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Paulo Macedo: "Subida do preço do imobiliário ajudou a mitigar incumprimento do crédito à habitação"

Caixa Geral de Depósitos divulgou na sexta-feira um resultado histórico de 608 milhões de euros no primeiro semestre, mais 25% que no mesmo período do ano passado, devido à forte subida (127%) da margem financeira, com a escalada das taxas de juro.

O CEO da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Paulo Macedo, defendeu na passada sexta-feira que a atual situação que faz com que muitas famílias tenham dificuldades em pagar os créditos, devido à subida das taxas de juro, é diferente de outras do passado, na medida em que a subida dos preços do imobiliário permitem que muitos desses clientes vendam as suas casas e ainda façam algum lucro.

"A subida do preço do imobiliário ajudou a mitigar o incumprimento do crédito à habitação.  A casa em média vale mais que o empréstimo (...). Sabemos que algumas famílias têm dificuldades, mas ao contrário das anteriores crises conseguem vender a casa, pagar ao banco e ficarem ainda com algum dinheiro", disse o presidente do maior banco português.

"Não temos uma única casa entregue desde a subida dos juros. Algumas casas que a CGD tem são executadas em processos judiciais antes da pandemia, e são 12", disse o CEO, acrescentando que a mitigar o incumprimento no crédito estão ainda os bons níveis de poupança.

Estas declarações foram feitas na conferência de apresentação de resultados semestrais do banco público, que teve lugar na passada sexta-feira, dia em que apresentou um resultado líquido de 608 milhões de euros, mais 25% que no período homólogo,  "evidenciando a consolidação dos resultados dos últimos anos e o cenário atual de subida de taxa de juro".

Na conta de resultados, a estrela foi (sem surpresa) a receita de juros. A margem financeira consolidada aumentou 127,7% (738 milhões) para um total de 1.316 milhões de euros “devido essencialmente ao contributo da atividade em Portugal [em Portugal a receita da margem cresceu num ano 716,7 milhões] reflexo de dois efeitos, o impacto da subida das taxas de juro nas operações de retalho, repartido entre o segmento de clientes particulares (+270 milhões de euros) e empresas e outros clientes (+148 milhões de euros); e o contributo da atividade de tesouraria”, refere o banco.

A CGD reportou 404 milhões de euros de margem financeira na atividade doméstica de retalho de particulares no primeiro semestre; 311 milhões no Retalho – Empresas e (também na atividade doméstica); 260 milhões de receita de juros gerada pela atividade internacional; e 258 milhões com a aplicação de depósitos junto do Banco Central Europeu (BCE). Para além de haver 82 milhões gerados pela carteira de títulos em Portugal (Tesouraria e outros).

As comissões deram 289 milhões aos resultados líquidos, menos 15 milhões que no período homólogo.

"A CGD baixou a nível de receitas em comissões e isso vai continuar a acontecer", anunciou o CEO da CGD que disse ainda que "temos hoje uma série de isenções de comissões relativamente às transferências de crédito que não existiam e outras comissões do crédito que acabaram por via legislativa, mas que são um menor encargo para as famílias".

O banco destacou que, ainda ao nível do Produto Bancário, os resultados de operações financeiras somaram 152 milhões, o que traduz uma subida de 77 milhões gerada por uma operação one-off, que foi a venda de ativos do extinto Fundo de Pensões que deu 80 milhões ao resultado.

Depois, no lado dos custos, verificou-se um aumento anual de 65 milhões para 556 milhões de euros (um aumento de 13,3%).

As provisões e imparidades para riscos de crédito foram reforçadas em 298 milhões de euros, o que "reflete abordagem preventiva", diz a CGD.

O custo do risco de crédito piorou desde dezembro (quando era -0,01%) para 0,40% e segundo o banco, "o custo de risco de crédito reflete a posição conservadora e preventiva".

O banco reportou ainda 137 milhões de outras provisões e imparidades, que são explicadas maioritariamente pela provisão dos custos do programa de reestruturação.

"A provisão não é para rescisões é para pré-reformas", disse Paulo Macedo sobre os 137 milhões de euros de provisões que não são para crédito e que estão registadas nas contas do primeiro semestre. "Todos os anos a CGD tem 400 pessoas que pedem para sair, ou seja, que pedem a pré-reforma (55 anos e 60 anos)", lembrou o CEO.

"Os resultados do primeiro semestre são um marco histórico para a Caixa, porque o somatório dos resultados desde a recapitalização conseguem superar os prejuízos acumulados entre 2001 e 2016".

A média da Rendibilidade dos Capitais Próprios (ROE) da última década atinge 0,9% e no período após a recapitalização em 2017 sobe para 7,7%, salientou o banco.

"Há uma guerra entre bancos pelos depósitos"

A CGD continua a liderar o mercado em termos de depósitos captados aos particulares, com uma quota de 31%, e no crédito à habitação com uma quota de 23%.

Apesar da Caixa manter a sua posição de liderança também  nos depósitos totais de clientes, com uma quota de 23%, verificou-se uma queda no semestre. Os depósitos de clientes alcançaram 79 mil milhões de euros a nível consolidado e 69 mil milhões na atividade doméstica. No mercado nacional, os depósitos de clientes diminuíram 3.763 milhões de euros (-5,2%) face a dezembro de 2022.

O total de recursos de clientes na atividade consolidada ascendeu a 93.463 milhões de euros em junho de 2023, o que representou uma diminuição de 4,9% face a dezembro do ano anterior. O decréscimo justifica-se essencialmente pela evolução dos depósitos da atividade doméstica.

"Há uma saída de depósitos, em parte para amortizações e em parte para reembolsos antecipados do crédito", reconheceu Paulo Macedo. Mas em junho já houve uma "inversão desta tendência", e os depósitos retomaram o crescimento no mês de junho.

Antes entravam na CGD 5.000 milhões em depósitos todos os anos (durante três anos seguidos), lembrou Paulo Macedo.

Entre fevereiro e junho houve muitas movimentações de depósitos dos bancos. "Temos bancos que dão 2,75% como a CGD e há taxas negociadas, para além dos preçários. Quer para particulares, quer para empresas", referiu o CEO.

Paulo Macedo foi questionado sobre como travar a fuga dos depósitos e respondeu que "a primeira coisa a fazer é tornar a rentabilidade dos depósitos mais interessante e seguros para os clientes".

Toda a banca se esforçou para dar melhores taxas nos depósitos. "Nos juros de depósitos há claramente uma guerra entre bancos, uma disputa enorme", sublinhou Paulo Macedo.

"Compete-nos ter uma oferta atrativa e mais do que os depósitos estamos muitos interessados nos recursos totais de clientes e nas ofertas que podemos fazer de um conjunto de instrumentos de poupança. Porque há sempre ativos alternativos para a poupança", refere o CEO.

"A diversificação é aconselhada. Ainda bem que há transferência de investimentos. Tenho pena até de não termos um mercado de capitais mais pujante," defende o presidente executivo do banco. "O que eu posso dizer é que os depósitos estiveram a cair enquanto não houve aumento das taxas de juros dos depósitos a prazo. Mas também começaram a subir quando houve uma menor remuneração dos Certificados de Aforro", disse Paulo Macedo. Sobre isto deixou uma pergunta: "Quanto é que o Estado está hoje a pagar nas OT a 10 anos? Está a pagar 3,15%, abaixo de Itália, Grécia e Espanha".

Crédito reduz 0,8%

Não é só nos depósitos que há uma guerra entre bancos, na opinião de Paulo Macedo. "Não temos nenhum interesse em reduzir a dimensão e por isso é que há uma guerra no crédito", revela o banqueiro.

O CEO da Caixa Geral de Depósitos defende a redução da atual taxa de stress de 3% que agrava as taxas de esforço, e que o Banco de Portugal já admitiu reduzir. Esta medida macroprudencial tem levado a que muitos empréstimos habitação sejam recusados.

No primeiro semestre a carteira de Crédito a Clientes (consolidado) caiu 0,8% face a 31 de dezembro de 2022, para um montante de 52.610 milhões de euros.

Em Portugal o crédito a clientes caiu 0,3% para 45.417 milhões no banco que é líder de mercado com uma quota de 18%.  Esta queda não se deve ao crédito a empresas, já que este (Crédito a Empresas e Setor Público, Doméstico) subiu 1,9% nos seis meses para 19.894 milhões.

Em Portugal o Crédito à Habitação recuou -2,1% para 24.466 milhões de euros. "Numa conjuntura de queda da procura de crédito", destaca o banco.

"Há um aumento dos indexantes, mas também há uma redução dos spreads. Temos assistido a uma redução spreads", referiu Paulo Macedo quando questionado sobre o agravamento do custo do crédito para as famílias.

"As famílias e empresas estão menos endividadas e isso tem impacto na dimensão da carteira de crédito dos bancos", considerou o banqueiro.

O CEO da CGD destacou também que a carteira de crédito reduziu também por causa das amortizações antecipadas" e defendeu que "a carteira de crédito aumentará com a dimensão da economia".

Paulo Macedo lembrou que a carteira de crédito diminui "também porque os bancos venderam carteiras grandes de malparado".

A CGD viu o volume dos créditos non-performing (NPL) cair 3,8% para 1.783 milhões de euros, por via das curas e recuperações, das vendas e dos write-offs "que têm conseguido superar o nível dos inflows".

O rácio de crédito malparado piorou face a dezembro (de 2,43% para 2,48%) por causa da redução da carteira de crédito.

Apesar de crédito em cumprimento (Stage 1) ter registado uma queda de -0,52 pontos percentuais face a dezembro e de o crédito Stage 2, sem incumprimento, mas em que foram identificados critérios de degradação significativa do risco de crédito, ter subido 0,63 pp face a dezembro, o crédito em Stage 1 continua a representar mais de 88% da carteira de crédito no grupo CGD (e também na Caixa em Portugal). Em 2022 o crédito em Stage 1 representava 89,3%.