esta decisão estratégica parece ser, em primeira instância, uma questão de guerra comercial entre China e EUA. No entanto, existem outras localizações que têm feito concorrência direta à China, como o caso de Taiwan, Vietname e Índia”, começa por explicar o analista da XTB.
“Além disso, o forte abrandamento macroeconómico na China, principalmente dos consumidores, também pode ter impacto na decisão, já que a empresa tem reduzido os preços na China para escoar a produção. Portanto, o facto de os custos não serem tão competitivos e de o país também já não ter a procura interna desejada parecem ser as razões plausíveis desta mudança”, sublinha.
Certo é que este mês foi repleto de descontos da Apple na China, para tentar dar resposta à concorrência e escassez na procura, que é comum a outros bens de consumo neste sector. Nas promoções antes do Ano Novo Lunar, tanto no site oficial como em plataformas de e-commerce (Pinduoduo, por exemplo) os descontos chegaram os 70 dólares.
A última gama de smartphones da marca da maçã - iPhone 15, iPhone 15 Plus, iPhone 15 Pro e iPhone 15 Pro Max - que foi lançada em setembro foi produzida na Índia e na China em fábricas geridas pelas taiwanesas Foxconn, Pegatron e Wistron. A Foxconn, o maior fornecedor da Apple, vai mesmo investir mais de 1,5 mil milhões de dólares (1,4 mil milhões de euros) numa unidade de produção nova na Índia.
“A Índia parece estar a fazer um esforço acrescido para atrair investimento estrangeiro, assumindo um plano de forte crescimento para os próximos anos. Os custos operacionais na Índia também são baixos, o que pode melhorar as margens da empresa, reduzindo os custos de produção. Se a isto adicionarmos a possibilidade de o governo indiano poder vir a reduzir os impostos para a empresa, este pode ser um destino bastante apetecível para a Apple”, assinala o trader da XTB.
Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, destaca que o valor de mercado da Apple é atualmente 48 vezes superior ao valor dos seus capitais próprios no balanço, portanto tem um património 48 vezes mais baixo do que a capitalização de mercado. Porém, “a sua capacidade de gerar dinheiro é extraordinária, entregando quase 100 mil milhões de dólares de lucros anuais”, realça num artigo enviado ao JE.
Em Wall Street, os títulos da Apple terminaram a semana com um deslize de 0,90% para 192,43 dólares, em linha com o encarnado do Nasdaq. Segundo Vítor Madeira, a performance em bolsa tem sido fraca neste início de 2024 e pode estar a evoluir de empresa de crescimento a uma empresa de valor.
“As ações têm perdido valor e os seus resultados também têm mostrado sinais de alguma deterioração, pois as suas vendas não conseguem subir há quatro trimestres consecutivos e os seus lucros antes de imposto também não conseguem atingir os níveis do final de 2021”, assinala.
Inteligência, saúde e trabalho são a tríade necessária para a empresa, na opinião de Paulo Rosa. “A Apple tem de manter as capacidades de um jovem rapaz sem bens, mas saudável, inteligente e trabalhador, para conseguir pagar aos investidores que compram diariamente o seu market cap relativamente elevado. A Apple deve manter ativo o seu extraordinário cash cow, mas novos mercados escasseiam, depois da Europa, EUA, China, o mercado indiano tende a amadurecer rapidamente nos próximos anos”, conclui.
Apesar de a Apple ter conseguido liderar a venda de smartphones na China em 2023, de acordo com os dados da consultora IDC, divide o pódio com a Honor e a Oppo, a uma curta distância na quota de mercado. Por outro lado, as vendas chinesas do iPhone caíram 30% só na primeira semana deste ano, confirmaram analistas da Jefferies.