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PP vence eleições em Espanha mas direita falha maioria absoluta

De surpresa em surpresa, a noite eleitoral lançou o país no limbo da instabilidade. Ninguém ficará admirado se os espanhóis forem chamados às urnas em poucas semanas. Até lá, o PP tentará ser alternativa ao PSOE – mas nem disso há certeza.

A vitória do Partido Popular (PP) nas eleições espanholas deste domingo não merece nenhuma contestação mas, a partir daí está tudo em aberto. Desde logo porque a maioria absoluta da direita entre os populares e a extrema-direita do Vox não se verificou – ficou aliás bem longe, 169 lugares nas Cortes em vez das necessárias 176). Alberto Núñes Feijóo bem disse no discurso de vitória que não quer abrir um período de incerteza e que está preparado para liderar o próximo executivo.

“Com humildade e determinação, iniciarei o diálogo para formar governo”, disse, na tentativa de retirar ao socialista Pedro Sánchez qualquer veleidade de pretender manter-se na liderança do governo. Feijóo pediu diretamente a Sánchez que aceite um governo do PP: “Não há nenhum presidente do governo de Espanha que tenha governado tendo perdido eleições”, disse.

Mas o presidente do PP sabe que há sempre uma primeira vez – como os portugueses também já descobriram. Sánchez, que discursou antes de Feijóo, deu a entender que não coloca de parte a possibilidade de juntar no bolso, como tem feito nos últimos anos, a aliança com o Sumar e com os independentistas e propor a Filipe VI manter tudo na mesa. O Sumar está disponível, já se sabia, assim como os independentistas da Catalunha e do País Basco – com o caderno de encargos que está sempre associado ao seu apoio. O analista Francisco Seixas da Costa não acredita que Sánchez venha a permitir que a ‘solução PP’ avance em Espanha.

No final, se nada funcionar, é possível que os espanhóis sejam novamente chamados a novas eleições antecipadas dentro de algumas semanas. De qualquer modo, para já, Feijóo tem uma semana difícil: terá de ir bater à porta do PSOE antes de pensar em qualquer outra coisa.

 

Derrotas

Para todos os efeitos, o Vox acaba por ser o grande derrotado da noite: de elemento fundamental para a nova maioria absoluta passou a um partido extremista que perdeu mais de um quatro da tração entre os espanhóis e que não importa nada para a geometria política das próximas semanas. Feijóo afastou-se de tal modo do Vox, que é bem possível que os extremistas venham a votar contra uma proposta de governo dos populares, juntando-se assim, com certeza, aos socialistas.

O Sumar, apesar de tudo, também não esteve bem. Não chegou aos 35 deputados que o Podemos tinha desde 2019 (ficou nos 31), mas principalmente não conseguiu ser a terceira maior formação de Espanha, mantendo-se atrás do Vox.

Ao longo da noite, quem desconhecesse os números das eleições mas ouvisse o que as televisões debitavam, ficaria facilmente com a sensação de que o PSOE é um dos vencedores da noite – até porque aumentou o número de deputados em relação a 2019. Mas não: os socialistas perderam as eleições deste domingo, ao passarem de maior força política do país para o segundo lugar, atrás dos populares.

Os independentistas da Catalunha, especialmente a Esquerda Republicana da Catalunha, são também fortes derrotados. Ambos os partidos, a ERC e o Junts (de Carles Puigdemont) perderam representatividade: o ERC perdeu seis deputados (ficou com sete), os mesmos que o Junts (que perderam um).

 

Vitórias

Para além do PP, o único partido que pode estar contente com as eleições deste domingo é, inesperadamente, o Bildu, que passou de cinco para seis deputados. Isto apesar de ter sido um dos focos ao longo de toda a campanha eleitoral ao ser acusada de ter aberto ‘a caixa de pandora’ da aliança entre os extremismos e os partidos moderados.