A economia norte-americana tem conseguido manter-se mais forte e produtiva do que a europeia dada a sua maior flexibilidade, argumentou o presidente da Reserva Federal, lembrando as sucessivas décadas de produtividade nos EUA bem acima da registada no Velho Continente. Jerome Powell procurou ainda reforçar a importância de manter os dados dos preços e do mercado laboral sob vigilância, sublinhando os riscos de manter os juros em níveis elevados por demasiado tempo.
No primeiro de dois dias da audição semestral do presidente da Fed no Senado norte-americano, o líder da autoridade monetária norte-americana lembrou as diferenças entre a economia norte-americana e a europeia para justificar a maior resistência e vitalidade nos EUA, algo bastante visível durante e após a pandemia.
“A Europa tem registado aumentos de produtividade, em média, de 1% por ano há 40 anos; nos EUA tem sido de 2%”, lembrou, considerando que, após aplicar estes crescimentos, a “diferença é enorme”. A grande razão por detrás desta dinâmica, continuou, é a maior flexibilidade da economia americana.
“Temos um mercado laboral mais flexível. Na pandemia, as pessoas mantiveram os seus postos de trabalho [na Europa]; nos EUA, mudaram a níveis recorde”, apontou. Outro fator determinante é o mercado de capitais, que “financia fases iniciais” de pesquisa e inovação empresarial, algo mais difícil na UE.
“Conseguimos crescer mais depressa” dada esta dinâmica, considerou Powell perante os senadores.
Do lado dos juros, o líder da Fed manteve largamente o discurso que já tinha tido em Sintra, no Fórum do Banco Central Europeu (BCE), procurando afastar-se de quaisquer compromissos com a evolução das taxas diretoras.
“Dado o progresso que fizemos nos últimos dois anos em abrandar a inflação e arrefecer o mercado laboral, uma inflação elevada não é o único risco que corremos”, relembrou aos senadores, apesar de reconhecer que a economia norte-americana continua forte. Os riscos estão agora mais equilibrados, mas “baixar taxas cedo ou tarde demais pode enfraquecer o crescimento ou o emprego”.
Apesar da tentativa de “evitar mandar sinais específicos” quanto ao rumo da política monetária, Powell admitiu que é improvável que a próxima mexida seja uma subida.
“A direção mais provável parece ser, à medida que fazemos mais progresso na inflação e o mercado laboral permanece forte, que comecemos a aliviar a política no momento certo”, afirmou.
Os juros de referência nos EUA estão entre 5,25% e 5,5%, um máximo de 23 anos após onze subidas consecutivas. Os mercados apostam numa descida de juros já em setembro e mais uma até ao final do ano, embora as projeções mais recentes dos membros da Fed antecipem apenas um corte.
O índice de gastos pessoais de consumo (PCE), a medida preferencial da Fed para avaliar a pressão nos preços, desceu em maio para 2,6% depois de duas leituras consecutivas em 2,7%. No pico do fenómeno inflacionista, o indicador chegou a 7,1%.
Imobiliário abranda, mas ainda não preocupa
O sector imobiliário, um dos mais sensíveis a crises nos EUA, tem vindo a abrandar em linha com a subida dos juros, uma situação que tem gerado alguma apreensão nos mercados e entre os decisores políticos norte-americanos. Perante a preocupação dos senadores, Powell admitiu que o efeito do aperto monetário se está a sentir.
“Relativamente à oferta imobiliária, o melhor que podemos fazer é dominar a inflação para que possamos baixar taxas, normalizá-las e ter um mercado imobiliário mais normalizado”, projetou, embora reconhecendo que os efeitos se deverão sentir por anos. Ainda assim, a Fed acredita que o sistema bancário está precavido contra esta possibilidade.
“Cabe aos bancos avaliarem o seu risco honestamente. Têm de ter a segurança que têm capital, liquidez e os sistemas adequados para lidarem com este risco”, advertiu.