O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, costuma ser o ‘desmancha-prazeres, das cimeiras da NATO quando a questão é o apoio da aliança à Ucrânia – mas desta vez esse papel parece estar reservado a Peter Pellegrini, o presidente da Eslováquia desde o mês passado. À chegada a Washington, onde se realiza a cimeira que marca os 75 anos da NATO, Pellegrini terá manifestado reservas – as mesmas que a Hungria já levantou – a uma entrada apressada da Ucrânia na organização.
"Qualquer país, que tenha o direito de determinar o seu futuro e solicitar a adesão a qualquer organização, deve entender que a decisão sobre sua admissão dependerá dos membros dessa organização", disse Peter Pellegrini. Nesse contexto, o presidente da eslovaco – conhecido por ser pró-russo, tal como o primeiro-ministro, Robert Fico, seu apoiante - recentemente vítima de uma tentativa de assassinato –, é de opinião que a Ucrânia não deve contar com um “livre-passe” para entrar na NATO.
"Vamos insistir que o parágrafo sobre esta questão mencione que a admissão à NATO depende de certos termos e que os países da aliança concordam com isso. Este documento não será um livre-passe’", disse, citado pelos jornais, fonte do gabinete do presidente eslovaco à chegada à capital norte-americana.
O coordenador do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos para Comunicações Estratégicas, John Kirby, já havia dito que a potencial adesão da Ucrânia à NATO exigiria muito trabalho e levaria tempo para que os Estados-membros chegassem a um consenso. A regra imposta por Joe Biden é, de qualquer modo, que um país em guerra não pode entrar na NATO enquanto o conflito estiver ativo. O que não quer dizer, como o presidente dos Estados Unidos não se cansa de referir, que a NATO não coloque à disposição dos ucranianos todo o seu arsenal.
Recorde-se que desde a cimeira da NATO em Bruxelas em junho de 2021, Ucrânia e Geórgia podem contar com a admissão na aliança no futuro. Na altura, a Rússia rejeitou veementemente a ideia de uma expansão da NATO para o leste – e para muitos observadores essa decisão ajudou a precipitar a invasão que aconteceu pouco mais de meio ano depois.
Costumeiramente pouco preocupado em alinhar com a agenda da NATO, o presidente da Turquia, Recep Erdogan disse que colocará a guerra na Palestina em cima da mesa da cimeira. O presidente é a favor da reintegração das terras palestinianas ocupadas por Israel e considera o Hamas um dos legítimos representantes do povo palestiniano.
"No momento em que a sinceridade de nossos valores comuns for testada, traremos o massacre em curso contra o povo palestiniano em Gaza para os holofotes da cimeira. Salientaremos que a comunidade internacional não conseguiu deter Israel nesta terrível situação, e é impossível que a consciência global seja aliviada sem o estabelecimento de uma paz justa e permanente na Palestina. Vou levantar esta questão ao mais alto nível e transmitir a nossa avaliação da questão aos nossos homólogos em conversações bilaterais", disse Erdogan.
Oficialmente, o tema mais importante é ainda a Ucrânia – dado que o apoio ao país invadido pela Rússia é a melhor explicação para a sua própria existência. O secretário-geral, Jens Stoltenberg – que está de saída – antecipou a cimeira sublinhando que o apoio à Ucrânia será a "tarefa mais urgente" da NATO. "Espero que os chefes de Estado e de Governo cheguem a acordo sobre um pacote substancial para a Ucrânia", disse Stoltenberg. "A NATO assumirá a coordenação e a prestação da maior parte da assistência de segurança internacional", com um comando liderado por um general de três estrelas e várias centenas de funcionários trabalhando na sede da NATO na Alemanha e em polos logísticos na parte oriental da Aliança”, disse, citado por comunicado oficial da organização.
Stoltenberg acrescentou que os aliados concordarão com um compromisso financeiro para a Ucrânia e que também espera um apoio militar mais imediato à Ucrânia. Mais acordos bilaterais de segurança e trabalho no aprofundamento da interoperabilidade militar, fazem também parte da agenda comum. O secretário-geral disse que todos estes elementos "constituem uma ponte para a adesão à NATO e um pacote muito forte para a Ucrânia na cimeira", acrescentando: "A Ucrânia está a aproximar-se da NATO".
"A dissuasão e a defesa serão outro tópico importante para a nossa cimeira", disse Stoltenberg, afirmando que a NATO foi-se transformando na última década, o que inclui 500 mil soldados em alta prontidão, capacidades melhoradas, grupos de batalha prontos para o combate e a adesão de novos membros. Na cimeira, os aliados deverão subscrever a promessa de reforçar a cooperação industrial de defesa transatlântica, a fim de aumentar a produção. E acrescentou que a NATO aumentará ainda mais as defesas contra mísseis balísticos com uma nova base Aegis Ashore na Polónia. O secretário-geral congratulou-se com o facto de 23 Aliados estarem agora a gastar pelo menos 2% do seu PIB em defesa.
As parcerias globais serão o terceiro tema da cimeira. O secretário-geral convidou os líderes da Austrália, Japão, Nova Zelândia e Coreia do Sul para a estarem presentes nos trabalhos “para aprofundarem ainda mais a cooperação, incluindo sobre o apoio à Ucrânia, cibersegurança e novas tecnologias”. "Quanto mais próximos os atores autoritários se alinham, mais importante é que trabalhemos em estreita colaboração com os nossos amigos no Indo-Pacífico", disse, referindo-se à China – que a organizações isolou há um par de anos como ‘o’ inimigo a longo prazo. Na ótica da NATO, haver ‘um’ inimigo é fundamental – se não houver um, a organização deixa de ter razão para existir.